Capítulo 22
   Mariana Bazzi
   A água quente escorria pelas minhas costas, como se pudesse limpar os medos, as vozes do passado, as memórias partidas que sempre me impediam de seguir. Pedi ajuda à doutora Samira, porque precisava disso. Precisava me libertar.
    — Como superar esse medo, doutora?
    — Androfobia não é uma simples aversão, é uma ferida muito dolorida. Um trauma que se instala na alma, te trava e molda seus sentimentos, os pensamentos, até o modo de respirar, instaurando esse medo irracional que você sente. Mas felizmente existe tratamento minha querida. Vamos reconstruir a Mariana aos poucos. Essa escolha de confiar em Ezequiel, ainda que incerta, é um passo enorme.
   — Eu confio, doutora.
   Estava com o cabelo molhado e o roupão amarrado quando ouvi barulho de pneus. Muitos. Um som fora de lugar para o final da tarde. Fui até a janela, puxei levemente a cortina. E o que vi me fez perder o ar.
   Haviam carros chegando de todos os lados, como um enxame de abelhas