Capítulo 2

     A aula da Profa. Dimond seguia cruelmente maçante, ela apenas passou um enorme texto sobre Gramática Contemporânea no quadro holográfico para a turma digitar no aparelho eletrônico. O texto rolava no quadro e os alunos digitavam, por duas horas, enquanto ela ficava sentada na cadeira mexendo no computador. A turma já estava cansada de reclamar e também cansada de receber a mesma desculpa: “É para testar os reflexos e a percepção de vocês”. A Srt. Dimond é professora de comunicação, ensina a falar e digitar corretamente. Ela possui um conhecimento qual foi condecorada como a melhor Docente da Sociedade, porém é uma mulher amarga e pessimista, ninguém nunca a viu sorrindo. Ela é magra do olhos azuis e do cabelo castanho-escuro, curto em forma de capacete e liso. Sempre usava um vestido preto justo e sem mangas e maquiagem suave. Qualquer vestígio de beleza naquela mulher era ofuscado pela sua carranca.

     Após ter acabado o texto holográfico, a professora esperou alguns minutos até soar o sinal do intervalo, que começava às dez horas e terminava onze. As aulas só eram liberadas doze horas da tarde, ou seja, os estudantes tomavam aula por três horas em duzentos e quatorze dias por ano, equivalente a seiscentos e quarenta e duas horas por ano (os trinta primeiros dias e o as trinta últimos dias do ano, também os sábados e domingos, são considerados como tempo de ócio das atividades acadêmicas). No Pátio de Refeição – que é inteiramente branco assim com todos o Instituto – as turmas são separadas por mesas transaparentes, cada mesa pertencia a uma turma e tinha vinte cadeiras. Havia dez turmas, as cinco primeiras são dos alunos mais novos da Primeira Associação, e as cinco ultimas são dos mais velhos. As pessoas da Sociedade entravam no Instituto Acadêmico para aprender, elas passavam por dez fases de ensino, uma a cada ano, depois de concluida, elas procuravam um setor para se ocupar na Sociedade. As profissões na Sociedade eram poucas mas necessarias como: médicos e cientistas, professores, militares, e outras poucas para manter a ordem e comunhão da Sociedade.

     Todos da turma número dez se sentaram na mesa e começaram a conversar, o único lugar onde os alunos podem ficar à vontade é no Pátio de Refeição e com muitas limitações. Abelle sentou-se ao lado de David propositalmente. David observou a turma conversar e decidiu arriscar um diálogo com Abelle.

     — Então você era a melhor da turma numero nove?

     Ela sorriu.

     — Acho que sim, mas é difícil ver um aluno da tuma numero dez ser rebaixado. Nas outras turmas acontece sempre, a cada dois meses para ser mais específica.

     — Bom, essa é a segunda vez, mas a própria aluna que se deixou ser rebaixada.

     — Mas, por quê?

     — Ela não aguentava mais a professora da turma.

     — A Srt. Mara Dimond? Nossa! Ela não estava bem hoje não é?

     — Oh! Acredite, ela estava ótima hoje, você ainda não a viu mal-humorada.

     Abelle gargalhou tão alto que teve que tapar a boca com as mãos para abafar o som. David sorriu junto com ela.

     Nesse momento, uma porta que dá para a cozinha se abriu automaticamente saiu varias mulheres de vestidos e tocas brancas, parecidas com as de mergulho, empurrando mesinhas rolantes de metal entre as turmas e colocando um prato e um copo ambos brancos e filmados com a refeição dos alunos. Ninguém se alimentava enquanto uma voz diária no auto-falante não dissesse a famosa frase de permissão: “Eis a vossa refeição, aproveitem bem e não vos esqueçam de agradecer, porque com gratidão, tudo fica melhor”. Daí então todos comeram e beberam.

     — Abelle — disse David —, agora que você é da nossa turma, a gente vai se encontrar hoje no Instituído da Saúde.

     O Instituto da Saúde é o lugar onde todos gostam de estar, pois lá se é feita varias atividades coletivas ou individuais para cuidar da saúde do cidadão. Cuidavam do corpo, da mente e do espírito. É um lugar no qual se quebra a monotonia de casa e estudo.

     — Com certeza — respondeu Abelle —, hoje é aula de artes marciais, a melhor aula de luta.

     As aulas de luta no Instituto da Saúde são feitas as terças e quintas, existe uma escala que mostra qual tipo de luta esportiva estava programada para o dia, também tinham aulas com armas bélicas. Nunca disseram para os cidadãos qual era a necessidade de aprenderem obrigatoriamente a lutar, já que estavam totalmente seguros em uma cidade cercada com concreto reforçado e cheia de militares. Estavam fora de perigo, mesmo assim, não questionavam sobre as aulas, até porque para os jovens eram as melhores atividades na Sociedade.

     Acabando o intervalo, todos os alunos voltaram para as sua classes. A Prof. Dimond ainda estava sentada na frente do computador tomando café. Todos se sentaram em seus lugares, a professora fechou a porta, levantou-se da cadeira e em frente a tuma disse:

     — Eu quero que vocês leiam aquele texto que mandei copiar e digitem em seus aparelhos uma dissertação, depois enviem pra mim que eu vou julgar a gramática de todos. Eu vou aqui e volto no ultimo horário, quem não enviar nesse período vai ficar sem a nota. — E saiu sem mais delongas.

     Alguns alunos proferiram imprecações contra a Srt. Dimond, e riram de uma forma que não era permitido na presença da professora.

     David e Abelle foram os primeiros a terminarem o exercício. David é o mais inteligente da turma e finalmente, ele achou alguém a sua altura. Ao invés dele ter antipatia por ela, a cada minuto juntos, ele ficava mais próximo dela. Eles conversaram tanto em tão pouco tempo e oportunidade que nem parece que se conheceram no mesmo dia.

     O ultimo sinal tocou, já era hora de ir pra casa. Interessante é que o sinal não era um barulho insuportável parecendo com sino de um corpo de bombeiros que tine em momento de urgência, era uma melodia rápida de piano. Enfim, neste século não existe mais Bombeiros, nem Pianos. O som era produzido por um aparelho eletrônico.

     — Por que você não vai pra casa de monorraunde? — Perguntou Abelle, referindo-se às motos com apenas uma única roda, e são personalizadas de acordo com o interesse do cidadão, porém as motos não são mais conhecidas. Todos na Sociedade possuiam uma, exceto carro, somente os militares tinham.

     — Prefiro caminhar, eu vejo todo mundo andando pra lá e pra cá em suas monorraundes a todo instante, daqui a algum tempo ninguém mais vai colocar os pés na rua. E caminhar melhora minhas condições fisiológicas.

     — Olha, eu nem tinha parado pra observar isso. Você sempre tem um ponto de vista sobre as deuteroses da Sociedade? — Ela perguntou enquanto caminhavam para casa.

     — Para ser sincero, sim.

     Eles riram.

     — Eu também, qualquer dia desses a gente possa trocar ideias, podíamos até apresentá-las ao Principal.

     — Não, ficou maluca!?

     O Principal é como se fosse o prefeito da Sociedade, somente um Militar poderia ser elegido a Principal por serem mais austeros, e a eleição é feita entre eles mesmos, dentro da Corporação de Elite, os demais cidadãos não podem votar. Não havia democracia.

     — Por que não David, pense bem, nós estaríamos compartilhando informações que poderiam beneficiar as pessoas, não seja tao narcisista.

     — Abelle, preste atenção, agora não dá pra conversar porque estou perto de casa e não posso demorar nenhum minuto pra chegar, longa história, depois te explico. Mas quando acabar a aula de artes marciais a gente conversa sobre isso, certo!?

     — Certo! — Disse a garota estranhando o suspense dele. — Pelo menos dá tempo de me dizer onde é a sua casa.

     — Claro — disse ele já se afastando —, é a última desta Associação, 15 F.

     — Sério?! Que ironia, a minha é a 1 A, a primeira desta Associação.

     — É a ironia do destino — concluiu David.

     Da mesma forma que os alunos ficam na frente do Instituto Acadêmico esperando abrir, assim ficam na porta da Área de Treinamento de Lutas Arcaicas e Contemporâneas, no Instituto da Saúde, esperando abrir as exatas quatorze horas. Abelle já estava impaciente, as portas só ficam abertas por dez minutos e David ainda não tinha aparecido. Todos já tinham entrado e formado suas duplas e cada dupla já tinha um mentor. Só faltava o parceiro dela aparecer. Seis minutos se passaram e David apareceu na entrada do Instituto correndo. Conseguiu entrar a tempo.

     — Onde você estava? — Quis saber a garota.

     — Fazendo as coisas de casa.

     — Fazendo o quê?

     — Você sabe, arrumando as coisas antes que minha mãe chegue.

     — Afffi! David, era só programar o Android Doméstico para arrumar sua casa. Não é tão complicado. Ou será que você conseguiu quebrar…

     — Não, não é isso. É que eu prefiro mão-de-obra mesmo, gosto de fazer minhas coisas com minhas próprias mãos. Também não confio muito nesses robôs, prefiro-os desativados.

    Abelle suspirou.

    — Ah David, você é estranho. Okay, vamos lá.

     Os dois caminharam até uma área vaga para treinarem, e encontraram um dos mentores fazendo aquecimentos. Era o mentor Chiang, um jovem asiático de vinte e sete anos, bronzeado e musculoso, popular entre as garotas por ser bonito e carismático. Ao se virar, ficou surpreso por encontrar os dois juntos.

     — Eu não acredito, é você a nova transferida para a turma número dez. — Chiang a comprimento e Abelle retribuiu com entusiasmo. — Pra falar a verdade eu já esperava, que um dia você chegaria lá.

     — Vocês se conhecem?— Perguntou David.

     — Como não, ela é a melhor lutadora que eu já vi. Ela pegou rápido todos os estilos de tuta em pouquíssimo tempo. Agora o que me surpreende é o fato de ela estar andando com você.

     — O que tem ele? — Perguntou Abelle.

     — Justamente por ele ser o melhor também, vocês são rivais. Coincidência vocês andarem juntos. — O mentor olhou-os com um pouco de malicia. — Eu até julgaria os dois empatados. Mas, vamos tornar as coisas interessantes por aqui?

     — A gente acabou de chegar, não vai ter aquecimento? — Disse David.

     — Não… Vocês já nasceram aquecidos. — O mentor entrou em uma sala e voltou com uma caixa de metal sobre uma base com rodas com desenhos relevados, parecia uma escritura de origem asiática.

     Ao abri-la, o mentor mostrou quatro espadas de prata que brilharam com a luz do sol que adentrava pelas janelas.

     — Lindas, não são?

     — Mentor…

     — É o seguinte —, interrompeu o mentor. — Essas espadas são de verdade, então cuidado para não ferirem um ao outro, e acredito que não farão.

     — Você é muito louco. — Disse Abelle.

     — Então eu quero uma luta justa, sem golpes baixos e perde quem pedir pra parar. Agora subam na ringue e arrasem. — Disse o mentor se referindo à plataforma retangular no meio do salão erguida a meio metro do chão, segurada por quatro escadas um de cada lado, todas feitas de borracha, para que ninguém que caia nelas fique com qualquer hematoma.

     David e Abelle se entreolharam, nunca lutaram de verdade, muito menos com uma pessoa que acabou de se apegar.

     As espadas eram leves e fácil de manusear. Quando eles subiram na plataforma com as espadas nas mãos, todos que estavam ali presentes pararam suas atividades e ficaram ao redor dela. Houve muitos murmúrios até que o mentor Chiang subiu no ringue e falou através de um otofone que está encaixado em seu ouvido e conectado nas caixas de som do salão.

     — Atenção, atenção por favor. Primeiramente boa tarde, segundo, quero mostrar para vocês o que é uma luta de verdade, estes dois jovens são os melhores lutadores que eu já ensinei em toda a Sociedade Nordeste, porém o mérito é só de um, então agora haverá um desempate, quem é o melhor, a garota ou o garoto? — A massa gritou e se agitou. Uns gritavam o garoto, outros gritavam a garota, David era mais popular que Abelle, mas isso não contava agora. — E que comece a luta. — Ouviu-se um som de gongo nos alto-falantes, Shiang desceu da plataforma e observou. A multidão gritava, realmente as coisas iam ficar interessantes como disse o mentor.

     David não podia pegar pesado com uma garota tão doce, ele decidiu entrar na clima do entretenimento e se posicionou para a luta. Abelle percebeu o situação, e demonstrou que não era fraca, sua feição de meiga converteu-se em selvagem, posicionou-se para atacar e deu o primeiro golpe, David sentiu sua energia fluir, sentiu que ela realmente era boa com as espadas e estranhamente forte para uma garota magra e bonita.

     Eles lutaram com muita técnica e perfeição, ninguém jamais viu aquilo, somente nos filmes holográficos que são passados nas aulas de história. Os minutos se passavam e o empate prevalecia, os dois são bons, mas o garoto sem duvida era mais forte, David nem está depositando toda sua força e permanecia firme e sem fadigar. Abelle também não se fadigou, mas ela percebeu que realmente ele era mais forte, fingiu que tinha perdido, para não perder de verdade e ficar mais constrangida, ela pediu pra parar. A multidão fez um som de dó.

     David percebeu que ela perdeu intencionalmente, mas não sabia do verdadeiro motivo. Era um jogo de psicologia reversa. Abelle não era mais forte do que ele, mas podia se considerar mais esperta.

     A diversão acabou, o mentor Shiang Li subiu no ringue e declarou o vencedor, houve vaias e aplausos, depois voltaram cada um para sua atividade de antes. Geralmente quando alguém luta no ringue, as demais pessoas também sobem para mostrarem suas habilidades, mais depois do show de hoje, ninguém mais se manifestou, como numa aula de artes, quando um dos alunos apresenta uma pintura tão magnífica que os outros ficam com vergonha de mostrarem as suas.

     A aula de Lutas terminou, Abelle e David se despediram do mentor e foram embora juntos. Abelle então lembrou que eles tinham um assunto inacabado.

     — Sim amigo, agora já pode me falar sobre aquela conversa do início.

     — Bom, eu não vou prolongar muito mas, você sabe como é a política daqui não sabe?

     — Sim.

     — Somente os militares podem se tornar um Principal, somente eles podem votar, somente eles tomam as decisões na Sociedade e eles não aceitam ideias de melhoria.

     — Mas por que não?

     — Porque para eles não existem melhorias, do jeito que está é bom o suficiente para manter os habitantes em Paz e organizados.

     — David, como você sabe disso, de onde tirou essas conclusões?

     — Por favor, não conte para ninguém. Olhe, minha mãe trabalhou um período na Corporação de Elite, fazendo exames nos militares que foram para fora da muralha. Portanto, ela tinha acesso ao sistema de lá, para informações dos pacientes, é uma revisão anual. Foi quando ela ela acessou uma pasta confidencial que estava aberta, e viu nomes de pessoas que ela conhecia, outras não, e estavam marcadas como INCOMPLACENTES. E nos registros de cada uma, haviam anotações de ideias para melhorar as condições da Sociedade. Minha mãe logo deduziu que eles não toleram ideias de melhoria, e me avisou que eu não divulgasse nem compartilhasse nada desse tipo, pois não podemos ir contra o sistema. Afinal, eles são nossos protetores.

     — Mas David, já pensou que sua mãe pudesse ter se equivocado com isso, e daí que umas pessoas foram marcadas como incomplacentes, acredito que estas pessoas estão muito bem agora.

     — Ah sim, esqueci de mencionar, que essas pessoas receberam lavagem cerebral. Uma delas ficou débil.

     — Nossa, essa parte me impressionou. Mas por que isso? Qual a finalidade deles.

     — Eu não sei, só sei que se nós quisermos sobreviver, temos que nos calar.

     Já esva escurecendo quando David chegou em sua casa de cor azul-anil com porta de metal, sem maçaneta, apenas uma forma retangular de vidro com identificador de digitais. Todas as casas têm um identificador de digitais, somente as pessoas registradas na casa tem acesso para abri-la. Ao entrar, David encontrou sua mãe no computador da sala.

     — Como foi seu dia amor? — Perguntou a Srt. Deborah sem desgrudar os olhos do PC.

     — Muito bom mãe, foi um um dos melhores dias… — David parou de falar ao perceber que sua mãe o olhava com desconfiança. — O que foi?

     — Eu é que pergunto, o que foi isso. David, você acha tudo chato, sem graça, um purgante como sempre diz, agora chega animado. Me conta, você fez uma amizade hoje, não foi, provavelmente com uma garota, ela bonita?

    — Mãe, eu odeio quando a senhora fica deduzindo as coisas… E acerta.

    — Ahhh. — Insinuou a Srt. Deborah sorridente.

    — Porém eu não estou interessado nela, acho que é amizade. De verdade.

    — Oh meu filho, já está na hora de namorar. Deve ser por isso que você acha tudo chato…

     — Mãe!

     — Okay, já parei. Vou continuar avaliando esses exames e te deixar em paz.

     — A Senhorita é quem devia parar de trabalhar um pouco. Quase eu não te vejo.

     — Não se preocupe, mês que vem vou entrar em ócio e estarei só para você. Mas David, sai um pouco, vai farrear com os amigos, você é muito caseiro. Traz sua amiga aqui um dia pra mim conhecê-la.

     — Vou pensar. — David deu um beijo na testa da sua mãe foi se trancar em seu quarto.

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