Emir Aksoy Três dias antesO ar parecia rarefeito enquanto eu encarava a caixa preta, seu peso mínimo amplificado pela carga emocional que ela carregava. Cada batida do meu coração ecoava no silêncio opressivo da sala. O medo, como uma serpente venenosa, se enroscava em volta do meu peito, apertando com uma força implacável. Com as mãos trêmulas, rompi o selo da caixa, e o que vi me atingiu como um soco no estômago. Uma roupa de Valentina, imaculadamente dobrada, ainda com o perfume dela, jazia ali dentro, uma lembrança vívida da presença dela, agora distorcida pela sombra do perigo. Uma onda de pânico varreu meu corpo, paralisando-me por um instante.Meu telefone, como se tivesse vida própria, zumbiu, quebrando o silêncio sepulcral da sala. Com o coração na garganta, deslizei a tela para ver a mensagem. Uma foto de Valentina, tão bonita e serena como sempre, mas o contexto a transformava em um aviso sinistro. Ela estava em casa, na nossa casa, na piscina, com um livro nas mãos e um
Emir Aksoy Eu me encontrei na Polônia, cercado por uma atmosfera de desconfiança e incerteza. Cada rosto que cruzava meu caminho era alvo da minha suspeita, cada movimento era analisado meticulosamente em busca de pistas sobre quem estava por trás das caixas misteriosas enviadas para mim. Porém, em meio à sombra da incerteza, havia uma luz de confiança que brilhava em três figuras: Juana, Asaf e Joon-Ho. Eles eram os únicos em quem eu podia confiar plenamente, os únicos que compartilhavam meus segredos e sabiam dos meus passos. "Juana, por favor, peça ao polonês que busque minha esposa", solicitei, sentindo a urgência pulsante em minhas palavras. Ela me respondeu com uma expressão sombria, sua preocupação evidente em cada linha do rosto. "Já fiz isso", disse ela, com um tom de advertência velado em sua voz. "Mas você sabe que vai ter que fazer mais um favorzinho para ele." Revirei os olhos, um sinal da minha frustração crescente. "Você está sendo repetitiva, Juana." Ela su
Valentina Carvalho Aksoy Depois de um bom banho quente, decidi descansar um pouco na cama. A sensação do conforto me envolveu e acabei adormecendo por um tempo. Ao acordar, me dirigi até a janela e fiquei maravilhada com a paisagem que se formava diante de mim - a neve caía suavemente, criando um cenário digno de contos de fadas. Olhando fixamente para aquelas árvores e aquele céu, pensei ter visto algo se mover. Fixei os olhos, mas não era nada, eu deveria estar sonolenta. Fui tirada desse sonho de paz quando ouvi batidas na porta. Corri para atendê-la e encontrei minha amiga Adriana do outro lado, parecendo um boneco de neve com tantas roupas. Ambas estávamos famintas, então descemos juntas. Ao chegarmos à sala de estar, vimos Juana sentada em uma poltrona, com um copo de whisky nas mãos, observando o líquido com atenção. "A bela adormecida acordou do seu sono profundo", Juana diz com a voz carregada. "Eu estava exausta, aproveitei para descansar", respondi, concordando com ela
Valentina Carvalho A estrada se estendia à minha frente, um caminho sem fim que eu não sabia para onde levava. As últimas horas tinham virado minha vida de cabeça para baixo, tudo o que eu acreditava ter vivido durante tantos anos era uma mentira. Uma mentira que me deixou sem rumo, sem direção.Dirigi por mais de uma hora, sem destino, sem propósito. Apenas seguindo a estrada, deixando para trás a vida que eu conhecia. As lágrimas molhavam meu rosto, uma mistura de tristeza, raiva e confusão. Não sabia como havia chegado tão longe, como havia permitido que minha vida se transformasse nessa bagunça.O painel do carro piscava, alertando que a gasolina estava acabando. Parei em uma cidade desconhecida, sem saber onde estava. A única coisa que sabia era que precisava sair do carro, respirar, tentar entender o que estava acontecendo.Foi quando vi o aeroporto. O avião pousando na pista, as luzes brilhando na escuridão. Não abasteci o carro, não voltei para a estrada. Em vez disso, segui
Valentina CarvalhoEu acordei com uma dor latejante na cabeça, mal conseguindo abrir os olhos devido à intensa claridade que fazia minhas têmporas pulsarem. Tentei me situar no ambiente ao meu redor e percebi que estava em um quarto luxuoso, com uma cama dossel majestosa, cortinas negras e uma parede de vidro que levava a uma sacada com sofás e arcos. Era como se eu tivesse sido transportada para um palácio sombrio e desconhecido.A confusão tomou conta de mim e a pergunta ecoou em minha mente: "Onde eu estou?". Lembrei-me vagamente das últimas horas, quando reservei o hotel e um homem misterioso segurava uma placa com o meu nome. Recordo-me de ter entrado no carro com ele e, pensei que ele tinha sido enviado pelo hotel, algum serviço de transfer. O próximo fragmento de memória que surgiu foi o homem borrifando algo em meu rosto, fazendo-me desmaiar.O desespero tomou conta de mim ao perceber que estava presa naquele quarto. Corri até a porta e tentei abri-la, girando freneticamente o
Valentina Carvalho— O que você estava fazendo? - ele me pergunta.— Eu estava tentando fugir, me prenderam no quarto lá em cima - tentei explicar para ele - Eu peguei o carro que o hotel tinha me enviado, mas o homem me dopou e eu acordei naquele quarto lá em cima - aponto com o dedo - Eles prenderam você também?Eu nunca imaginei que fosse ver aquele rosto novamente, mas ali estava ele, o cara que eu tinha esbarrado no aeroporto e beijado no banheiro do avião. Meu coração dispara ao vê-lo, e não posso negar que uma parte de mim tem vontade de beijá-lo novamente. Seus olhos verdes me olham com estranheza, como se não entendesse o que estou pensando.— Você também está preso aqui? - pergunto, tentando disfarçar a emoção em minha voz - Venha, vamos ver se a porta está aberta.Sem pensar duas vezes, seguro a mão dele e o puxo em direção à porta. Sinto uma conexão instantânea com ele, como se estivéssemos destinados a nos encontrar novamente. — Vamos, não podemos ficar aqui parados, dig
Valentina CarvalhoEu engoli seco, sem saber o que aquele homem queria comigo. Eu estava tão abalada com toda aquela história. Meu pai estava doente e eu precisava falar com o médico e sair daquele lugar. Precisava de dinheiro, talvez Danilo pudesse ajudar. E o casamento? Tivemos tantos gastos.— Me esqueci desse envelope, coelhinha. A conta bancária do seu pai - ele disse, me entregando um envelope.Com as mãos trêmulas, abri o envelope e lá estava o que eu temia. Papai estava sem dinheiro. Não que fôssemos ricos algum dia, mas ele tinha uma reserva e gastou tudo com o casamento dos meus sonhos, pois ele não quis que Danilo arcasse com tudo sozinho.— Sua família está em apuros, seu pai doente e, pelo que falei com o médico, há uma esperança - ele disse, olhando para mim. — Um tratamento nos Estados Unidos.Mas como meu pai conseguiria fazer esse tratamento? Nós não tínhamos dinheiro, e mesmo que eu tentasse conseguir um empréstimo, o valor não seria suficiente.— Eu preciso de uma e
Valentina CarvalhoEle estava de costas para mim. Quando aquele homem apareceu na porta, me gerou um misto de surpresa e pânico. Ele era tão diferente de tudo naquele país, parecia um peixe fora d'água, assim como eu. Não conseguia identificar sua nacionalidade, chinês, japonês ou coreano, eu não tinha certeza.— Sou Park Joon-Ho, serei seu guarda-costas, senhora - ele disse, com um leve sotaque. Eu desci da mesa e me arrumei rapidamente, ainda um pouco atordoada.— O que um japonês está fazendo na Turquia sendo meu cão de guarda? - resmunguei baixinho, mas ele ouviu para minha surpresa.— Não sou japonês, senhora. Sou coreano - ele corrigiu, sem parecer ofendido.— Me desculpe - fiquei corada - Eu preciso aprender seu nome - eu disse, um pouco envergonhada.— Joon-Ho, pode me chamar assim, é como todos aqui me chamam - ele abriu a porta para mim - Vou levá-la até seu quarto, a equipe já está te esperando.— Que equipe? - perguntei, um pouco confusa.Joon-Ho era alto e tinha braços fo