O som suave da música preenchia o estúdio, misturando-se ao eco ritmado dos meus passos contra o piso de madeira. Eu me sentia leve, energizada, como há muito tempo não me sentia.
Desde que voltamos de Londres, algo dentro de mim parecia ter despertado. O relacionamento com Nicolas florescia a cada dia, a possibilidade de um teste para uma grande produção da ARAP pulsava na minha mente, e pela primeira vez em anos, eu me permitia sonhar.
Eu tinha enterrado esse sonho quando engravidei pela primeira vez.
Miguel nunca me incentivou a voltar. Dizia que era melhor eu ter algo estável, que balé não me daria segurança, que eu devia pensar no futuro da nossa família. E quando a segunda gravidez veio, seus argumentos se tornaram ordens.
Mas a verdade?
Eu só tinha 23 anos.
Pela segunda vez, sim, mas ainda eram apenas 23 anos.
Eu ainda tinha um futuro pela frente.
Fechei os olhos por um instante, deixando meu corpo seguir a música, entregando-me ao prazer do movimento. Era bom me sentir assim.