Depois de algumas semanas a tia Selene faleceu, minha família toda foi ao funeral, quando vi o estado da Kathryn não consegui conter as lagrimas, ela estava pálida, com o rosto encharcado de lagrimas olhando para o caixão de sua mãe sem emitir nenhum som, seu olhar estava tão perdido como se tivessem roubado sua alma, não consegui suportar ver o sofrimento dela, a abracei tão profundamente, afundando a cabeça dela no meu peito, passei o outro braço segurando toda a extensão de suas costas com força e disse: “Kathryn, eu sinto muito, eu sinto muito mesmo”.
Ela levantou a cabeça do meu peito, me olhou com tanta dor em meio a lágrimas e me disse: “Tudo que me restou da minha mãe agora são nossas lembranças, nós tínhamos tantos planos e muitas coisas que combinamos de fazer e agora acabou, eu nunca mais vou ouvir a voz dela, nunca mais vou ouvir sua risada, nunca mais vou compartilhar meus dias com ela, nós nunca mais vamos cantar juntas e conversar sobre nossas músicas favoritas, acabou, tudo acabou, eu não consigo suportar”.
Após me dizer essas palavras, ela caiu nos meus braços e chorou em soluços com profunda agonia por mais de uma hora, não conseguia assistir à angústia dela e chorei junto, nunca pensei que amar alguém pudesse me fazer sentir tanta dor por presenciar o sofrimento que ela estava sentindo, aquilo era dilacerante para mim, imagino como foi para ela e mesmo que se passem anos desse dia, nunca conseguirei esquecer cada palavra que ela disse, o choro e o sofrimento dela ficaram gravados em mim.
Alguns dias após o funeral, entramos em férias de verão, fiquei dois meses sem ver a Kathryn, mandei inúmeras mensagens, mas ela nunca respondeu, consegui o contato do Chand, perguntei sobre ela, mas nem ele tinha conseguido ver ou falar com ela, ninguém tinha notícias dela.
O quintal da casa da Kathryn fazia fundos com a floresta, me transformava em meu lobo e ficava na floresta próximo ao seu quintal, olhando para as portas francesas da sacada do quarto da Kathryn, mas as luzes sempre estavam apagadas, fiz isso tantas vezes naqueles dois meses, mas ainda as luzes do quarto dela nunca se acenderam não importava a hora que eu estivesse lá olhando, meu desespero foi tão grande que uma noite invadi o quintal, escalei até a sacada e olhei para dentro do quarto dela, mas ela não estava lá.
Fui tomado por um pânico, comecei a pensar que ela havia se mudado para a casa de algum parente fora da matilha e que não a veria mais. No ápice do meu desespero pedi para minha mãe ligar para o tio Badar, pai dela, para saber como ela estava, Badar disse que ela estava dormindo no quarto dele e que não saiu de casa durante as férias toda, o alívio que senti foi momentâneo, depois fui tomado pela angústia de saber que ela estava passando por tudo sozinha e se isolando.
As aulas retornaram e esse era nosso último ano, estava ansioso para reencontrar a Kathryn e saber como ela estava, fiquei parado no portão de entrada da escola, quando vi ela chegando na caminhonete do seu pai, senti alivio, ela estava linda como sempre, observei seu sorriso ao agradecer e se despedir do seu pai.
Por um momento achei que conseguiria caminhar com ela até sua sala, mas quando menos esperava vejo o Chand correndo e abraçando ela pelos ombros, puxando ela para dentro da escola, pronto tinha perdido a minha oportunidade, ainda sim, fiquei parado esperando ela passar por mim, ela me olhou e deu um aceno com a cabeça, era isso, era só isso, não tinha nenhuma desculpa para abraçá-la e não sabia o que dizer, então apenas retribui acenando com a cabeça para ela, vi ela passando por mim abraçada por um Chand muito animado e feliz, pelo menos ele podia fazer ela sentir-se melhor, abaixei a cabeça e segui para minha sala, num misto de alívio por ver que ela estava bem e tristeza por mim, por não ser eu abraçá-la.
Continuava observando a Kathryn à distância e com o passar dos dias, vi ela com um semblante mais sereno, conforme os dias passavam, a risada dela voltava a ecoar do canto superior da arquibancada. Tenho que admitir que o Chand tem algum talento para comédia, porque as risadas dela sempre vinham dele.
Após um de nossos jogos de basquete durante o intervalo, olhando os dois no mesmo canto, decidi que era o dia de finalmente ter minha foto com a Kathryn, sentei no banco depois do jogo para beber água, fiquei conversando com o Natsuki, esperando porque ela teria que passar por mim para voltar para a sala de aula, tirei o celular da mochila e quando vi ela se levantar, usei o Natsuki para fazer umas selfies, aguardei o momento exato que ela estava passando pelo meu banco e chamei sem hesitar:
“Kathryn, Chand, venham aqui tirar fotos com a gente”. Eles se aproximaram, eu tive que reunir toda a minha coragem, mas dessa vez não ia desperdiçar essa chance, assim que ela chegou mais perto, virei ela de costas para mim, passei meu braço esquerdo por sua barriga e segurei sua cintura, puxei ela até a encostar em meu corpo, segurei-a com força deixando seu corpo completamente colado ao meu, tirei selfies de nós quatro juntos, depois falei sussurrando no ouvido dela:
“Agora vamos tirar algumas só nós dois”, pedi para os dois saírem de perto, aproveitei a minha chance e tirei mais cinco selfies, só eu e ela. Infelizmente, tive que soltá-la porque o monitor invadiu o ginásio e mandou voltarmos imediatamente para nossas salas.
No caminho, Chand me pediu para enviar as fotos para ele por mensagem, assim que cheguei na sala, enviei as fotos de nós quatro para o Chand e todas as fotos para a Kathryn, que me respondeu com um emoji de coração.
Assim que saí da escola naquele dia, fui até a loja, revelei todas as fotos que tiramos juntos, duplicadas, sendo uma cópia para mim e outra para a Katrhryn.No outro dia, cheguei mais cedo na escola e fiquei esperando por ela no portão de entrada, assim que ela chegou, a puxei para o canto ao lado do portão e entreguei o envelope com as fotos que tinha revelado e sem a menor vergonha na cara, falei:“Coloca pelo menos uma foto de nós dois juntos no mural do seu quarto, tá bom?”.A Kathryn me olhou sem entender e com cara de espanto, disse: “Como você sabe do mural de fotos do meu quarto?”.Dei um sorriso largo para ela e respondi: “Esqueceu que fui até sua casa com seu irmão levar os mantimentos para você? Fui com seu irmão até seu quarto para te procurar, você não estava lá, mas vi seu mural de fotos e você não tinha nenhuma foto comigo, achei injusto da sua parte, então resolvi te dar nossas fotos, se até minha irmã pode estar no seu mural, porque eu não estaria nele”.Ela assentiu
Na manhã seguinte a Ayla me acordou bem cedo, e disse que passaríamos na padaria antes de irmos à escola, ela ia comprar uma caixa com seis cup cakes de chocolate, coberto com chantilly e morangos, ela disse que eram os preferidos da Katrhryn, coloquei a caixa com a pulseira dentro da minha mochila e fomos até a padaria, pegamos os cup cakes e seguimos para a escola.Na hora do intervalo, como de costume, Chand e Kathryn sentaram no canto deles na arquibancada, tirei a pulseira da caixa, devolvi a caixa vazia na mochila e fiquei com a pulseira na mão, sabia que a Kathryn não aceitaria um presente, mas o jeito que eu entregaria ela não ia recusar.Aguardei a Ayla chegar no ginásio junto com o Natsuki, assim que eles apareceram, fomos até a arquibancada nos juntar ao Chand e a Kathryn.A Ayla nem deixou a Kathryn abrir a boca, e já foi falando: “Não estamos comemorando nada, só vim aqui dividir essa caixa de cup cakes com vocês”.Assim que a Ayla terminou de falar, me aproximei, peguei
* POV da Kathryn *Após conversar com o Chand e perceber que eu estava pensando demais sobre o abraço caloroso do Luan, decidi não pensar mais sobre isso e focar nos meus estudos.Conforme os dias passavam, o Luan fazia questão de ficar perto, nem nosso cantinho dos excluídos era mais dos excluídos, quando percebemos éramos cinco pessoas em uma rodinha ao lado do muro.Ayla, Luan e Natsuki passaram a sentar conosco nos intervalos.O Chand que só ficava ali para ver os meninos sem camisa, três dias sem o jogo de basquete foi suficiente para ele não aguentar e sussurrou no meu ouvido: “Jesus deve estar achando que sou Jó para testar tanto a minha paciência, bichaaa eles precisam tirar essas camisas para que eu tenha força de vontade para estudar, sério, estou com sintomas de abstinência, olha chego a estar toda tremula, tenho que dar um jeito!”Eu caí na risada, Luan, Ayla e Natsuki sem entender nada, quando o próprio Chand argumentou com os garotos: “Luan e Natsuki vocês não sentem fal
Estávamos tão ansiosos para saber se algumas das oito chaves funcionariam que acordamos uma hora mais cedo para tentarmos abrir o depósito.Às seis e meia da manhã estávamos entrando na universidade, se alguém nos visse pensaria que realmente fazíamos parte da equipe de limpeza dos prédios. Subimos em silêncio para ninguém nos ver.Passei a primeira chave para o Chand, entrou, mas não virou o miolo da fechadura, a segunda chave nem entrou na fechadura, a terceira chave ficou emperrada no meio e tivemos que puxar com força para arrancar, quarta chave entrou, mas novamente não virou o miolo da fechadura, ele coloca a quinta chave, o miolo girou e destrancou a porta.Chand tirou um chaveiro do Hulk do bolso e pendurou a chave, jogando todas as outras chaves inúteis no bolso da frente da mochila.Abrimos a porta devagar, ele tirou uma lanterna da mochila e procurou um interruptor de luz na parede que encontrou perto da porta.O depósito tinha uns trinta metros quadrados, sendo ele utiliza
Entramos todos juntos na recepção da diretoria, Ayla educadamente pede para falar com o diretor, a secretária imediatamente anunciou pelo telefone quem estava na recepção aguardando uma reunião para falar com o diretor, nem fiquei impressionada, os Moonroe conseguiriam a assinatura do diretor sem nem precisar argumentar.Em menos de dois minutos fomos recebidos pelo diretor com um largo sorriso e muito entusiasmo.Nós cinco entramos na sala, ficamos todos em pé lado a lado, mas só o Luan falou: “Diretor Randall, bom dia! Trouxe uma solicitação de inscrição para nosso novo clube, precisamos da sua assinatura e autorização para iniciar nossas atividades com urgência”.O diretor olhou para cada um de nós e disse: “Sr. Moonroe, infelizmente não temos mais nenhuma sala disponível para novos clubes, tenho certeza que podemos arrumar vaga para você em um clube já cadastrado”.O Luan já tinha antecipado que o diretor falaria algo assim e respondeu de forma enfática: “Diretor Randall, infelizm
Quando chegamos, os funcionários já tinham acabado de limpar todo o depósito, nos dividimos e pintamos as paredes.Em duas horas estava tudo pintado, sentamos nas escadas morrendo de fome e esperando os móveis serem entregues, não foi necessário aguardar muito, em alguns minutos os entregadores estavam colocando os sofás, poltronas, almofadas e frigobar tudo dentro do depósito.Colocamos os sofás, um de frente para o outro, as duas poltronas no fundo da sala e o frigobar no canto ao lado da poltrona. O Zelador parafusou as prateleiras na parede onde estavam as poltronas e na parede atrás de um dos sofás, pois o outro sofá estava embaixo das janelas.Colocamos a escrivaninha encostada na parede ao lado da porta e a cadeira de escritório em frente a ela. Chand foi colocando as máquinas fotográficas antigas e o livros nas prateleiras já instaladas, enquanto eu, Luan e Natsuki tirávamos os plásticos dos móveis, o zelador levou todos os plásticos que envolviam os sofás embora para descartá
Meu pai chegou assim que chegamos ao portão da universidade, ele ficou observando nós cinco que ainda riamos com o efeito do álcool, quando o Chand fala para meu pai: “Tio, se minha mãe me ver assim, hoje mesmo será o dia da minha morte e ela vai me matar de uma maneira horrorosa, vou ter que dormir na sua casa”.A Ayla, aproveitando a oportunidade, falou: “Tio Badar por favor salve a gente do castigo, minha mãe também vai ficar uma fera comigo e com o Luan”.O Natsuki que nunca tinha conhecido meu pai, implorou: “Tio, me salva também, eu durmo em qualquer canto”.Foi engraçado ver meu pai colocando as mãos na cabeça e falando: “Ayla e Kathryn se apertem na cabine da caminhonete, vocês três subam na carroceria e permaneçam sentados no chão com as costas encostadas na cabine, não levantem, porque se levantarem eu mesmo mato vocês e poupo trabalho para suas mães”.Os três subiram na carroceria e sentaram-se seguindo as ordens do meu pai, sem mudar uma vírgula.Minha casa fica a vinte mi
Vamos todos de ônibus para a universidade, Ayla e Luan nunca tinham entrado em um ônibus, enquanto esperávamos no ponto, Chand aproveita para dar uma aula, com todas as dicas que todo bom pobre deve saber:“Assim que entrarmos, olhem dentro do veiculo em busca de um lugar para sentar, porque acreditem, pior que andar de ônibus sentado e fazer o trajeto em pé, segurando nas barras com um monte de pessoas caindo em cima de você”.Assinto com a cabeça em total concordância com o Chand, que continua: “O melhor lugar para sentar é na janela, por quê? Porque todo bom pobre gosta de encostar a cabeça no vidro da janela e durante todo trajeto, pode ir refletindo sobre sua vida miserável”.Ayla e Luan continuam olhando fixamente para o Chand, que conclui: “Claro, vocês dois podem levar isso como um dia de excursão e se divertirem”.O Ônibus para no ponto para entrarmos, Chand e Natsuki encostam as carteiras na máquina de cobrança e entram para o fundo do ônibus, é engraçado ver que a Ayla e o