Pov's Annabelle.
Nova York. Cabana 20 horas 30 minutos, Sábado. Richard é um psicopata, não sente emoção. Quando o conheci foi num hospício, estávamos naquele lugar nojento, éramos excluídos da sociedade. Fomos considerados pelos psiquiátricos incapazes de sentirmos afeto. Quando a Mel nasceu, foi bem difícil... não tinha vínculo nenhum com a menina, cuidava dela igual um brinquedo. Choro dela me irritava, surtava muitas vezes em fazê-la parar de chorar. Tinha medo em um dos meus surtos, eu acaba a machucando, porque meu psicológico sempre foi muito fodido. — Pra onde vai? — Não é da sua conta. Richard me barra, pondo-se na minha frente. Reviro olhos. — Vai continuar me ignorando, Annabelle? — O que você acha?— dou de ombros. — Caralho, já expliquei que não foi culpa minha, acredita em mim. Suspiro fundo, ouvindo sua ladinha. — Ah é? Vou fingir que acredito! – É sério, Annabelle, acha mesmo que vou aturar outro bebê nesta porra?— seu tom se altera.— Já basta a pestinha. — Não te dou o direito de falar assim da Mel. Deixa de implicância com a menina, seu louco.— o repreendo, e seus olhos ficam indignados. — Eu amo a pestinha. — Deixa de mentira, Richard, você não ama ninguém. Mel sente medo e nojo de você.— cuspo as palavras, fazendo-o ficar incomodado. — É culpa sua, caralho! Você que vive enfiando merda na cabeça da menina. — me acusa. — Até parece que ela não sabe dos seus crimes! — Nossos crimes.— ele me corrige.— Você também é cúmplice, Annabelle, não se esqueça disso. Começo a rir da sua cara, por soar como uma piada. — Quem é o manipulador aqui é você, Richard. Se um dia a polícia bater aqui, direi que sou uma pobre vítima a mercê de um psicopata.— ensaio o discurso.— Ainda direi que fui forçada a fazer coisas absurdas, contra a minha vontade.— finjo uma cara de choro, ao dramatizar. — Como você consegue ser tão descarada?— ele me encara totalmente abismado, enquanto gargalho alto. — Sou pior do que você, lindo.—encho a boca.— Então da próxima vez não me ameaça. Se eu quiser ter o bebê, eu vou ter e você não vai me impedir. Quem manda em tudo aqui sou!— aponto.— Não se esqueça que fui que matei o antigo proprietário desta cabana. — Você é louca, Annabelle!— seu tom ressalta. Logo preencho o ambiente com a minha risada estridente. — Não tão louca, como você. Richard sai, revoltado, após. Com certeza vai matar alguém, ele sempre fica fora de si quando discutíamos. Avisto Mel com a carinha de sono, vestida com seu pijama e um ursinho de pelúcia nas mãos. Ela coça os olhinhos, toda manhosa. — Mamãe, vocês estavam brigando de novo?— sua voz infantil soa, contendo um bico em seus lábios. — Que nada, filha! Seu pai estava comentando que vai comprar uma bicicleta bem linda pra você, princesa.— minto, forçando simpatia. — E vai queimar aquela bicicleta horrorosa que velha que te deu. — Mas eu não quero queimar o presente que ganhei da minha avó. Bufo baixinho, incomodada. – Que vó, Mel? A velha é uma pilantra, eu vi quando ela te deixou aqui, nem me cumprimentou direito, foi super mal-educada. Ontem quando ligou para mim, parecia outra pessoa. Tudo é culpa do Richard, que permitiu que você dormisse na casa dos outros. Faço a cabeça da minha garotinha, que murcha completamente. — Mas eu gostei, lá tem uma cama super confortável.— a olho de canto de olho.— Tenho um quarto só para mim. — Você prefere a casa da velha, do que aqui?— a pergunto, me sentindo trocada— Responde, Melissa! — Não mamãe, não é isso. Gosto daqui, mas só tem mato. — Pessoas como nós, Melissa, devemos está em lugares como esse, isolados de tudo e de todos. Você não se sente feliz morando na floresta? Ela faz uma careta de medo da minha reação, balançando a cabeça em negação. Suspiro muito fundo. — Pois então arruma tuas coisas, vou mandar Richard te levar para morar com a velha. Meus olhos ficam tão vazios quando pronuncio. Fecho a mão em punho, querendo socar a parede várias vezes, ao me sentir tão impotente em não dar uma vida perfeita a ela. — Não mamãe, não quelo ficar sem você.— rapidamente se agarra a mim. — Te amo. Travo ao ouvir a frase, ficando sem reação, ao não corresponder o abraço. No fundo, espio Richard observando nos duas do lado de fora da cabana, com o cigarro na mão. Seu olhar obscuro percorre em direção à mim, sentindo inveja ao não fazer parte do momento. Desvio à atenção, olhando pro rostinho sapeca da minha criança que sorri tão inocente. — A mamãe tem uma novidade para contar...— faço um ar de suspense, enquanto sorríamos uma para outra. — E o quê é? A curiosidade soa em sua voz infantil, que Mel não consegue conter o entusiasmo. Seus olhinhos chegam a brilhar. Embora possa parecer estranho, acabo ficando toda boba com seu jeitinho sapeca. Daí ponho sua mãozinha sobre a minha barriga e falo: — Estou grávida! — Grávida mamãe? Oh meu Deussss, eu vou ganhar um irmãzinho. — Ou irmãozinha.— declaro, sorrindo. É bem na hora que o outro adentra, com a cara fechada. Logo desfaço o sorriso, com o clima pesado que se forma. — Não vai comemorar com a gente, Richard?— o provoco. Daí ele vira a cabeça, incrédulo. — A mamãe vai ter outro bebê, papai.— Mel fala, toda feliz. — Agora seremos uma família de quatro. Ele entreolha para mim, como se fosse uma coisa absurda o comentário. E no fundo devo concordar. O que serão dessas crianças, quando nos cansarmos delas?