HENRIQUE
Alicia continuou com as sessões essa semana, ou tentava fazer, porque para mim, essas coisas são besteira. Continuo desacreditado que essa garota será capaz de me fazer andar e que tem vinte e quatro anos. Meus pais estão cantando vitória, porque conseguiram com que eu aceitasse uma fisioterapeuta, estou fazendo isso porque as palavras de Ethan pesaram na minha cabeça. Ele voltou a me visitar e começou a dizer coisas pesadas, acabei me explodindo e discutindo com ele. Pronto, perdi meu único amigo que estava ao meu lado. A garota está bem aqui agora, na minha frente, recolhendo suas coisas para ir embora. Ela veio hoje no horário da tarde e parando assim, para observa-lá, confesso que sua beleza é de outro mundo, seu rosto, seus olhos azuis, essa boca, um corpo lindo, ela realmente é uma garota no qual eu cairia na armadilha facinho. – Bom, essa semana terminamos, quero você semana que vem fora desse quarto. - Acabo rindo e ela me olha seria. – Não estou brincando. Nesse quarto eu não consigo fazer nada senhor Foster. – O que você pretende fazer? - Ela revira os olhos. – Eu preciso de espaço, de equipamentos para começarmos com exercícios de verdade. - Suspiro fundo. – Acha mesmo que vai conseguir me tirar dessa cadeira de rodas? – Eu? Isso não depende de mim, depende de você. Estou fazendo meu trabalho, mas não posso obrigar o cabeça dura do senhor, ter força de vontade de tentar. Nossa! Ela me desafia, não correu de mim nessa semana mesmo eu sendo tão grosseiro com ela. – Então, tenha um bom final de semana. Ela se vira para sair, mas ao abrir a porta aparece Ethan. O mesmo franze a testa, olhando para ela de cima a baixo, abrindo um sorriso de canto, aquele sorriso que ele faz quando está a caça. – É desculpa.. - Alicia abaixa a cabeça, dando espaço para ele, mas o mesmo da um passo para o lado e faz um gesto com as mãos. – Por favor senhorita, as damas primeiro.Ele me olha, com uma cara de que porra que gata. Reviro meus olhos e ela passa por ele, sem olhar, ao contrário de Ethan que a come pelos olhos.
– Caramba que mulher! - Ele entra e eu o encaro, sem nenhuma reação. – Não me disse que sua fisioterapeuta era gata desse jeito. – Ethan o que você tá fazendo aqui? - Ele suspira e se aproxima, sentando na beirada da cama, apoiando suas mãos sobre as mesmas para trás. – Me desculpar ou talvez não, acho que valeu a pena aceitar esse tratamento, não valeu? - Ele abre um sorriso sínico. – Você é um babaca Ethan. – Ah para Henrique, você aceitou isso, não foi só por causa das minhas palavras, foi? Estreito meu olhar e não consigo responder, porque eu não consigo responder? É claro que foi por causa das palavras dele, meus pais também estão sofrendo por minha culpa, principalmente minha mãe, que largou a casa deles para se mudar pra cá, para poder ficar de olho em mim. – O que foi? O gato comeu sua língua? Ou melhor, uma gata loira, dos olhos azuis, comeu sua língua? - Ele solta uma risada, fecho meus olhos para me controlar, respirando fundo e os abro novamente. – Você veio até aqui pra arranjar confusão de novo? – Qual é cara? Confusão? Você que não aguentou ouvir a verdade. Eu vim aqui ver como você está. – Eu estou ótimo, obrigado. Ele revira os olhos e se levanta, caminhando para trás de mim. Sinto sua mão na cadeira e empurrar a mesma, me levando até o espelho. – Mano você tá se vendo no espelho? - Eu olho, sem entender o que ele está querendo com isso. Desvio, olhando para ele pelo reflexo. – O que você quer Ethan? – Vê algo de diferente aí? – Tá zoando com a minha cara? - Falo irritado. – Meu Deus, você sempre foi cabeça dura mas agora está impossível. - Ethan se afasta, se sentando novamente na minha cama. Conduzo a cadeira de rodas para virar. – Você continua a mesma pessoa Henrique, o mesmo cara que as mulheres caem em cima. – A diferença que agora sou um deficiente. - Ele revira os olhos. – Você consegue viver uma vida normal se quiser. Todo o pessoal está com saudade de te ver nas festas zoando. – Como vou zoar numa cadeira de rodas? É fácil falar. – Eu desisto de você. - Ele se levanta e segue para porta. – O pessoal vai sair para comemorar o aniversário da Natielli, se quiser comparecer me avise, você foi convidado também. Ele sai e eu resmungo, o pessoal está com saudade? Desde que estou aqui, ninguém veio me visitar, apenas Ethan e um outro amigo, mas uma única vez também. Surge uma batida na porta, reviro meus olhos. – O que foi Ethan? – Sou eu irmão. – Entra! - Ouço a porta abrir e ela entrar, com um sorriso que eu bem conheço, de como se tivesse tramando alguma coisa. – Como você está? – Na mesma coisa. - Sorrio ironicamente. – É serio Rique. As sessões de terapia? Fiquei sabendo que você fez elas essa semana e a garota? – O que tem? – Para, ela é linda! - Dou de ombros e ela suspira. – Você veio aqui pra falar dela? – Não. Quer dizer, também. Lembra que temos um evento pra participar, então, será na próxima semana. – Eu tinha me esquecido disso. – Noah vai comigo, porque não convida ela para ser sua acompanhante? Estreito meus olhos a ela, o que? Convidar minha fisioterapeuta para um evento? Ela só pode estar gozando com a minha cara. – Vai irmão, você não se sentirá sozinho, não vai pegar tento no pé de Noah e acho que seria interessante. – Interessante? – Você está numa cadeira de rodas, não significa que não pode paquerar. - Acabo soltando uma risada de nervoso. – Aquela garota só está fazendo seu trabalho, porque pessoal, me odeia. – Ela não odeia você, é só porque ela conhece essa versão ranzinza, ogro que está sendo. Mas sabe que não é dessa forma que eis. - Kauany suspira. – Você é muito mais que esse negócio que está transformando você. Se afastou de tudo e todos, principalmente da sua família irmão. Eu estou sobrecarregada e precisando de você naquela empresa, precisa erguer a cabeça e sair desse quarto. - Ela se levanta e se aproxima de mim, me abraçando. – Eu espero que meu irmão volte, só isso. E sem dizer mais nada, ela sai, me deixando sozinho com meus pensamentos. Agora, deu pra todo mundo querer me dar uma lição de moral, é fácil falar, é muito fácil quando não é você que perde uma pessoa que ama e para numa cadeira de rodas, onde todos te olham com pena.(…)ALICIA Estou exausta, essa semana foi dura e ainda mais ter que aguentar o senhor ranzinza, eu não sei nem como ele aceitou isso, já que todos correram com sua grosseria e não deixou fazer exatamente nada, qual a diferença ser eu? – Querida, Gabriela está aí. Meu pai gritou atrás da porta do meu quarto, rapidamente me levantei, amarrei meu cabelo em um coque e desci, encontrando com minha amiga, minha irmã que eu nunca tive, entrando pela porta da frente. – Oi. – Oi sis, como você está? - Ela se aproxima, me abraçando apertado, solto todo o ar do meu pulmão, deixando sair para fora a tensão que foi essa semana. – Bem e cansada, não via a hora de chegar final de semana. – Nem me fala, essa vida de adulto não é fácil. - Ela se afasta e cumprimenta meu pai, seguimos em seguida pro meu quarto. – Ainda está com o senhor ranzinza? – Infelizmente sim. - Ela abre um pequeno sorriso. – Ouvi falar que vai inaugurar um pub, o que acha de irmos? - Eu a olho, estreitando meus olhos e a mesma faz uma cara me convencendo de ir. – Está bem, estou precisando mesmo relaxar. – Isso ai garota, vamos nos arrumar. Ela pula da minha cama, mexendo na minha penteadeira. Coloco uma playlist e enquanto tocava, a gente se arrumava dançando e cantando, nas nossas brincadeiras, somente ela para me fazer relaxar. Conheci Gabriela na hora em que eu mais precisei na minha vida, na época que havíamos descoberto a maldita doença que levou minha mãe. Ela foi a irmã que eu nunca tive, que me entende, que me dá bronca quando é preciso, que basta um telefonema já está batendo na minha porta, minha sis do coração. – Arrasamos!!!! - Falamos juntas, rindo. – Partiu então? – Boraaaa! Descemos as escadas, meu pai estava no sofá, assistindo seu programa de tv. Ele ergue a cabeça e se levanta na mesma hora, admirado. – Meu Deus! Nossa! Vocês estão lindas. – Estamos, não estamos tio? - Gabriela se aproxima dele e o abraça. – Estão. Minhas meninas cresceram. – Vamos sempre ser suas meninas papai. - Me ajunto a eles para o abraço. – Se divirtam e lembram-se, não façam nada do que eu não faria. - Nós rimos e se despedimos dele, seguindo pro carro e dando partida pro local novo. Chegando, estava lotado, pessoas bonitas o todo o lado, o lugar então? Era super moderno, aconchegante, com o som de um showzinho ao vivo. Gabriela gruda no meu braço, me puxando para dentro, vejo ela acenar pra alguém, a acompanho e nosso grupinho de amigos, se encontravam por ali. Cumprimentamos todos e se ajeitamos em uma cadeira. Chamamos o garçom, pedindo um drink e aproveitamos a noite, com muita conversa e risada, estava muito precisando disso. Havia um aniversário sendo comemorado, acabamos que cantando junto e batemos palma, mas não dava pra ver muita coisa, era uma quantidade de gente nesse lugar, que eu nem sei como era possível caber todo mundo. – Vem Licia, vem dançar. Daiane me puxa, me ajunto com as meninas, se movendo conforme a batida da música, os meninos ficaram sentado na mesa, apenas observando e afastando quaisquer urubu, que tentasse se aproximar da gente. Um rapaz loiro, alto passa por a gente e tenho uma pequena impressão, que já o conheço de algum lugar. – Meninas, já volto. - Eu aviso que estava indo no banheiro, e na volta, acabo esbarrando nesse mesmo moço. – Desculpa. Ele me olha de cima a baixo, abrindo um sorriso lindo. Fico sem jeito, levando uma mexa de cabelo pra trás da orelha. – Alicia não é? – An... sim. - Franzo minhas sobrancelhas, tentando forçar a memória, de onde eu conheço esse cara. – Me desculpe, sou Ethan, amigo do Henrique. - Ao ouvir o nome Henrique, lembro de onde exatamente o conheci, hoje mesmo quando sai da casa dele, estava na porta do quarto, claro. – Ah é claro, hoje mais cedo. - Sorrio e ele se inclina, me cumprimentado com um beijo na bochecha. – Acho que você vai adorar ver uma coisa. – Eu vou? Arqueio a sobrancelha sem entender, ele sorri e pega na minha mão, me conduzindo até um grupo. Quando me dou conta, eu paraliso, vendo o próprio na minha frente. – Olha quem eu encontrei aqui. Henrique se vira na cadeira de rodas, seu sorriso some, me analisando de cima a baixo, fico constrangida. Confesso que ele estava um gato, fez a barba, ajeitou o cabelo, nem parece a mesma pessoa de horas atrás. – Oi senhor Foster - Sorrio sem graça. – É bom saber que você saiu daquele quarto. Ele encontra meus olhos, sinto um leve friozinho na barriga, um calafrio. Vou ficando totalmente sem graça, ele apenas fica me olhando e não diz nada. – Acho que ele tá sem palavras com tanta beleza. - Seu amigo sussurra no meu ouvido, acabo rindo baixinho, de vergonha mesmo. – Eu não sabia que você frequentava esses lugares, senhorita Miller. - Olho para ele confusa. – Ann, eu também sei me divertir senhor Foster. – Por favor, aqui não precisamos ser profissionais, apenas me chame de Henrique. – Claro, como o senhor... quer dizer, desejar, Henrique. - Ele abre um sorriso, um sorriso no qual durante essa semana, eu ainda não tinha visto. – É bom, se vocês me derem licença, meus amigos me aguardam. Daqui a pouco eles vem atrás de mim. – Poxa, mas você acabou de chegar. - Desvio o olhar para Ethan, que abre um sorriso galanteador. – Porque não chame seus amigos e se ajuntem a nós? – Ah não, que isso, não quero atrapalhar. - Ethan olha para Henrique, e automaticamente, minha cabeça vira, encontrado com ele. – Não será incomodo algum. Não é cara? - Ele não diz nada, apenas fuzila Ethan, continua o mesmo ranzinza. Reviro os olhos e coloco minha mão no braço dele. – Sério, eu vou me ajuntar aos meus amigos. Bom divertimento. Aceno com a cabeça e viro, encarando Henrique, sem mostrar reação alguma, pena que a beleza não supera essa sua grosseria. Volto para o meu grupo, os meninos me olham, estreitando os olhos. – Se perdeu no caminho Lícia? - Eu encaro um e outro, aqueles olhos me julgando, me fazendo cair na risada. – Vocês dois são ridículos. - Eles se olham entre si e em seguida voltam a me encarar. – Só estamos cuidando das nossas amigas. – Somos homens Lícia, sabemos o que se passa na cabeça desses urubus. Começo a rir e eles me olhando sério, sem dúvidas, eu e as meninas sofremos com esses dois, são os amigos mais protetores que já vi, morrem de ciúmes da gente, só conseguimos ficar com algum cara, quando eles tão se pegando com alguma mulher, caso ao contrario, temos que ficar com esses chatos o tempo todo no nosso pé. – Vocês querem conversa e eu? Quero me divertir, então tchau bobões. Aceno e me viro, me ajuntando com as meninas novamente, dançando. Não demora para eles se ajuntarem a nós, um cara tentou chegar em Vanessa, mas Lucca foi para cima e o impediu. Ela ficou brava é claro, mas eu tenho certeza que ali, rola alguma coisa entre esses dois. As horas corriam depressa, já estava sei lá, no meu sétimo, oitavo drink, balançando meu corpo de um lado pro outro, com as mãos para cima, dançando junto a minha sis. – A princesa sabe se divertir. - Levo um susto ao ouvir a voz grossa, me viro e encontro Ethan, com aquele sorriso pronto pro ataque, e Henrique, com a cara de poucos amigos. – Amiga, quem são esses gatos? - Gabriela sussurra no meu ouvido. – Ahh, Gab esses são Ethan e Henrique. – O senhor ranzinza? - Acabo tossindo, tentando abafar o que ela diz, mas percebi um pequeno sorriso de canto, surgindo no lábio dele. – Prazer em conhecê-la gata! - Ethan se aproxima e a cumprimenta, em seguida, Gabriela se abaixa, dando um beijo na bochecha de Henrique e o mesmo até é gentil com ela. – Opa, alguém tá incomodando aqui? - Eles olham rapidamente pra Augusto. – Ei, cai fora daqui. - Me viro para ele, estreitando meus olhos. – Esses caras estão incomodando vocês? – Não migo, está tudo bem, sai, deixa a gente paquerar um pouquinho, vai. - Gabriela começa a empurrar ele dali, mas antes de sair, fuzila os dois com os olhos e fico morrendo de vergonha. – Meu Deus, me desculpem por isso. – Que isso princesa, seu namorado deveria mesmo ter ciúmes de você. - Eu olho para minha sis e acabamos rindo, eles ficam nos olhando, sem entender. – Desculpa, Augusto não é meu namorado. – Sério, Augusto e Alicia? Não! Não mesmo. Rimos mais ainda, Augusto é nosso amigo que torce para o outro lado, se é que me entendem. – Vocês querem tomar alguma coisa com a gente? - Eu olho para Gabriela, ela abre um enorme sorriso. – Vai, vamos, não deve ser assim tão ruim. – Eu garanto que não. - Ethan da uma piscadela em direção a ela, a mesma se enrubesce na mesma hora. – Está bem!