Capítulo 2

HENRIQUE

Eu estou sem acreditar da incompetência dos meus pais. Como eles ousaram me mandar uma garota, que nem idade tem para ser fisioterapeuta, pra me ajudar a voltar a andar? Eu já disse, minha vida acabou.

Discuti com meus pais sobre isso, tivemos uma briga feia, que mania deles quererem mandar na minha vida, caralh, eu tenho quase trinta anos e preso a uma maldita cadeira, impossibilitado de fazer qualquer coisa porra!

Mais tarde, cansado e entediado, pego meu celular, discando o número do meu único amigo, o único que ficou ao meu lado depois do acidente, tirando minha família.

*Ligação;*

– Senhor Sanders.

– Ethan tá ocupado agora?

– Ahh é você! O que houve? Pela sua voz, aconteceu alguma coisa. - Reviro meus olhos e suspiro.

– Aconteceu que estou precisando do meu parceiro de copo. - Um silêncio toma conta da ligação, mas eu conseguia ouvir sua respiração. Fico no aguardo, até finalmente ouvir sua voz.

– Em uns vinte minutos estou aí.

*Ligação off*

Eu precisava do meu único amigo que restou, a única pessoa que não tem pena de mim. Ethan e eu, fomos criados juntos, nossas famílias são amigos há anos, então o considero como um irmão, o irmão que nunca tive, já que somos somente eu e minha irmã.

– Espero que não esteja pelado. - Diz Ethan, adentrando no quarto. Reviro meus olhos, levando minhas mãos para roda da cadeira, me virando.

– Espero que tenha trazido uma bebida das boas.

– Seu whisky favorito meu irmão!

Ele me mostra a garrafa, abrindo um sorriso e se aproximando de mim. Nos cumprimentamos com nosso toque e permanecemos ali, por longas horas, bebendo e jogando conversa fora.

– Qual é Henrique? Ei tô contigo mas talvez você poderia dar uma chance e fazer essas sessões.b- O encaro e dou mais um gole na minha bebida, sentindo descer queimando pela garganta.

– Agora até você?

– Cara eu só quero o seu melhor, te apoiarei no que escolher, mas porra, a vida não é assim. Isso aconteceu por um descuido seu, a culpa foi sua.

– Porra, valeu Ethan! - Me sirvo novamente com a bebida, Ethan me dando um sermão? Caramba!

– Você fica aí se fazendo de vítima, dizendo que sua vida acabou. Acabou porque você quer, porque você ganhou outra chance, isso é por causa da Nathalia? Ela não merece seu sofrimento. No momento que recebemos a notícia de sua paralisia, ela não pensou duas vezes em ir embora. Sabe muito bem que ela estava com você, por bancar os luxos dela. Toda atitude sua Henrique, tem consequências, esse acidente aconteceu sabe muito bem porque.

Eu o encaro, mas não digo nada. Cada palavra dita por ele, era um soco de realidade no meu estômago. Ethan tinha razão, claro que tinha, eu que fui um idiota, achando que tinha a garota perfeita do meu lado e com a adrenalina no sangue, o gosto por velocidade, acabei bebendo demais da conta e me perdendo em uma curva.

– Vamo cara, a vida ainda não acabou, você precisa se reerguer, dar a volta por cima. Eu aguentei até aqui, já se foram quatro meses, agora já deu, você tem chances ainda de andar mas se demorar demais, já sabe.

Enquanto ele me dava a bronca, eu bebia. Uma coisa que fez permanecer minha amizade com Ethan nesses longos anos, foi a sua sinceridade. Não importa se isso vai te machucar ou não, o que ele tem pra dizer, ele diz e sempre, está certo.

(...)

Na manhã seguinte, desperto com a droga do meu despertador, eu nem lembro que horas eu fui dormir e como parei na cama. Me estico para desligar esse barulho irritante, minha cabeça parecia explodir, droga, eu odeio essas ressacas.

Surge uma batida na porta, " Quem pode ser a essa hora?", mas antes que pudesse reagir, ouço o barulho da mesma se abrindo e uma voz, que não me recordo muito bem.

– Bom dia senhor..... - A mesma faz uma pausa, ouço barulho de passos e uma sombra em minha frente. Forço meus olhos a se abrir, podendo avistar quem era.

– Tinha que ser você. - Levo minha mão até minha cabeça, franzindo minhas sobrancelhas. – Droga!

– Você está bem? - Seus olhos azuis me encaravam, indiferentes.

– Isso importa para você? Nem me conhece.

– Olha aqui senhor Foster, você pode não gostar da minha presença, mas estou nem ai, porque eu também não gosto da sua, mas estou aqui como profissional, então trate de ser um também.

– Ao menos poderia parar de gritar? - Ouço sua risada e a olho sério.

– Já entendi, ressaca. Pra isso você tem vontade? É isso que você quer? Virar um alcoólatra e viver pro resto da vida, mofando nesse quarto? - Bufo impaciente, quem essa garota pensa que é? – Eu já volto, fique aí.

– Como se eu pudesse fugir.

Reviro meus olhos e a mesma sai. Era só o que me faltava, não sou mais criança, sei o que estou fazendo e se quero mofar dentro desse quarto o problema é meu.

Apoio minhas mãos na cama, colocando todo meu peso e me ajeitando sobre a mesma, ficando sentado, com as costas escorada na cabeceira, piorando ainda mais minha cabeça.

– Você vai tomar esse café e beber esse remédio. Preciso começar com nossas sessões, tenho horários a cumprir. - A garota volta com uma bandeja em mãos, se aproximando e colocando ao meu lado na cama.

– Então é assim? Você entra na minha casa e ainda quer mandar em mim? - Ela cruza os braços.

– Eu não sou iguais aos outros que você fez correr.

– É, eu percebi. Vem cá, você é formada?

– Sou!

– Quantos anos você tem?

– Vinte e qua... Para de me enrolar e coma isso logo. - Vinte e quatro anos? Era isso que ela ia dizer? Não! Ela tem muito cara de ter uns dezessete ou dezoitos anos.

A garota fica ali, com os braços cruzado e me olhando de cara feia, fazendo sinal com a cabeça para eu comer, tá, agora estou me sentindo como um bebê e ela sendo a minha babá, isso está ficando constrangedor.

Assim eu faço, como algumas coisas que estava na bandeja, bebo o meu café que está bem forte por sinal e em seguida tomo o remédio.

– Satisfeita? - A encaro e ela nega com a cabeça.

– Não! Agora se levanta daí e vamos logo começar.

Olho ao redor e minha cadeira estava um pouco longe, impossível de eu alcançar. Volto meu olhar a ela.

– A senhorita poderia por gentileza me ajudar? - Faço sinal com a cabeça em direção a cadeira, ela olha e revira os olhos, indo até a mesma e trazendo até a mim. – Obrigado.

Abro um sorriso e ela força um, sem mostrar os dentes, garota maluca. Me inclino, me equilibrando na cadeira e forçando meu corpo para passar pro mesmo. Sinto suas mãos por trás de mim, me segurando e me ajudando.

– Obrigado mais uma vez. - Ela fica me olhando sem dizer nada e eu acabo abrindo um sorriso, me divertindo. – O que foi? Gosta do que vê?

– Idiota! - Ela se afasta e vai até a janela. – Veste uma camisa logo, perdemos tempo demais.

Acabo rindo da situação, conduzo a cadeira até meu closet, procurando ali por uma camiseta e vestindo. Seguida sigo para o banheiro fazer minha higienização, voltando pro quarto novamente.

– Estou aqui.

– Ótimo, vamos começar.

Ela se aproxima de mim, me fazendo várias perguntas e em seguida, examinando minhas pernas, enquanto dava uma olhada nos meus exames. Eu fico quieto, apenas observando e deixando, a garota fazer seu trabalho. Na verdade nem sei porque eu aceitei isso, eu não sinto minhas pernas e mesmo os médicos dizendo, que eu posso ter a chance de voltar a andar, não consigo acreditar. Do que adianta também? A mulher que eu amava me largou, meus amigos me abandonaram, meus pais me odeiam, literalmente, não tenho mais sentido pra viver.

– Você não é muito nova pra ser uma fisioterapeuta? - Ela estava exercitando minha perna, quando para e me encara.

– As vezes senhor Foster, aparência engana muito. - Eu abro um pequeno sorriso com a resposta dela e a mesma bufa, se levantando e pegando suas coisas. – Meu horário acabou, vejo o senhor amanhã.

– Será assim todos os dias? - Ela coloca a alça de sua bolsa em seus ombros, fechando os olhos e respirando fundo, logo volta a me encarar.

– Não, não será assim. Não ache que você não saíra desse quarto, porque eu preciso de você num espaço adequado para podermos começar a praticar.

– A praticar? Eu não quero, isso é uma idiotice senhorita Miller, eu não vou voltar a andar.

– Com seu diagnóstico médico senhor, é possível, mas você precisa se ajudar, eu sozinha não vou conseguir. - Ela ri ironicamente e cruza os braços. – Você é um idiota sabia? Tem tantos que queriam poder ter essa chance que você tem e está aí, se fazendo de vítima e desperdiçando essa chance.

– Não tenho motivos pra voltar a viver minha vidinha.

– Cuidado com o que você vai falar Henrique. – Meus olhos cruzam ao dela, acabei de ouvir mesmo? Ela me chamou pelo meu nome? – Você tem tudo, então cuidado. Tem aquele ditado né? "Quem muito quer, nada tem e quem muito tem, não dá valor a quase nada."

Ela se vira, de passos firmes andando até a porta e antes de sair, me olha.

– Espero não precisar ter que ser sua babá amanhã cedo de novo.

A própria sai sem esperar por uma resposta minha, minha babá? Ahaha, eu sou obrigado a rir, e que porra eu estou fazendo? Não acredito ainda que topei essa loucura, fazer fisioterapia para ver se volto a andar? Hã, quem garante que isso vai mesmo funcionar? Droga! Dou um soco na perna e em seguida jogo minha cabeça para trás, minhas atitudes sempre tem alguma consequência, Ethan tem razão.

(…)

ALICIA

Arggg! Eu não consigo, esse cara me irrita e me tira do sério, quem ele pensa que é falando que não tem motivos para viver a vidinha dele? Só pode estar de brincadeira comigo, mas é realmente aquele ditado: “quem muito quer, nada tem e quem muito tem, não dá valor a quase nada." Ridículo.

– Alicia?

A voz da senhora gentil soa, antes de que eu pudesse sair de dentro daquela casa. Paraliso, fecho meus olhos, respirando fundo e me viro lentamente, abrindo um sorriso simpático e abrindo os olhos, a encarando.

– Senhora Foster.

– Ah por favor querida, apenas Olívia. - Ela olha para as escadas e em seguida volta me olhar, abrindo aquele enorme sorriso. – Não acredito que conseguiu ter uma sessão com meu filho hoje.

– É... foi difícil. Na verdade apenas estudei o caso do seu filho, o diagnóstico médico.

– Mesmo assim, eu estou impressionada, ele sempre coloca qualquer um pra correr.

Ouço a porta da frente se abrindo, quando me viro encontro uma moça, muito jovem por sinal, linda, um corpo que OMG!

– Oi? - Ela abre um sorriso ao me ver e vai direto a senhora cumprimenta-la.

– Querida, que surpresa boa. Olha quero te apresentar alguém que fez um milagre acontecer hoje. Essa é Alicia, Alicia, minha filha Kauany.

É uow! Eu estou sem palavras, essa família são tudo assim mesmo? Gente com uma beleza surreal, tá, eu sei que odeio aquele cara lá em cima, mas não deixa de ser um gato, o que ele tem de bonito, não tem de caráter.

– Ah, é um prazer em conhecer você. - Estico minha mão, onde a mesma acompanha com o olhar.

Por um momento pensei que ela iria ignorar, sei lá, da forma que ficou me analisando, eu diria que ela não foi com a minha cara.

– O prazer é todo meu Alicia. - Ela pega em minha mão e me puxa, dando um abraço apertado. Achei estranho de começo, mas retribui, dando um sorriso sem graça.

– Ela é a nova fisioterapeuta do seu irmão.

– Ah sério? - Ela se afasta e me olha de cima abaixo, sinto minhas bochechas queimando, eu estava corando.

– Não só é sério, como conseguiu fazer a primeira sessão hoje.

– Ai meu Deus! Não acredito, menina o que você tem? Isso é realmente novidade pra mim.

Sabe aqueles momentos que você quer se esconder em qualquer lugar que tiver? Então, é eu nesse exato momento.

– É…

– Sei que meu irmão pode ser muito difícil, mas se você conseguiu uma vez, tenho certeza que irá conseguir muito mais.

– Ah, espero que sim.

– Quando conhecer melhor vai ver que ele não é esse chato rabugento. - Sorrio novamente sem graça.

– Família reunida hoje? Que coisa agradável!

Um homem elegante aparece, me olhando e abrindo um sorriso ao se aproximar delas, dando um beijo na garota e um selinho na senhora Foster, se direcionando em seguida, a mim.

– Finalmente pude conhecer a doce Alicia Miller. - Ele me cumprimenta com três beijos, intercalado nas bochechas.

– Ah, senhor Foster eu suponho? - Ele se afasta, abrindo um sorriso e passando o braço em volta da sua esposa.

– Apenas me chame de Andrew querida. - Concordo com a cabeça.

– Bom, eu preciso ir almoçar agora, tenho mais dois pacientes pra atender à tarde.

– Almoce conosco. - Kauany

– Ah ótima ideia. – Diz com entusiasmos a senhora Foster.

– Ah não não, que isso, não quero incomodar.

– Que isso menina, não é incomodo nenhum. Aliás, acho que se está aqui ainda é porque conseguiu que o cabeça dura do meu filho, aceite finalmente esse tratamento.

– Ah bom, se ele aceitou eu não sei, mas acho que conseguimos alguma coisa. - Sorrio e eles ficam ali parados, sorrindo feitos bobos e eu estou constrangida. – Enfim, agradeço de verdade pelo convite mas não vou poder ficar. Fico devendo uma próxima, meu pai espera por mim.

– Que pena! Mas vamos cobrar. - Diz a garota se aproximando de mim e me abraçando novamente.

Me despeço de todos e sigo meu caminho pra casa, eu estou faminta e meu dia já começou com o meu "melhor" paciente, irônico. Chego junto com meu pai, ele abre um sorriso enorme e erguendo os braços pra me abraçar.

– Oi querida.

– Oi papai.

– E então? Como foi com o senhor ranzinza? - Rimos e nos afastamos, entrando em casa.

– Ahh, para o primeiro dia, eu não sei. Ele seguiu sem dizer um ai, mas quando abre aquela boca. - Reviro os olhos e ouço a risada do meu pai. O cheiro da comida deliciosa de dona Lúcia, fazia meu estômago roncar.

– Mas você voltou lá, isso já é um grande passo.

– Agora até onde eu irei, não sei. Ele me irrita.

Nos sentamos na mesa, dona Lúcia aparece cumprimentando nós e colocando a comida sobre a mesma. Meu pai abre um sorriso de canto pela minha forma irritada de falar.

– Sei. - Eu o encaro e suspiro.

– Não, não, não senhor Miller, nem pense... -Ele gargalhou e levanta as mãos em redenção.

– Eu não disse nada, você que pensou.

Olho para Lúcia que abre um sorriso, eu conheço meu pai, sei o que ele está pensando e não, não estou afim de conhecê-lo.

– Já disse ele é um arrogante.

Meu pai encara dona Lucia e os dois concordam com a cabeça. Abro minha boca em um perfeito *O*, meu pai quis me colocar com esse homem, com a intenção de eu conhecê-lo? Não zero chances, eu não quero namorar e ainda muito menos com um alguém como ele.

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