Suze voltou da cozinha, me entregou a bacia de pipoca, ligou a televisão e começou a mudar repetidamente de canal em silêncio. Reconheci aquilo como um enorme sacrifício. Eu conseguia ver as veias da testa dela saltanto, tentando se controlar para não fazer as centenas de perguntas que giravam a sua mente. Perguntas para as quais eu também não tinha nenhuma resposta.
Ficamos assim por algum tempo, dividindo a metade da pipoca. A outra parte estava queimada em cima da pia, como sempre. Quando Suze raspava o dedo na bacia em busca do sal acumulado, ouvimos meu celular tocar entre as almofadas.
Minha amiga parecia um cachorro esfomeado sentindo o cheiro de um rodízio de churrasco.
— É um número desconhecido! — fui incapaz de conter a animação ao encontrá-lo numa das extremidades do sofá.
— Atende!
— Não consigo! — eu tinha acabado de descobrir minha possível orientação sexual, como é que eu saberia a maneira certa de me comportar? — O que vou dizer?
— Me dá esse telefone — Suze pediu. E