Um Beijo Necessário

CAMILY

A noite estava perfeita.

Claro que Stefano e Caitano não conseguiram se conter: logo no início já arrumaram briga com uma gangue de motoqueiros do Texas que pareciam estar procurando por alguém. Já Annabel, sonhadora incurável, parava em cada teatro pelo caminho, se imaginando cantando no palco, sob os holofotes. Se eu fosse humana, meu braço já teria caído de tanto puxar ela pra longe dessas paradas teatrais.

Depois de sermos expulsos do primeiro bar,por conta da briga, fomos parar num bar de karaokê. Annabel e Caitano soltaram a voz com todas as músicas da Ariana Grande que conseguiram lembrar. Claro que minha amiga me arrastou pra cantar com ela a nossa música favorita em italiano. Meu coração apertou. A saudade da Itália bateu forte. Era o meu lugar. Minha vida humana toda. Tudo que deixei para trás por culpa do desgraçado do Marco.

— Ei, minha deusa do submundo, tira essa cara de velório. Hoje é noite de festa. — Stefano me entregou uma cerveja com seu sorriso maroto.

— Stefano, todas as nossas noites são de festa! — retruquei rindo.

— E existe coisa melhor? — ele piscou, malicioso.

Ri, deixando a nostalgia se dissolver. Com eles, era impossível não se contagiar.

— Vamos pro Orfeu. Matteo trouxe a alma da Itália com ele. — Caitano sugeriu.

— Boraaa! — gritou Annabel, jogando os braços pro alto, toda alegria.

Chegamos à frente da boate e eu entendi o que Caitano quis dizer. A fachada, a música, o cheiro, até a energia no ar,tudo gritava Itália. Se não fosse pelas palavras sendo faladas em inglês ao redor, eu juraria estar de volta em casa.

Mas assim que entrei… algo mudou.

O ar ficou mais denso. Meu corpo pegava fogo, minha pele arrepiava com um simples toque de vento. Estava elétrica. Desorientada.

Já me senti assim duas vezes, só hoje.

E então eu senti.

No meio daquela multidão, o perfume amadeirado dele cortou o ambiente como uma lâmina. Meus olhos o encontraram antes mesmo que eu quisesse. Ele estava lá. Me olhando. Aquele homem que eu não conhecia. Não sabia nem o nome. Mas ele me dominava. Eu sentia dentro de mim que,bastava um gesto e eu faria o que ele quisesse.

Sacudi a cabeça, tentando recobrar o controle. Meus amigos tinham me deixado sozinha,clássicos.

Merda.

Fugi para o bar, o mais longe possível dele. E de seus olhos dominantes.

— Uma tequila, por favor. — pedi, urgente. Que se dane. Vou beber.

— Pode colocar na minha conta. — a voz grave surgiu atrás de mim como um trovão suave, carregado de tensão.

Merda. Merda. Merda.

Não precisei olhar. Meu corpo já sabia que era ele.

— Estamos esbarrando bastante hoje. Não que eu esteja reclamando… — ele disse com um tom casual que me deixou louca.

Fiquei em silêncio. Se tentasse falar, ia gaguejar.

— Está sozinha? — perguntou, a voz tentando soar despreocupada, mas com aquele toque possessivo sutil.

Percebi sua intenção. Queria saber se tinha algum homem comigo. Era óbvio.

— Por que quer saber? Nem te conheço. — retruquei, o mais firme que consegui.

— Justo. — ele sorriu, sentando ao meu lado. — Me chamo Theo. Muito prazer. E você é?

Olhei para ele pela primeira vez, de verdade. Direto nos olhos.

— Camily Isabel.

— Nome lindo. Francês? Espanhol?

— Francês. Da minha avó. — Por que eu falei isso? Por que estou falando tudo que ele quer ouvir?

— Mas você não é francesa. Aposto que é italiana.

Assenti. Ele parecia saber demais.

— Coincidência. Não sou italiano, mas me considero. Temos mais isso em comum entre nós.— disse com aquele sorrisinho convencido.

— Coincidência? Nem italiano você é. E posso saber qual é a outra coisa em comum ?

— AC/DC. — Ele apontou pra minha camiseta.

— Você? Gosta de AC/DC? Jura? — revirei os olhos. Cantada barata.

— Claro que gosto! Não acredita ? Sou AC/DC na veia. — respondeu com a maior cara de pau, me fazendo rir.

— Claro… você tem mais cara de Beatles. Tipo “Don’t Let Me Down” até te imagino fazendo aquela dancinha ridícula do Paul McCartney.

— Tipo essa? — Ele levantou e começou a imitar a dança de forma absolutamente ridícula.

Foi impossível conter a gargalhada. Ri até doer a barriga.

— Que horror!

— Horror nada! Eu arrasei! — disse se achando.

— Por favor, não fala mais comigo. Não quero ser associada a essa vergonha.

— Isso tá parecendo inveja, Camily? Só pode ser isso. Duvido que você consiga fazer melhor. — Ele me lançou um desafio.

Mas não era só isso que mexeu comigo.Era o jeito como ele dizia meu nome. Com um tom… diferente. Sexy. Quase proibido.

Me recupero o mais rápido que posso e respondo

— Nem fodendo eu vou passar essa vergonha. — ri, tentando manter o controle.

— Então admite que perdeu. Só os charmosos têm o dom pra essa dança!

— Ah, você não sabe com quem está falando, Theo. Ganhei o torneio de dança da escola. Se você me desafiar…Eu,meu querido,vou te humilhar.

— Tenta, perdedora.

Ele não fazia ideia do que o aguardava.

A música começou. Deixei ele dançar primeiro. Tadinho, deu o melhor, mas não chegou nem perto de ser o suficiente.

— E aí? Tá com medo? Pode desistir, vai. — disse ele, rindo.

Cruzei os braços, toquei o queixo fingindo pensar.

— Como posso dizer isso delicadamente… foi a coisa mais vergonhosa que já vi.

— Isso foi o seu delicado? — ele perguntou, fingindo indignação.

— O mais delicado que consigo ser sobre esse desastre.

— Então dança aí, senhora Ganhadora do torneio da escola! — diz debochando

Babaca.

Vai chorar quando perder.

Conhecia a batida. Já tinha a coreografia mentalizada. Entrei na pista com segurança. Sexy. Precisa. Fatal.

Quando terminei, ele me olhava como se tivesse sido atingido por um raio. E eu… gostei.

Muito.

Eu,Camily Isabel, consegui tirar Theo do eixo. Igualzinho como ele sempre faz comigo quando me olha.

Nos aproximamos sem perceber. Perigosamente próximos.

Senti o perfume. O calor. O sopro suave do seu hálito. Eu queria beijá-lo. Precisava.

Não houve hesitação. Nossas bocas se encontraram como um ímã e o mundo parou. Um beijo delicioso. Calmo, mas faminto. Um choque doce entre dois corpos em combustão.

Ouso até dizer que: um beijo necessário.

Talvez assim,eu entenda o que tem de errado comigo. Porque eu to tão encantada por esse homem?

Quando percebi o que estava fazendo,me afastei num salto. O pânico tomou conta.

Merda.

— Eu… han… preciso ir! Tchau!

Corri, sem olhar para trás.

— Camily! — ouvi sua voz. Sentia que ele queria me seguir… mas algo o impedia.

Acho que meu “tchau” saiu como uma ordem. Involuntária. Vinda do meu dom.

Ele não poderia me seguir. Por mais que quisesse ou tentasse. Nada poderia tirar a ordem do meu dom.

E era melhor assim.

Nunca mais veria Theo. Nem que pra isso eu precisasse me esconder dentro da minha própria escola.

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