CAPÍTULO 9
Depois de prestar depoimento na delegacia, Bruno só chegou em casa de madrugada.

Assim que entrou, sentiu algo estranho no ar.

Tudo estava silencioso demais.

A mansão enorme estava completamente escura, sem nenhum sinal de vida. O som do vento e dos insetos do jardim parecia ainda mais incômodo naquele silêncio todo.

Bruno franziu a testa, desconfortável.

Antes, não importava a hora que chegasse, Mariana sempre deixava uma luz acesa pra ele, dizia que só assim a casa parecia um lar.

Dessa vez, ele nem pensou muito no assunto. O dia tinha sido puxado, cheio de confusão. Imaginou que Mariana devia estar se sentindo culpada e foi se esconder cedo no quarto.

Bruno passou pelo quarto principal só para pegar umas roupas e saiu de novo.

Luísa ainda estava na delegacia, prestando depoimento, insistia que tinha sido Mariana que a chamou até lá, por isso os policiais a interrogavam com mais rigor.

Depois de buscá-la na delegacia, Bruno levou Luísa até em casa.

Durante todo o caminho, ela chorava baixinho, claramente abalada com tudo.

Bruno ficou com pena, segurou a mão dela:

— Fica tranquila, tá? Se aquela muda tentou te prejudicar, eu não vou deixar barato.

— Deixa pra lá, vai... No fundo, acho que ela só tem tanto medo de te perder que acabou fazendo uma besteira... Esquece isso, não quero te deixar numa situação difícil.

Luísa se inclinou na direção de Bruno, com a cabeça baixa, cheia de planos e segundas intenções nos olhos, mas a voz suave e compreensiva.

Bruno apertou mais a mão dela, sentindo dó.

Só de pensar que Mariana tinha sido capaz de armar algo tão cruel contra Luísa, o desprezo que sentia pela esposa aumentava ainda mais.

— Não se preocupa, eu tô do seu lado. Vou fazer ela se ajoelhar e pedir desculpa pra você.

Dois dias depois, vendo que Luísa já estava melhor, Bruno decidiu voltar pra casa.

Ao entrar em casa novamente, Bruno percebeu na hora que tinha algo errado.

A mansão inteira exalava um cheiro de mofo, típico de lugar fechado. O lixo que ele tinha jogado dois dias antes ainda estava lá, intocado.

Tudo indicava que ninguém tinha colocado os pés ali desde que ele saiu.

De cara fechada, Bruno foi direto para o quarto de hóspedes. O quarto estava impecavelmente arrumado, mas vazio. Abriu o guarda-roupa, não havia uma peça de roupa sequer.

Um sentimento de irritação tomou conta dele, como uma onda prestes a transbordar. O rosto, já sombrio, ficou ainda mais carregado.

Pegou o celular e ligou para o hospital. No fundo, nem estava realmente preocupado com Mariana, achava que ela, do jeito submisso e inseguro que sempre foi, voltaria correndo ao menor sinal de ameaça, pronta para pedir desculpas de joelhos.

Um sorriso frio apareceu no canto da boca.

Desta vez, ele faria Mariana pagar caro por ter ousado desobedecê-lo.

— Dr. Leão, a partir deste mês, não mande mais nenhum dinheiro para o tratamento da Margarida. Se a irmã dela reclamar, mande falar direto comigo.

Assim que terminou de falar, o médico respondeu algo que fez o sangue de Bruno gelar.

— Como é? O que você disse? Que a irmã da Mariana morreu? Quando?

— Senhor Gomes, a irmã da sua esposa teve uma piora repentina dois dias atrás e faleceu no hospital. A própria Mariana cuidou de tudo sozinha.

Bruno não sabia nem como desligou o telefone. Ficou parado, com a cabeça girando.

Nunca tinha imaginado que a irmã de Mariana havia morrido dois dias antes.

Sabia bem, ela vivia apenas pela irmã.

Agora, com ela morta, não tinha mais nada que a fizesse voltar.

Um riso amargo escapou. Num acesso de raiva, ele jogou o celular contra a parede e saiu de casa com a expressão sombria.

No fundo, pensou, se Mariana não voltasse, melhor ainda, assim podia abrir espaço para Luísa.

Luísa era a mulher que ele sempre quis. Agora, finalmente, os dois poderiam ficar juntos.

Naquele mesmo dia, Luísa apareceu na mansão, trazendo suas malas para morar ali.
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