Vitor estava sentado no sofá, fingindo ler, apenas para fazer seu pai ir embora e parar de falar sobre casamento. Ele levantou os olhos do livro e encarou o pai novamente, percebendo que ele ainda o observava seriamente.
— O que foi, pai? — perguntou Vitor, colocando o livro na mesa.
— O Albuquerque e a esposa dele virão nos visitar hoje. A Daiane também virá, então você poderá conversar melhor com sua noiva.
— Noiva! — Vitor deu um sorriso sarcástico enquanto se levantava do sofá.
— Eu não estou rindo, Vitor! — exclamou Alexsander. — Vá se arrumar, você parece que acabou de acordar!
Vitor se aproximou do pai, seus olhos verdes, a qual seu pai não conseguiu descifrar. Ele sorriu antes de se dirigir ao banheiro. Após um banho revigorante, vestiu uma camisa que realçava ainda mais seus olhos verdes e calçou os sapatos. A casa era enorme, e tudo o que o rapaz possuía era da melhor qualidade. Seu quarto estava sempre impecável, graças ao cuidado diligente das empregadas.
— Estou saindo agora… — disse Vitor, pegando as chaves do carro com um movimento decidido.
— Para onde você está indo arrumado desse jeito? Por acaso está indo encontrar alguma mulher? — perguntou Alexsander, com um olhar desconfiado.
— Não… Eu apenas preciso sair para processar toda essa loucura que você me contou hoje — respondeu Vitor, tentando manter a voz calma.
— Certo! Porém, esteja aqui às sete em ponto. O Albuquerque chegará aqui. — disse Alexsander, olhando para o relógio que marcava quatro da tarde. — Vou chamar o motorista.
— Não precisa! — murmurou Vitor. — Eu mesmo dirijo.
— Hum! Tudo bem, Vitor, mas vá com um carro simples, pois você pode atrair ladrões — aconselhou Alexsander, com um tom de preocupação.
Vitor pegou o carro, abriu a porta e entrou. Com um suspiro pesado, deu a ré e acelerou. O relógio marcava cinco horas da tarde, e Vitor continuava na estrada, dirigindo com o rosto tenso e os pensamentos tumultuados.
De repente, ele avistou um carro vindo na mesma direção. Algo parecia errado; o outro veículo estava se aproximando rápido demais. O coração de Vitor disparou, e ele apertou o volante com força, sentindo um frio na espinha. O carro adversário não diminuía a velocidade, e a distância entre eles se encurtava perigosamente.
Em um instante de pânico, Vitor tentou desviar, mas era tarde demais. O impacto foi inevitável. O som ensurdecedor da colisão ecoou pela estrada. Vidros estilhaçados voaram pelo ar, e o carro de Vitor foi jogado para o lado, enquanto o outro veículo permaneceu no mesmo lugar.
Vitor Machucou o braço no acidente. Ele abriu a porta do carro e, com dificuldade, desceu. Em seguida, foi verificar quem estava no outro carro.
— Ei! Você está bem? — perguntou ele, segurando seu braço e olhando para a janela do carro do motorista.
A pessoa no carro era Catherine, e por um milagre, ela não tinha sofrido nenhum arranhão.
— Estou bem, sim. — afirmou Catherine, saindo do carro.
Vitor olhou para Catherine, impressionado com a beleza da moça. Ele sempre chamava a atenção das mulheres por onde passava, mas dessa vez foi Catherine quem capturou seu olhar. Mesmo assim, ele não conseguiu esconder a irritação com a imprudência dela.
— Você está louca? Poderia ter acontecido algo pior! Qual é o seu problema? — exclamou Vitor, furioso. — Meu carro está destruído!
— Eu? É você que não olha para onde anda! — gritou Catherine, indignada. — Olha o que você fez com o meu carro novo! Sabe quanto custa um carro desses?
— Como assim? Foi você que estava dirigindo como uma maluca!
— Eu bati o carro porque você não sabe dirigir! — retrucou ela. — Quantos anos você tem? Você nem deveria estar dirigindo!
— Tenho idade suficiente para saber que você está errada! — Vitor encarou Catherine, que desviou o olhar.
Catherine abaixou a cabeça, finalmente assumindo a culpa. Seus pensamentos estavam longe, relembrando a traição de Miguel e Lídia.
— Me desculpe, eu estava distraída e perdi o controle do carro. Eu... Eu ando muito confusa ultimamente.
Vitor assentiu, compreendendo a situação dela.
— Meu dia não poderia piorar, e acabou piorando. — Vitor suspirou, encostando a cabeça no carro dela.
Ele começou a andar de um lado para o outro, enquanto Catherine o observava.
— Você machucou o braço? Me desculpe. Se quiser, posso pagar pelo estrago do seu carro. Se bem que ele parece bem baratinho...
— Estou bem! Não se preocupe. O carro é o de menos. — respondeu Vitor. — Posso saber seu nome?
— Me chamo Catherine. E você?
— Vitor Duarte...
— Você parece um pouco tensa, Catherine. Aconteceu alguma coisa além desse acidente?
— Não mais que você. — disse ela, sorrindo levemente.
— Minha vida está um inferno! Tenho 20 anos e meu pai já está pensando em casamento. — murmurou Vitor.
— Hum! Entendo. Casamento é um inferno mesmo! — Catherine disse, pensando na traição que sofreu recentemente.
— Bem... Não tenho muito tempo, preciso voltar para casa. Adeus, Catherine.
Vitor entrou no carro e deu a ré, hesitando por um momento.
— Espera! Onde você mora? — perguntou ela, com um tom de curiosidade e preocupação.
— Eu... Eu moro um pouco longe daqui. Me passa o seu telefone, podemos conversar outra hora. — Disse ele, tentando esconder que morava no bairro mais luxuoso de São Paulo.
— É melhor não, meu marido não iria gostar nada disso. Mas eu posso te dar este endereço. — Catherine entregou um pequeno papel com o endereço do hotel onde ela era a própria dona. — Passa lá qualquer dia para chantar.
Vitor assentiu e partiu em direção à sua casa. O relógio já marcava seis e meia, faltava apenas meia hora para os convidados chegarem, e seu pai já estava à sua espera.
Ele dirigiu com pressa, tentando não se atrasar. Finalmente, chegou em casa faltando apenas cinco minutos para as sete da noite. Seu pai já estava na porta e se aproximou com um olhar severo.
— Por que demorou tanto? E por que está nessa situação?
— Aconteceu um imprevisto, mas cheguei a tempo — respondeu Vitor, tentando manter a calma. — Vou tomar um banho enquanto as visitas chegam.
— Espera, Vitor! Tenho que falar algo sobre a Daiane.
Alexsander olhou para Vitor com um olhar sério, deixando claro que o assunto era importante.