O silêncio permaneceu denso após as últimas palavras de Fernando. O tilintar dos talheres e pratos, que antes parecia natural, agora soava deslocado, como se até a rotina da refeição tivesse sido contaminada pelo peso do assunto.
Dona Catarina ajeitou o guardanapo no colo, com a compostura de quem já testemunhara conflitos demais.
— Esses tempos estão cada vez mais perigosos… — murmurou. — Não é só aqui. Em todo o Mato Grosso têm acontecido ocupações. O governo promete soluções, mas só alimenta a discórdia.
Mariana ergueu o queixo, orgulhosa, quase teatral.
— Pois que venham. Quem se mete com esta família não sai impune. Se ousarem entrar em nossas terras, terão consequências.
Natália a olhou de relance. O tom agressivo da prima parecia refletir a mesma dureza que havia em Fernando, como se a família inteira compartilhasse daquele espírito de domínio e posse.
Fernando ergueu a taça de vinho, girando o líquido lentamente antes de beber um gole.
— Consequências? — repetiu, a voz baixa,