Capítulo 27
Mariana Bazzi
A cozinha era grande, moderna, cheia de utensílios que eu nunca tinha usado na vida. O cheiro de cebola refogada me fazia lacrimejar, mas o que me fazia tremer mesmo era a lembrança do olhar de Ezequiel. Vazio. Frio.
A doutora Samira não saiu do meu lado nem por um segundo. Quando um dos soldados se aproximou da entrada da cozinha, ela fez questão de mostrar o crachá, a autoridade. A cozinha era minha — pelo menos por agora.
— Vai ficar tudo bem — ela sussurrou, cortando os legumes comigo. — Ele tá confuso. Não é você que ele quer machucar.
— Mas e se for? — perguntei, sem tirar os olhos da panela. Minhas mãos tremiam tanto que quase derrubei a cenoura picada.
Samira suspirou, mexendo o caldo.
— Então você vai estar comigo. Eu vou te proteger.
Quando a sopa ficou pronta, eu mal conseguia sentir o cheiro do que preparei. Estava zonza, tensa, com os braços doloridos de tanto conter o pânico. Ainda assim, enchi a tigela com cuidado, segura