Aos seus pés
Aos seus pés
Por: Luah Gonçalves
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Anabella tomava seu café da tarde na pequena cozinha, depois de ter ido na padaria comprar um real de pão e um pacote pequeno de pó de café. 

"Esse pão parece que é de manhã, duro e seco" pensava a jovem enquanto terminava seu café da tarde. 

Ouviu batidas na porta e uma voz conhecida fez com que revirasse os olhos. 

"Não acredito nisso" 

— Pois não, senhor Joaquim — referiu-se ao dono da casa onde morava de aluguel. 

— Anabelle você pode adiantar do mês que vem? — de longe Bella conseguiu observar seus olhos vermelhos, certamente estava drogado como das outras vezes. 

— Não posso, faz duas semanas que paguei o aluguel deste mês. - disse direta ignorando a cara de contragosto que Joaquim fez. 

— Está bem menina, estava precisando. 

— Claro! E a propósito é Anabella, com licença. 

Fechou a porta sem dar tempo de o senhor responder. 

 

"Mais era só o que me faltava, se não aguenta sustentar vício é só parar, pede ajuda, mas tente parar. Todos sabem que ele só pede dinheiro para usar drogas" pensou enquanto terminava de lavar o copo usado. Secou as mãos e checou o horário, 18:20 hora certa para seguir rumo ao trabalho. 

Outra vez ouviu-se batidas na porta, franziu o cenho contrariada. 

"Espero que não seja cobrança de novo, não vejo a hora de ter minha casinha, pode demorar, mas irei ter"  

Ao abrir a porta deparou-se com seu ex namorado Diogo, o rapaz insistente não aceitava o fim que Bella deu no relacionamento de quase um ano. Muito ignorante e machista foi mostrando seu lado agressivo, fazendo a jovem recuar por trazer lembranças de quando morava ainda com o pai que se descontrolava quando bebia demais, mesmo fazendo tratamento no AA, não conseguia se manter sóbrio levando a ter recaídas e descontando a raiva na jovem. 

Agora seu ex estava ali com uma cara de poucos amigos insistindo para que Bella voltasse com ele. 

— Diogo entenda que nosso relacionamento acabou, eu não quero uma pessoa como você na minha vida. — Falou trancando a porta da casa e indo para o ponto de ônibus, provavelmente iria chegar atrasada no restaurante. 

— Eu sou o melhor pra você Ana, não vê que te amo — Disse segurando o braço de Bella fazendo-a parar e emitir um gemido de dor. 

— Me larga Diogo, está me machucando! 

— Desculpa amor, por favor aceita então minha carona até o restaurante, prometo não tocar mais no assunto. 

Mesmo desconfiada a jovem aceitou, visto que seu ônibus tinha acabado de passar quando foi segurada pelo rapaz e demoraria mais uma hora para que outro passasse. 

Diogo não tocou no assunto como prometido, porém assim que estacionou o carro em frente ao estabelecimento onde Bella trabalhava voltou a insistir. Impaciente a jovem saiu do veículo e quando estava prestes a entrar foi segurada novamente, agora com um tom de voz mais alto e raivoso o rapaz declarou: 

— Presta atenção Ana, se não ficar comigo, não haverá outro ou outra, sou capaz de acabar com a sua vida. — Seus olhos estavam fixos na menina, seus dedos apertando seu braço sem nenhuma delicadeza.  

Diogo não aceitava a sexualidade de Bella, e isso era um motivo de brigas constantes. 

— Você está me ameaçando? — Perguntou encarando seus olhos escuros e depois desviou o olhar em volta do local, várias pessoas assistia a cena ignorando por ser um casal, não fariam nada a respeito. 

— Eu posso saber o que está acontecendo aqui? 

Camille chefe de Anabella, perguntou demonstrando sua irritação. 

 

"Droga, to ferrada" pensou a jovem. 

Quando Diogo ouviu a voz firme de Camille, soltou imediatamente a jovem. Ele conhecia bem o trabalho que a gerente fazia fora do restaurante e no fundo temia. 

— Isso é um aviso Ana — Entrou no carro e saiu cantando pneu. 

Bella olhou para sua patroa que estava de braços cruzados esperando uma justificativa para o que acabara de ver. 

— Dona Camille, desculpa pelo transtorno, não foi minha intenção. — Tentou argumentar, tinha a cabeça baixa. 

— Me poupe de suas explicações Anabella, que não venha se repetir. Agora vai, você já está atrasada. — respondeu liberando passagem para a jovem. 

"Que mulher grossa" 

Passava das 22 horas quando o restaurante começou a esvaziar, Bella terminava de atender uma mesa quando viu os olhares de Camille lhe acompanhar. 

 

"É hoje que eu estou na rua" pensou 

— Dona Camille, eu posso fazer hora extra para compensar o inconveniente de mais cedo — Comentou receosa ao se aproximar. 

— Você é a funcionária que mais faz hora extra! Como disse anteriormente que não se repita e tudo fica como está. — A gerente falou sem encarar os olhos de Bella, sua mente gritava "cuidado" sempre que estava perto demais da jovem. 

— Eu faço pra me manter como posso. 

— Não precisa justificar — Camille, cortou sua fala. Para ela quanto menos sabesse da vida de sua funcionária era melhor. Sentia que Anabella poderia ser um problema, este o qual evitaria o máximo que pudesse. Não queria agir com grosseria, mas achava que assim evitaria intimidades. 

— Com licença — Bella se retirou da recepção praguejando aquela mulher mal amada, porem linda aos seus olhos. 

"O que tem de grossa, tem de atraente" falou para si. 

As onze horas foi para o ponto de ônibus, distraída ouvindo suas músicas anos 80, não percebeu quando o carro de Diogo estacionou próximo a ela. Apenas notou quando esse buzinou várias vezes chamando sua atenção. Não querendo mais problemas continuou sentada no banco atenta para os ônibus que passavam. 

Tudo que Bella não queria era ter que discutir novamente, ela notava que a cada vez que uma briga surgia ficava pior a comunicação entre eles. 

Mesmo sendo muito apegada ao ex namorado tinha certeza que foi a melhor decisão ter terminado. Porém ainda gostava dele, então evitaria qualquer tipo de carinho ou bajulação, para não ter uma recaída. 

Diogo, insatisfeito por ter sido ignorado foi até Bella, com a conversa de sempre que iria melhorar, ser diferente, menos agressivo, que só agia assim na hora da raiva mais que há amava muito. Se não fosse a experiência frustrada de todas as vezes que deu essa chance a Diogo, certamente Bella iria ceder outra vez, mas estava determinada a não reatar este relacionamento abusivo. 

Ignorando a falação do rapaz, assim que seu ônibus apontou fez sinal e entrou deixando-o vermelho de raiva. 

"De problemas já basta a minha vida" pensou. 

Chegando em casa foi direto tomar um banho, debaixo do chuveiro ficava se questionando em como sua vida mudou em tão pouco tempo. A mãe falecida, o pai alcoólatra desde sempre, a mudança que teve que fazer para não continuar apanhando do pai quando chegava bêbado em casa a culpando de que a morte de sua mãe era por sua causa, a bolsa de estudo que não conseguiu ganhar para fazer faculdade, o namoro que passou de saudável para abusivo de repente, ou talvez sempre fosse tóxico e nunca percebeu. 

Com todos os acontecimentos se permitiu chorar, fazendo assim suas lágrimas misturar com a água quente que caía sobre seu corpo. Bella, por fora mostrava uma força fora do comum, mas quando estava sozinha no seu mundo, desabava em lágrimas e pedia para que o amanhã fosse um dia melhor. 

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