Oliver tem dezoito anos, mora com os pais e a irmã num pequeno vilarejo e está prestes a iniciar um relacionamento com Luzia, a melhor amiga de sua irmã, que é totalmente perfeita para ele – ou pelo menos é o que todo mundo diz. Quando ele finalmente decide dar um passo adiante porque os dias estão infinitamente iguais após o fim da escola, um novo amigo de seu pai faz uma proposta interessante: passar alguns dias em seu hotel com a irmã e sua quase nova namorada. O lugar é realmente lindo, e é ótimo ficar na piscina, no entanto ele não imaginava encontrar alguém verdadeiramente interessante. Lá estava, bem na sua frente – Max, com seus olhos azuis e cabelos loiros.
Ler maisEu não esperava vê-lo outra vez, pelo menos não nessa vida enquanto ainda éramos as mesmas pessoas com os mesmos dilemas de sempre. Mas lá estava ele, os cabelos tão loiros que eram quase brancos balançando na brisa suave, saindo do seu carro há poucos metros de onde eu estava.
Seu corpo se esticou, esguio como eu me lembrava, a testa levemente franzida mostrando que estava pensando em alguma coisa que não estava exatamente ali.
Ele esticou a mão para dentro do carro e ajudou uma segunda pessoa a sair, um garotinho com a mesma tonalidade de cabelo. Era seu filho, tive certeza na mesma hora, as outras semelhanças eram muito grandes para serem ignoradas.
O garotinho correu para dentro da escola, se misturando aos outros garotos – entre eles, o meu – e, por alguns instantes, ele observou o filho, como se quisesse saber se estava tudo bem. Não havia nada de errado, o garoto me parecia saudável, expressivo e independente.
Depois disso, enquanto ele voltava para dentro do carro, seus olhos azuis encontraram os meus. Seu corpo congelou a meio caminho e a boca se entreabriu de surpresa. Ele não também não esperava me ver outra vez.
Um frio percorreu minha barriga e comecei a andar, me afastando. Minha respiração estava alterada, o coração batia desenfreado e a boca tinha ficado seca. Como ele ainda podia causar tantas coisas dentro de mim?
Segui andando por uma rua sem olhar para trás. Ainda era cedo, só haviam as pessoas que levavam as crianças para a escola circulando por ali, se afastando e sumindo gradativamente após o sinal que dava início às aulas ter soado.
Não tive nenhum aviso. Não escutei o carro ou qualquer outro indicio que me preparasse para o que veio logo em seguida.
- Oliver!
Meu coração pareceu parar por um momento. Eu conhecia aquela voz tão bem quanto a mim mesmo, jamais a esqueceria passasse o tempo que fosse, e não conseguia a ignorar e continuar andando como se ele não tivesse me chamado.
Parei, primeiro olhando para a frente, sem coragem de virar a cabeça. Minhas mãos, em punhos fechados dentro dos bolsos do meu casaco, tremiam, e eu ainda não confiava na minha voz para responder.
Depois virei a cabeça levemente. Ele estava parado dentro do carro, a cabeça virada na minha direção. O sol da manhã refletia em seus cabelos de uma maneira suave, e justamente essa claridade o fazia estreitar os olhos.
- Max. – respondi quando tive certeza que minha voz sairia firme como a dele.
Nenhum de nós soube o que dizer em seguida. Seus olhos pareciam estudar meu rosto tanto quanto os meus estudavam o dele. Eu não achava que ele tinha mudado muito, será que ele via mudanças significativas na minha expressão?
Em seguida retomei minha caminhada de uma forma meio acelerada. Minha cabeça ficou confusa, tomada de lembranças que eu quase tinha conseguido afundar muito bem dentro de mim.
Dessa vez escutei muito bem a porta do carro abrindo e fechando com força, seguido por seus passos apressados na calçada. Vindo atrás de mim, ele estava claramente vindo atrás de mim.
Algo semelhante a pânico se agitou dentro de mim e virei a esquina, buscando uma salvação para aquele momento, mas tudo que encontrei foi um beco silencioso. Acabei me encurralando, sem meios de evitar o que estava prestes a acontecer.
- Oliver. – ele repetiu, dessa vez com uma voz mais alterada, como se tivesse sem fôlego.
Me virei, com meu peito subindo e descendo pela respiração alterada. Max estava mais perto agora, tanto que eu sentia seu perfume pela brisa que soprava na minha direção. Aquele cheiro... era o mesmo cheiro.
- Max. – repeti, a voz muito mais baixa e trêmula do que antes.
Ele andou até mim. Estava agitado, eu podia perceber. Seus olhos se moviam rapidamente por mim, quase como se não acreditasse que eu realmente estava na sua frente.
- Fugindo? – me perguntou tentando soar leve, quase uma brincadeira, mas falhando miseravelmente.
Não confirmei, mas também não fazia sentido negar o óbvio. Dei mais passos para trás, para as sombras de uma grande árvore, nos dando ainda mais privacidade.
- Não acredito que ... – Max não completou a frase.
- Nem eu. – concordei sem precisar de uma frase inteira.
Ele deu mais passos decididos na minha direção e parou, tão perto que eu sentia o calor do seu corpo através do ar gelado. Ergui ligeiramente a cabeça para poder olhar nos seus olhos, então percebi que eles brilhavam porque estavam rasos d’água.
Quanto do passado ainda pairava sobre nós?
- Precisa pedir para eu me afastar, Oliver. – Max disse suavemente, quase como um sussurro.
Meu coração acelerou ainda mais, mas não consegui produzir nenhuma palavra. Dei um passo incerto para trás e minhas costas bateram contra o tronco da árvore. Max não se abalou, deu outro passo na minha direção e repetiu:
- Você precisa pedir, Oliver. – sua voz saiu mais falhada, como se ele tivesse tomado de emoções como eu.
Fui tomado de uma vontade avassaladora de que, por nada no mundo, ele se afastasse de mim. Só de pensar que ele poderia dar as costas e simplesmente ir embora, doía profundamente. Uma ferida sendo cutucada com a ponta da faca.
- Não. – balancei a cabeça enquanto sentia meus olhos ardendo pelas lágrimas que estavam se formando.
Max não hesitou mais nenhum segundo. Veio na minha direção, enterrou as mãos nos meus cabelos e me beijou apressadamente, como se eu pudesse evaporar se pensasse muito. Eu não julgava, sentia coisas semelhantes naquele momento.
Semana passada aconteceu algo interessante. Completei meus oitenta anos e meus filhos acharam que era algo que deveria ser comemorado. Annie voltou com o marido e o filho e fez um bolo especialmente bonito para mim. Julian e Sara pareciam felizes em ver Munique conversar animadamente com o primo, que estava relativamente mais à vontade entre todos nós agora que não era mais uma criança. João era o mais afastado. Quase todo o tempo ficou sentado numa cadeira, de uma forma muito relaxada, os tornozelos cruzados um no outro, sorrindo enquanto observava a família interagindo animadamente, as vezes com a interrupção de uma discussão que o fazia gargalhar.&nbs
Depois disso o tempo passou muito rápido. Mamãe se foi, tranquilamente enquanto dormia, parecendo tão em paz que apenas sentimos uma tristeza saudosa, sem desespero ou raiva. Não se pode lutar contra a inevitabilidade da vida. Munique cresceu e começou a explorar o hotel, correndo pela grama e tocando as plantas com as mãozinhas fofas e rosadas. Sempre sorrindo para mim e, quase sempre, eu sentia que era Julian me sorrindo, de novo pequenino. Annie também teve um bebê. Um menino, que embora fosse completamente a cópia de Otto, ela resolveu chamar de Max. Infelizmente, devido a n
Tivemos relativa calmaria até o nascimento de Munique. Minha neta encantava quem quer que fosse, desde nós, membros da família, até cada pessoa que colocava os pés no hotel. Todo mundo sorria e pedia para ter alguns momentos com ela no colo. Felizmente Sara era muito tranquila a esse respeito. Foi interessante ver meus traços reproduzidos. Munique decididamente seria a cara de Julian, e eu amei cada detalhe daquilo mais do que poderia ter sonhado, assim como Sara, que parecia amar meu filho com uma delicadeza silenciosa. Não muito tempo depois foi a vez de Annie.&nb
Meu pai morreu pouco depois e, com grande receio, retornei para minha vila com meus três filhos, sem saber como seria recebido. Mamãe parecia me querer muito por lá, mas Rebeca nunca mais tinha entrado em contato comigo. Nosso reencontro aconteceu diretamente no cemitério, mas, enquanto minha mãe me abraçava e chorava, Rebeca não me dirigiu nem um olhar. Eu esperava que ela ignorasse Annie e João, mas não esperava que sua frieza se estendesse a Julian. Felizmente ninguém parecia se importar muito com ela. Meus três filhos apenas me observavam, espreitando a possibilidade daquele evento voltar a me abalar profundamente. Mas não aconteceu, eu sentia apenas u
Mas certamente a vida não segue o roteiro que a gente deseja escrever. Tudo aconteceu tão rápido que nunca consegui processar direito. Em um momento era a vida seguindo, no outro o caos completo tinha se instalado e a dor me tomou tanto que pensei que jamais poderia sair vivo daquilo. Na noite em que Julian completou vinte anos fizemos um jantar em família, apenas Max, eu e nossos filhos. Colocamos uma mesa do lado de fora do hotel, na grama, e tudo foi completamente animado. Annie estava feliz por ter feito um bolo, sozinha, para o irmão postiço, João estava animado porque acreditava que Ju
Na semana seguinte, Amélia chegou no hotel. Estava muito pior do que eu imaginava. Tão magra que todos os seus ossos apareciam sobre a pele fina e translúcida, apoiando em Annie como se mal tivesse forças para se locomover. Ela não olhou na minha direção enquanto Max e seus filhos a acompanhavam até um quarto no primeiro andar – não sei como ela conseguiu subir as escadas -, e eu apenas observei de longe, imaginando se me sentiria mal por tê-la por perto. - Ela está muito pior do que eu tinha pensado. – Max desceu as escadas pouco depois com uma express
Último capítulo