Amo-te Loucamente
Amo-te Loucamente
Por: Júlia Ashley
Prólogo

Nota da Autora

O casal deste livro tem início no livro um, contudo, AMO-TE Loucamente tem sua sequência exatamente após o casamento de Kate e Josh, de AMO-TE Desde sempre.

São livros individuais, porém, os personagens transitam no mesmo universo. Para uma melhor leitura, AMO-TE Desde sempre deve ser lido primeiro.

Em AMO-TE Loucamente vamos acompanhar como foi toda trajetória do casal que cativou muitos leitores ainda no livro um. Todos sabem, devido a alguns spoilers do livro anterior, como nosso casal termina, porém, o caminho traçado por eles não foi nada fácil, todavia, toda turbulência só serviu para uni-los ainda mais e mostrar que o amor é maior que tudo quando se ama loucamente.

Por favor, esteja ciente de que AMO-TE Loucamente contém cenas maduras, para maiores de dezoito anos.

Abraços, Júlia Ashley

Levi Martinelli

Olhando Lindsey adormecida ao meu lado, penso em como a vida é uma caixinha de surpresas. Quem diria que hoje estaríamos à caminho da Itália para o nosso casamento. Como ela não tem família, apenas uma tia idosa, que está com o filho em outro país e está um pouco adoentada, não pôde viajar, e uma amiga, a qual com quem dividia o apartamento e que também não pode comparecer. Será só a minha família mesmo na cerimônia.

Ela resistiu o quanto pôde, mas, eu soube usar bons argumentos.

Ela continua tão atrapalhada como quando a conheci, poucos meses atrás. Pensar naquele dia, traz um sorriso ao meu rosto.

Realmente o mundo dá muitas voltas.

Eu estava tão estressado, não sabia o que pensar.

Depois de horas dentro de um avião, eu fui direto para a empresa do meu pai. Naquele dia estava se encerrando o prazo que dei a meu pai, ou ele tomava uma atitude ou tomaria, eu. Não aguentava mais tanta enrolação. Apesar de ter conseguido meu primeiro objetivo, eu não consegui me livrar da ideia que minha mãe fixou na cabeça dela, até hoje ela me enche com isso e mesmo que tente disfarçar para minha noiva, sei que minha mãe não engoliu meu casamento repentino.

Amo minha família, tenho muito respeito por eles, mas jamais permitirei que me tratem como um moleque. Se eles pensam que tomarão as rédeas da minha vida estão muito enganados. Principalmente minha mãe, que mantém essa ideia de seguir à risca as tradições familiares.

Há muito tempo resolvi que seguirei meu caminho sem essa droga toda, e não permitirei o contrário. Essa história de tradição familiar é uma furada e se para eles funcionou, beleza, comigo não. E o primeiro passo era sair da Itália.

Cresci vendo o que a frustração pode causar às pessoas, ainda mais por se sujeitarem a fazer o que os outros querem e não aquilo que têm vontade.

A verdade é que não precisei usar muitos argumentos, meu pai já estava meio cansado de tudo isso, ele é um homem do campo e ama tudo que nossa Quinta representa. Foi fácil mostrar o quanto ele estava perdendo longe de tudo aquilo lá. Enquanto estive na faculdade, administrei os negócios de produção de vinhos e de azeite com excelência, tornamo-nos referência nesse quesito em toda a Itália e minha nonna, era só elogios para mim.

Eu também amo nossa Quinta, cresci naquelas terras, correndo livre em meio às oliveiras ou as parreiras, poucas vezes estava no Canadá com meus pais, preferia ficar na Toscana. E até hoje acho uma das regiões mais lindas de toda Itália.

Não apenas a minha família, mas algumas outras também eram produtoras de vinhos, que são distribuídos por todo o país e para fora dele.

Eu estava feliz, mas, as implicações de permanecer lá, não me agradavam, ainda mais depois que Lorenzo se casou com nossa prima Giovanna, e todas as atenções se voltaram para mim. Então resolvi mudar o rumo das coisas.

Sem que minha família soubesse, comprei um apartamento no Canadá, onde pretendia me estabelecer, já que conhecia muito bem o país, peguei as chaves do meu novo lar, que estava com a decoração pronta, tinha recebido a ligação no dia anterior, me informando, dez dias antes do prazo.

Perfeito!

De dentro do táxi, observei a fachada imponente da Martinelli Corporation, criada por meu avô e repassada ao meu pai, e se tudo desse certo como eu esperava, logo estaria sob meu comando. E assim foi...

Mas o inusitado foi o que aconteceu antes disso.

Depois de pagar a corrida, coloquei meus óculos escuros, descendo em seguida do carro. Abotoei o terno e com passos firmes, segui disposto a resolver a questão que me levara até ali.

Adentrei o saguão, estava tão concentrado em meus pensamentos, que não me dei conta de que ia esbarrar em alguém, só percebi quando senti o impacto e ouvi sua voz.

— Ai...

Minha primeira reação foi segurá-la, mas, absorto como estava, meus reflexos ficaram lentos e ela foi de bunda no chão, espalhando os papéis que estavam em suas mãos.

Perdono (perdão), não vi você — ajudei a recolher as folhas e vi que eram contratos da empresa. Ela deve ser funcionária daqui — pensei.

— Eu estava distraída, mas o senhor podia olhar por onde anda — que ragazza (garota) desaforada.

Encarei-a, boquiaberto, a mulher de cabelos castanhos, olhos verdes, nariz empinado, um corpo de chamar a atenção, tem também uma língua afiada. Eu pedi desculpas e ela me responde assim?

O mesmo vale para a senhorita — ela arregalou seus olhos verdes, que são muito expressivos, ia dizer alguma coisa, mas acabou desistindo.

— Dá-me isso aqui — pegou as folhas da minha mão. — Vou ter o maior trabalho para organizar tudo isso de novo e a culpa é sua.

E sua, já que estava distraída — usei sua fala contra ela mesma. Dei um sorriso de lado para amenizar o clima. Levantei lhe estendendo minha mão.

Ela olhou e fazendo pouco caso, ignorou e levantou-se sozinha.

Recolhi minha mão, um pouco desconfortável, desmanchei o sorriso.

“Que mulherzinha mais ranzinza” — pensei.

Olhei seu crachá, vendo seu nome e logo abaixo escrito presidência.

Antes que eu dissesse mais alguma coisa, ela caminhou para um corredor sem dizer uma palavra.

“Tanto melhor” — analisei comigo mesmo.

Caminhei para o elevador com um sorriso se instalando em meus lábios.

— Pelo jeito, se eu ficar por aqui, vai ser interessante — disse em voz alta.

Saí do elevador e como não tinha ninguém na recepção, fui direto para sua sala.

Depois de cumprimentar meu pai. Sentamos para conversar e antes que eu entrasse no assunto que me levou até ali, ele disse.

— Sabe filho, pensei muito em nossa última conversa e acho que você tem razão. Que sua mãe não me ouça — disse, fazendo graça. — A verdade é que já não quero mais nada disso, isso agora é para você, que é jovem e está com todo gás. Seu irmão jamais vai querer assumir isso aqui — ele fez um gesto com a mão, mostrando todo o lugar. — Recebi esta empresa como herança de seu avô Enrico, que batizou com o nome da família, mesmo não sendo um Martinelli.

— Sim! Conheço a história...

— Pois bem, resolvi que vou me aposentar, nem da Quinta vou cuidar, quero viajar, já trabalhei muito. Seu primo Pietro pode muito bem cuidar de tudo lá, enquanto você está aqui. Lorenzo só quer saber daquele consultório dele, sua irmã é muito nova.

— Apesar de não confiar no Pietro, acho que essa é a melhor solução e estando lá, nos intervalos de cada viagem, você pode acompanhar por cima como andam as coisas.

— Também não confio. Porém, não tem outro jeito, e querendo ou não, aquilo lá também é dele.

— Sim...

— Só preciso lhe passar alguns detalhes com relação às negociações que estou com a companhia Ferrell, é um processo de fusão, vou lhe explicar tudo e também detalhes e arranjos com alguns funcionários, e esses arranjos devem permanecer como estão.

E assim ele foi me explicando tudo até que o interfone de sua mesa tocou e ele autorizou a entrada da gestora de projetos, de quem tinha acabado de falar. Eu nunca tinha visto alguém com o rosto tão angelical, não conseguia desviar meus olhos da direção dela.

— Srta. Welsh, por gentileza, venha aqui. Gostaria que conhecesse meu filho — meu pai disse e eu me levantei. — Vocês vão trabalhar muito juntos. E ela está à frente do planejamento para que a fusão com os Ferrell seja um sucesso — dirigiu a mim a última frase.

Corada, ela se aproximou de mim e estendeu sua mão.

Como vai Sr. Martinelli? É um prazer conhecê-lo — sua voz era doce e firme, segurei em sua pequena mão. — Seu pai já tinha me avisado de que ficaria à frente da empresa.

Levi, apenas Levi e o prazer é todo meu — eu ainda segurava sua mão e ela deu uma leve puxada. Soltei de imediato.

Sente-se querida — meu pai falou e o clima estranho que havia se formado foi desfeito. — Fale um pouco do projeto para ele se inteirar.

Eu não pretendia me demorar ali naquele dia, mas estava tão fascinado com tudo que ouvia e com quem estava à minha frente, que eu prestava a atenção em tudo, não perdia um movimento seu.

As horas se passaram tão rápido, que quando dei por mim, era hora do almoço e ela precisou ir. Ainda a convidei para almoçar conosco, mas, ela recusou alegando um compromisso e meu pai me explicou que seu trabalho era meio expediente e assim deveria permanecer, pois, ela cuidava do filho pequeno. Lembro que me senti frustrado, não tinha percebido que era casada, o que vim a descobrir mais tarde que estava enganado. Mas não adiantou muito, já que ela nunca me deu bola e hoje agradeço por isso.

Naquele mesmo dia, tive um segundo encontro com a maluquinha do saguão e foi inevitável soltar uma gargalhada quando vi sua cara ao saber que eu seria seu novo chefe.

Estava saindo da sala, acompanhado por meu pai.

— Agora vai conhecer sua assistente, ela é meio... Como é mesmo a palavra que ela usou? — ele tentou se lembrar. — Estabanada, isso, foi essa a palavra, mas é inteligentíssima e igualmente eficiente. Está conosco desde o estágio, assim como a Srta. Welsh.

Quando ele a chamou, ela estava distraída, parece que esse é seu estado permanente, então, acabou batendo no copo com água que foi direto para os seus pés, molhando seu sapato esquerdo.

Desculpe senhor, não o vi chegar... — parou de falar quando me viu.

— Tudo bem senhorita, quero que conheça seu novo chefe, Levi Martinelli, meu filho.

Ela arregalou tanto os olhos, que por um momento tive medo que saíssem das órbitas. Meu pai pediu licença para atender uma ligação no minuto exato que estendi minha mão para ela e disse.

Prazer senhorita — olhei seu crachá novamente. — Morgan... — ela segurou minha mão e não disse nada, então me aproximei um pouco e disse. — O que foi? O gato comeu sua língua?

Afastei-me a tempo de ver um brilho surgir em seus olhos e desaparecer com a mesma velocidade, fazendo-me questionar se tinha visto ou se foi impressão minha.

Prazer, senhor — respondeu por fim. Então eu gargalhei ao ver a senhorita atrevida toda mansinha. Porém, sem que eu esperasse, ela respondeu baixo para que apenas eu escutasse. — Ainda não foi dessa vez, mas qualquer hora, ele pode comer a sua.

Mal sabia eu que acabaríamos como estamos hoje. Volto ao presente observando seu ressonar tranquilo.

Olho seu rosto sereno, tive que pedir a obstetra um calmante para ela relaxar durante o voo, ela tem pavor de aviões e nas duas vezes que viajamos a trabalho, ela só foi e voltou assim, apagada.

A decisão de me casar com ela não foi bem recebida por minha mãe, que fez o maior drama e ameaçou nunca mais falar comigo.

Lembro-me de nossa discussão acalorada.

Fazia dois dias que eles tinham chegado ao Canadá, eu ainda estava aturdido com a ideia de ser pai. Tinha ligado mais cedo avisando de minha ida até o hotel e quando entrei no ambiente, quatro pares de olhos me encaravam como se soubessem o que fui fazer ali.

— Levi, meu filho. Que saudade — minha mãe foi a primeira a me abraçar. Retribui e fui em seguida beijar minha nonna (avó).

— Você está me saindo um neto muito ingrato, deixando essa velha morrer aos poucos com saudade de seu piccolo (pequeno). Não pense que me comprou com aquelas flores...

Sorri, lembrando-me das circunstâncias que me fizeram enviá-las.

— Eu sempre soube que ele era o seu preferido, nonna — minha irmã Julianna disse me abraçando.

— Também estava com saudade de vocês — beijei minha irmã e fiz um afago em minha nonna, que sorriu com os olhos. — Fico feliz que estejam aqui agora — olhei para meu pai. — Pai, como vai.

— Bem, filho e por aqui como andam as coisas?

— Pare com isso Joseph, deixe o bambino (menino) conversar com a nonna dele que está morta de saudade — minha nonna tem essa mania de me tratar como se eu fosse um garotinho, desisti de reclamar com ela há muito tempo.

— Na verdade quero falar com todos. Tenho algo importante a dizer — disse observando o semblante de cada um.

— O que é? — minha mãe perguntou antecipando-se aos demais e foi logo se sentando.

Não existe uma maneira fácil de contar algo, ainda mais quando você sabe o que lhe espera. Então fui direto.

— Vou me casar!

— O QUE VOCÊ DISSE, LEVI? — minha mãe falou alterada, se colocando de pé no mesmo instante.

— É isso que vocês ouviram, vou me casar, minha noiva vai passar as festas conosco, assim vocês poderão conhecê-la.

— Você só pode estar ficando louco. Já é comprometido com Kiara, esqueceu?

— Eu não sou comprometido com ninguém. Quando vai entender isso? Nunca vou aceitar essa tradição ridícula que inventaram. Isso é coisa do século passado.

Olhei para minha nonna que me observava sem esboçar nenhuma reação. Era impossível saber o que se passava por sua cabeça. Mas mesmo correndo o risco de desapontar a pessoa que mais amo e respeito, não iria baixar minha cabeça.

— Quem é ela? Alguém que conhecemos? — meu pai perguntou.

— Claro que não, deve ser uma qualquer que conheceu aqui nessa cidade.

— Ela não é nada disso que a senhora está falando e sim, pai, o senhor a conhece. É a Lindsey — ele me lançou um olhar confuso, tratei de esclarecer. — Srta. Morgan.

— Sua secretária? — perguntou incrédulo.

— Ela mesma. Vamos nos casar o mais rápido possível.

— O que você fez, seu irresponsável? — minha mãe puxou meu braço. — Você tem um compromisso com...

— Eu não tenho nada com ninguém a não ser com minha noiva, não vou voltar a repetir, entenda isso de uma vez. E não vai ser uma tradição idiota criada pelo clã Martinelli a milhares de anos por se acharem extraordinários e não querer misturar seu sangue puro com outros, que me fará mudar, se vocês se sujeitaram a isso, muito bem, comigo será diferente.

— Levi baixe o tom... — meu pai falou baixo. — Se quer ser respeitado, respeite também.

Respirei fundo, passando a mão na cabeça. Olhei em direção a minha irmã que estava encolhida em um canto. Minha nonna ainda era uma incógnita.

Em 1880, um ancestral de nossa família criou o ritual de manter o sangue da família puro, casando-se apenas entre eles, ou seja, os primos de uma casa eram prometidos a outros primos ainda no momento do nascimento e crescia sabendo disso para não se desviar da tradição e assim foi à sequência histórica das gerações seguintes.

Até hoje.

Comigo será diferente.

— Tudo bem. Eu só vim avisar mesmo. A decisão está tomada e se ela não for bem recebida por vocês, eu sinto muito, mas não passaremos este fim de anos juntos.

— A escolha é sua, se quer assim o problema é seu. Saiba que não vou aceitar isso...

— Francesca, já chega — minha nonna falou. — Figlio — ela fez um gesto com a mão. Aproximei-me e agachei ao seu lado. — Leve sua noiva...

— O quê? — minha mãe exclamou chocada.

— Calada! É isso mesmo, vamos recebê-la com toda educação e respeito como noiva do nosso bambino.

— Mamma...

— Ainda não acabei Joseph — ela cortou meu pai. — Mas antes, você vai trazê-la para um almoço comigo — pegou minha mão fazendo uma leve pressão. — E não se preocupe que se for preciso, amordaço esses dois.

Eu não pude evitar sorrir, sabia que seria tenso, mas ter o apoio de minha nonna foi crucial para mim. Julianna se aproximou e me abraçou, sorrindo tanto quanto eu, ela sabia o que aquilo significava.

Meu pai relutou um pouco, mas depois aceitou numa boa, porém, quem me surpreendeu mesmo, foi minha nonna, isso, não posso negar.

No tal almoço acabamos contando sobre nosso filho, que infelizmente não foi motivo de alegria para minha mãe, que pediu licença e saiu, meu pai foi logo atrás dela, nem com essa notícia, ela deu o braço a torcer.

Depois daquele dia, levei Lindsey para passar as festas de fim de ano comigo e minha família, no início ficou um pouco estranho, mas depois, ela caiu nas graças de minha nonna e não se desgrudaram um minuto, me senti até um pouco aliviado com isso.

Espero que ela seja igualmente bem recebida em nossa Quinta, ainda mais por minha mãe, ou não vai prestar. Ela tem que aprender a respeitar minhas decisões e principalmente a mulher que escolhi.

Olho meu relógio, ainda faltam quarenta minutos de voo, recosto-me no assento e fecho os olhos. Que tudo dê certo durante esses dias, e Lindsey seja bem tratada, o contrário, eu não irei tolerar.

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