O homem era muito alto e magro, mas do tipo forte e bem definido. Por causa de Ademir, Karina supôs que ele deveria praticar exercícios físicos há muitos anos. Seu rosto tinha traços um pouco estrangeiros, com feições marcantes, especialmente os olhos grandes e expressivos. Talvez também vivesse bem, pois sua pele parecia muito bem cuidada, sem rugas aparentes. No entanto, pela aura que emanava, não era difícil perceber que ele já havia chegado à meia-idade. Karina ficou ouvindo por um momento e percebeu que ele falava em francês o tempo todo. — Bonjour. — Karina tentou se comunicar em francês. — Com licença, precisa de alguma coisa? O homem ficou surpreso, mas logo demonstrou grande alegria: — Você fala francês? — Um pouco. — Karina sorriu e assentiu. É claro que essa era apenas uma resposta modesta. No passado, ela chegou a se sustentar trabalhando como tradutora. — Que ótimo. — O homem apontou para cima e fez um gesto com a mão. — Eu gostaria de... — Certo. — K
— Obrigado. O garçom se aproximou para anotar os pedidos. — Deixe-me ver. — Lucas pegou o menu e escolheu vários pratos de acordo com o gosto de Karina. — Isso é suficiente? — Sim, é o bastante. — Tudo bem, se não for, pedimos mais. O fato de a filha ter tomado a iniciativa de chamá-lo para jantar o deixou surpreso e emocionado. Lucas não parava de perguntar: — Como você está ultimamente? E o bebê? — Estou bem. — Karina respondeu de forma indiferente, sem querer se alongar no assunto. Ouvindo ele insistir nas perguntas, Karina começou a sentir uma leve impaciência. De repente, ela disse: — Sobre a doação de fígado, eu falarei com o Catarino. Ao ouvir isso, Lucas ficou completamente chocado, seus olhos se arregalaram. — O que você disse? Karina não repetiu, pois sabia que ele tinha escutado perfeitamente. Ela continuou: — Mas eu quero que você me prometa uma coisa. — Karina... Karina não ousou hesitar; temia que, se parasse, mudaria de ideia. Fitand
Ademir franziu levemente a testa, um traço de inquietação passando por seu olhar. — Você não gosta de flores? Karina soltou uma risada leve, sem responder. De repente, ela disse: — Hoje, encontrei o Lucas. O rosto de Ademir mudou sutilmente. Seu olhar ficou pesado ao encará-la. — Prometi a ele que falaria com o Catarino sobre a doação do fígado. — Karina de repente sorriu. — Aquelas palavras que você sugeriu naquele dia... Por mais duras que tenham sido, até que tinham algum sentido. — Karina, eu... — Ademir subitamente se sentiu irritado. — Deixe-me terminar. — Karina sorriu, pressionando os lábios. — Mas impus uma condição: ele não pode tratar o Catarino como filho. E isso eu preciso deixar claro para você também. Vocês, a sua família, devem manter isso em segredo. Dizendo isso, ela inclinou ligeiramente o corpo. Era um gesto de despedida: — Já terminei. Durante esse tempo, você passou por muita coisa, mas agora seu objetivo foi alcançado. Pode ir... O ambient
Se os exames não mostrassem nenhum problema, então Karina poderia falar com Catarino sobre a doação de fígado. Caso contrário, não haveria necessidade de mencionar o assunto. Hoje, Karina tinha ido ao centro de exames para agendar a consulta. O que ela não esperava era que, ao chegar lá, Lucas já estivesse esperando por ela. E não era só Lucas. Até Eunice e Vitória tinham vindo. Surpresa? Um pouco. Mas, no fundo, nem tanto. — Karina. — Assim que ela se aproximou, Lucas se levantou primeiro, seguido por Eunice. Vitória, por estar em uma cadeira de rodas, não pôde fazer o mesmo, mas, ainda assim, todos eles olhavam para Karina com uma espécie de esforço deliberado para agradá-la. Karina estava bem consciente da situação. Eles não estavam tentando agradá-la. Estavam tentando agradar ao fígado de Catarino. — Karina. — Eunice sorriu, mas de maneira pouco natural. — Obrigada. — Certo. — Karina assentiu, fria, mas ainda assim educada. Vitória também expressou sua gratidã
— Vocês... — Antes que Karina pudesse dizer qualquer coisa, Vitória já havia falado. Sua expressão era clara: estava ao mesmo tempo nervosa e cheia de expectativa. — Agora há pouco... Vocês estavam falando sobre o acordo de divórcio? — A emoção era tanta que parecia que ela não conseguia acreditar. Seu olhar ia de Ademir para Karina, repetidas vezes. — Vocês vão se divorciar? Karina a encarou e soltou uma risada baixa, assentindo. Confirmou sem hesitação: — Sim. — Isso... — Vitória sentiu uma alegria intensa dentro de si, mas tentou manter a expressão neutra. — Isso não pode ser verdade, certo? Vocês não se casaram por causa do avô? Ele aceitaria esse divórcio? Suas palavras eram uma lembrança direta para Karina: aquele casamento não tinha sido uma escolha de Ademir. Ele havia sido forçado! — Vitória! Não se meta nisso! — Ademir, claro, também percebeu a intenção por trás daquelas palavras. Seu olhar mudou imediatamente, refletindo pura irritação. Mas ele não podia pe
A voz de Karina era baixa e suave enquanto ela dizia lentamente:— O Túlio foi a primeira pessoa de quem eu gostei. Ele tinha uma aparência boa e uma boa situação familiar, ele me amava, ele só me amava. E eu também o amava...— Chega, não diga mais nada! — Ademir falou com o rosto fechado, fechando os olhos com força. — Não tenho interesse na sua história de amor do passado! O que eu quero é o seu presente e o seu futuro!— Não se apresse, já estou quase terminando. — Karina ignorou a expressão de raiva dele e continuou falando. — Eu amava tanto o Túlio, e depois que nos separamos, fiquei muito machucada, quase acreditei que não conseguiria viver...Ao ver isso, os olhos de Ademir começaram a arder de raiva, e essa raiva parecia só crescer!Se fosse possível matar alguém sem consequências, ele já teria matado Túlio há muito tempo!Ademir sentia um ódio profundo, odiava o fato de Túlio ter sido o primeiro homem a encontrar Karina e a conquistar seu coração antes dele.Felizmente, Karin
Na manhã seguinte, Ademir apareceu novamente.Patrícia abriu a porta para ele:— Sr. Ademir.Ademir franziu ligeiramente a testa, não parecia muito surpreso.Ele olhou para dentro:— E a Karina, onde está?Patrícia apontou para o quarto:— Ela ainda está dormindo, não acordou ainda.Ademir acenou com a cabeça, demonstrando que entendia.Como sempre, ele entregou o café da manhã para Karina:— Não deixe a Karina dormir até tarde. Se o café esfriar, esquente antes de dar a ela, frio não tem o mesmo gosto, e dormir com o estômago vazio também não faz bem à saúde.— Entendido. — Patrícia pegou o café da manhã e, ainda assim, fez uma pergunta. — Sr. Ademir, o senhor quer entrar para sentar um pouco? Talvez a Karina acorde logo.— Não, obrigado. — Ademir deu um pequeno sorriso, balançando a cabeça. — Se eu entrar, a Karina não vai acordar.Karina a havia chamado de propósito, não apenas para quando Ademir viesse, mas também para usá-la como um obstáculo, para que não precisasse enfrentar Ade
— Está frio lá fora, Catarino, entre logo no carro. — Está bem.Entraram no carro e seguiram em direção ao Hospital J. Na parte da manhã, o centro de exames estava mais cheio. Karina tinha um agendamento, e como era do próprio hospital, levou Catarino pela passagem destinada aos funcionários.Antes de entrarem, Karina deu instruções ao Ademir: — Você não precisa entrar, eu e a Cecília vamos dar conta. — Tudo bem. — Ademir assentiu. — Fico esperando lá fora.Ademir ainda fez um último aviso a Cecília: — Se precisar de algo, me avise. — Pode deixar, Sr. Ademir.Dentro do saguão, estava um alvoroço. O barulho era tão grande que Ademir sentiu uma dor de cabeça. Se não fosse por Karina, ele não estaria ali, passando por aquela tortura. — Ademir. — Era Vitória.Ademir olhou para cima e viu Vitória sendo empurrada em uma cadeira de rodas pelos profissionais de saúde. Ele não conseguiu evitar franzir a testa: — O que você está fazendo aqui? Karina tinha pedido para que el