Como já estava no final da gravidez, não podia viajar de avião, então Karina comprou uma passagem de ônibus. Ia passar uma semana na Cidade L, e a bagagem não era pouca. Felizmente, Dr. Felipe cuidava bem de Karina e garantiu que ela escolhesse um ônibus mais confortável. Ao subir, encontrou seu assento, mas não conseguia carregar as malas sozinha. Pensou em chamar um comissário de bordo para ajudá-la. — Karina. — Sentiu um leve toque no ombro. Ao se virar, viu Túlio sorrindo para ela. — Túlio. — Karina também sorriu. — Essa mala é sua? — Sim. — Deixa que eu levo. — Túlio entendeu na hora e pegou a mala de Karina, acomodando ela no compartimento. — Obrigada. — Não foi nada. O mais surpreendente era que os assentos dos dois ficavam lado a lado. Uma coincidência e tanto. Karina sorriu: — Vou para a Cidade L participar de um congresso. Você está indo a trabalho? — Sim. — Túlio assentiu e explicou. — Estou tomando medicação, e o Dr. Amílcar me aconselhou a evi
Depois da reunião à noite, ao voltar para o hotel, Karina percebeu que algo não estava certo. Ela não parava de espirrar, o nariz escorria, e, ao tocar a testa, sentiu que estava quente. Provavelmente, havia pegado um resfriado... Ou pior, estava com febre. O que fazer? Ela estava grávida e não podia tomar remédios indiscriminadamente. Karina serviu um copo de água quente e começou a beber sem parar. Depois, se enfiou debaixo das cobertas, tentando suar para ver se conseguia baixar a febre. Aos poucos, acabou pegando no sono. O celular estava no modo silencioso, e assim, Karina adormeceu profundamente. ... Às seis horas, Ademir saiu da empresa e se preparava para ir ao Clube de Lazer Yayoi. Do lado de fora, a neve já começava a cair. Ao entrar no carro, recebeu uma ligação da Villa Verão. — Fale. — Sr. Ademir, é o seguinte: o Catarino precisa fazer um exame médico nos próximos dias. Como ele foi transferido recentemente para cá, gostaríamos de saber o login e a s
Ele realmente fez o que disse que faria. Túlio veio por conta própria ou foi Karina quem o chamou? Ao considerar essa segunda possibilidade, Ademir sentiu uma dor profunda no peito. Karina estava se sentindo mal, chamou Túlio, mas não disse nada ao Ademir? Ademir lançou um olhar gélido para ele: — Sr. Martins, a essa hora da noite, parado diante do quarto da minha esposa... Isso lhe parece apropriado? Túlio soltou um riso frio. Ele podia ver claramente que havia algo errado entre Karina e Ademir. Se o casamento deles estivesse bem, Karina jamais teria recorrido ao Túlio nesse momento! Erguendo levemente as sobrancelhas, ele provocou de propósito: — Não sei se é apropriado ou não. A Karina me chamou. Disse que estava se sentindo mal e precisava de cuidados. Ao ouvir isso, o olhar de Ademir se tornou ainda mais gélido. Então era verdade. Karina realmente havia chamado Túlio para vir até ali! Ele estreitou os olhos, neles, havia um brilho afiado como lâminas. — T
A voz dela também estava suave: — Eu acabei de tirar e deitei direto, não coloquei meias novas. Assim que terminou de falar, a mão do homem pousou na testa de Karina. Estava fria, mas muito confortável. Karina não conseguiu evitar e estreitou levemente os olhos. Ademir notou esse pequeno gesto, e aquilo lhe causou uma sensação inquietante. Seu coração coçava, e sua garganta também. Sem perceber, seu tom de voz ficou mais suave: — O médico chegou. Deixe ele dar uma olhada. Ele se virou para chamar o médico: — Venha. — Sim, Sr. Ademir. — O médico se aproximou e examinou Karina. — Ela pegou um resfriado, mas a febre não está alta. Como está grávida, é melhor evitar medicamentos. Pegou um frasco de álcool da maleta: — Passe no corpo dela e tente baixar a temperatura de outras formas. Além disso, use duas bolsas de gelo, uma na testa e outra sob as axilas. Isso deve ajudar. Se não resolver, aí sim recorremos ao antitérmico. Só isso? Ademir não estava convencido:
Fechando a porta, a testa de Ademir estava coberta de suor, e as veias em suas têmporas pulsavam sem parar. Só de pensar na cena de Karina nos braços de Túlio, Ademir sentia que ia explodir! — Ademir, você realmente não vale nada! Ele xingou a si mesmo em voz baixa. Karina estava doente, e ainda assim ele só conseguia pensar em fazê-la sua! Meia hora depois, Ademir saiu do banheiro. Os itens que ele pediu ao hotel já haviam sido entregues: uma bolsa de gelo e chá de gengibre. Com delicadeza, ele colocou a bolsa de gelo sobre a testa de Karina, pegou a xícara de chá e, com um canudo começou a dar para ela aos poucos. Doente, Karina estava muito obediente. Quando ele pedia que ela bebesse água, ela bebia. Até mesmo quando ele usava álcool para limpar sua pele, ela cooperava sem resistência. Mas, no fim, quem acabou se desgastando foi Ademir. No entanto, seus cuidados surtiram efeito. Na segunda metade da noite, Karina já não parecia tão desconfortável. Encostada no tr
— Não é tão exagerado assim! — Karina riu com a forma como ele falou. — Eu realmente estou bem agora, só um pouquinho fraca... — Karina. — A voz de Ademir, de repente, ficou muito séria. — Não estou brincando com você, nem estou pedindo a sua opinião. O olhar de Ademir pousou em sua barriga: — Você não se preocupa consigo mesma, nem com o bebê? Ao ouvir a menção do bebê, Karina hesitou: — Mas eu... Era o trabalho dela, e Karina não tinha escolha. Ademir suspirou, sem alternativa, e ergueu a mão para afagar a cabeça dela: — Espere, eu vou resolver isso. Não era algo difícil de lidar. Sem demora, Ademir ligou para Felipe e explicou a situação. — Dr. Felipe, desculpe, foi minha culpa por não ter cuidado bem dela. A Karina não está nada bem, sinto muito pelo transtorno... Certo, obrigado... Do outro lado da linha, não se sabia exatamente o que Felipe disse. Karina permaneceu em silêncio, de boca cerrada, apenas esperando. — Certo, Dr. Felipe, até logo. A ligaç
Karina ainda não tinha reagido. Ofegante, ela ergueu o rosto para olhar Ademir, os olhos tomados pelo medo. Não conseguia nem imaginar o que teria acontecido se tivesse caído. — Se assustou? — A voz de Ademir carregava um misto de culpa e carinho. Na verdade, ele também tinha se assustado. Com o queixo apoiado na cabeça de Karina, ele murmurou baixinho: — Desculpa, foi erro meu. Mesmo que Karina tivesse recusado, Ademir deveria ter tido discernimento. Numa situação dessas, como pôde simplesmente seguir a vontade dela? Após refletir por um instante, ele estendeu os braços e, sem mais hesitação, a pegou no colo. A súbita sensação de estar suspensa no ar fez Karina soltar um grito, e, por reflexo, ela agarrou o pescoço de Ademir. Como um gatinho preguiçoso, se aconchegou obedientemente nos braços dele. O coração de Ademir se aqueceu. — Vou te levar até o carro. É rapidinho. Ao dizer isso, sentiu um leve arrependimento. Não deveria ter permitido que estacionassem
Quando estavam quase chegando à Rua de Francisco Antônio, Karina acordou. — Já chegamos? — Quase. — Ademir ficou um pouco decepcionado. Como ela conseguiu dormir tão pouco tempo? — Descansa mais um pouco, eu te chamo quando chegarmos. — Não, não vou dormir mais. — Karina balançou a cabeça, pegou o celular e ligou para Patrícia. — Patrícia, sou eu... Sim, voltei. Me espera na esquina, pode ser? Está nevando, tenho medo de escorregar... Tá bom. Ademir, ao lado, ouviu a conversa e seu olhar foi escurecendo pouco a pouco. Ainda nem tinham chegado, e Karina já havia se organizado. Ela claramente não queria que Ademir a acompanhasse. Assim que dobraram a esquina, chegaram à Rua de Francisco Antônio. — Pode parar ali mesmo. — Karina se virou para Ademir e lhe sorriu. — Obrigada. A Patrícia veio me buscar, eu vou descer agora. — Tá bom. — Ademir engoliu seco, mas sentiu um amargor na boca. Do outro lado da rua, Patrícia, vestida com um casaco vermelho vibrante, correu animada