Capítulo 2

Assim que voltei para nossa toca simples e marcada pelo tempo, Finn acordou.

Com os olhos ainda pesados de sono, ele os esfregou e farejou o ar à minha volta.

E ao encarar seus olhos dourados de lobo e o queixo determinado, tão semelhantes aos de Kael, senti meu coração se partir.

“Como Kael, seu pai Alfa, foi capaz de deixá-lo crescer sem um pai? Como suportou vê-lo ser alvo de piadas entre os outros filhotes?”

Percebendo minha dor sufocante, Finn esfregou a cabeça peluda no meu pescoço.

— Mamãe, você descobriu alguma coisa sobre o Alfa Kael?

Foi como um soco. Depois que Kael apareceu como “Ronan”, Finn vivia escorregando e o chamando de “papai”.

No entanto, eu sempre o repreendia, insistindo que aquele era apenas o Tio Ronan, e não seu pai Kael.

Já que na minha cabeça, tudo se resumia à saudade que meu pequeno sentia do pai morto.

Nunca imaginei que, na pureza da infância, os olhos de uma criança pudessem ver a verdade com tanta nitidez.

Ele sempre soube quem era seu verdadeiro pai, guiado pelo vínculo de sangue. Só não entendia por que, de uma hora para outra, o pai Alfa que o jogava para o alto e esfregava o queixo áspero em sua bochecha se tornara frio, até o afastando.

Naquele instante, todas as peças se alinharam, e percebi que o zelo de “Ronan” por nós sempre parecera meticulosamente... Planejado.

Ele deixava os melhores pedaços de carne do lado de fora da toca, usava sua presença de Alfa para afastar outros machos que nos desrespeitavam, e deixava peles aquecidas em segredo durante o inverno. Mas, no instante em que Finn tentava se aproximar, ele cortava qualquer laço, insistindo que era apenas o “Tio Ronan”.

Por esse motivo, todos acreditavam que Ronan agia com Finn como um verdadeiro pai.

Embora, agora, aquilo tudo me parecesse uma ironia cruel do destino.

Ele era, de fato, o pai de Finn. E mesmo assim, escolheu manter distância, negando ao filho o direito de ter um.

“Será que nunca acordava no meio da noite, atormentado pelas consequências de trair nosso vínculo de companheirismo?”

Durante esses cinco anos, chorei a morte de Kael inúmeras vezes, mas foi o amor que sentia por ele que me manteve de pé.

Contudo, naquele momento, eu senti com uma clareza gélida: o Alfa que compartilhou minha alma e meu corpo estava verdadeiramente morto para mim.

Ou seja: esse vínculo traído precisava ser rompido de vez.

Tentei controlar minha respiração até me acalmar, e só então encarei Finn diretamente nos olhos, perguntando se ele aceitaria que eu me vinculasse a outro Alfa.

A princípio, vi a confusão surgir em seu olhar, mas, em seguida, ela deu lugar a uma expressão decidida.

— Mamãe, eu não entendo por que o papai não diz quem ele é. Mas, se ele não vai mais te proteger, o Finn vai! Aonde você for, eu vou também. Vou crescer rápido e ficar forte, igual ao Alfa Lucian da Alcateia da Lua de Prata!

Naquele instante, Finn me abraçou com força, apertando seu corpinho frágil contra o meu, enquanto suas patinhas desajeitadas batiam nas minhas costas numa tentativa inocente de me consolar.

— Tudo bem!

Segurei as lágrimas e o apertei contra mim. Depois, enviei uma mensagem para meu primo, na Alcateia da Lua de Prata.

De longe, senti como se a resposta já tivesse chegado.

Uma vez que meu primo logo receberia a mensagem. E Lucian também.

Durante esses cinco anos, nenhum deles havia sido exatamente discreto em suas insinuações. Eu é que estava mergulhada demais no luto por Kael para compreender.

E o Alfa Lucian, conhecido por sua força comparável à de Kael, já me observava havia algum tempo, segundo os rumores.

Por isso, naquele momento, eu, Elara, decidi que buscaria segurança verdadeira. Não apenas por mim, mas também por Finn.
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