Capítulo 02-1

Joshua Ferrell

Estou na sala do meu pai, incomodado com o que acabei de ouvir.

— Pai, não pode fazer isso. Tenho me dedicado integralmente aos negócios da nossa família desde que era só um garoto. Investi muito tempo e energia aqui. Em minhas férias da faculdade, acordei muitas vezes, enquanto ainda era madrugada e trabalhei até quando o sol se punha. Eu mereço isso. Sabe que quero muito assumir esse cargo — falo com irritação na voz, andando frente a sua mesa, enquanto ele me olha sério, recostado em sua cadeira, não consigo decifrar seu olhar.

— Sei disso meu filho — suspira, apoia os braços sobre a mesa e continua. — Porém, essa filial é praticamente independente de todo conglomerado. Andaria praticamente sozinho, acha que está preparado? — meu pai indaga-me sério.

— Não me subestime Sr. Ferrell. Estou mais do que preparado e sabe disso — seguro seu olhar no meu. Puxo o ar para meus pulmões, tentando me acalmar, me sentando a sua frente em seguida.

Não acredito que meu pai tenha dúvidas do meu potencial. Afinal, o que foram todos esses anos que investi aqui? Encaro sua postura austera, o que não condiz com seu olhar, agora risonho.

— Meu filho, não me leve a mal, tenho visto seus esforços na empresa e confio em suas decisões de olhos fechados, porém, às vezes, você tem um comportamento muito inconsequente lá fora — ele respira fundo. — E essa imagem não fica bem diante dos acionistas e investidores.

— Pai... — tento falar, ele interrompe-me.

— Não, Joshua! — altera um pouco sua voz. — Você sabe que fiz essa empresa do nada. Prezo por tudo que construí durante todos esses anos — olha-me atravessado. — Cada semana você aparece com uma garota diferente, pensa que não sei do loft que você mantém no centro? — diz olhando-me e continua. — Bebe de forma irresponsável, e, até de um racha de carros participou.

Olho para meu pai com os olhos arregalados. Como ele descobriu tudo isso? Sempre procurei ser muito discreto, evitando aparecer na mídia. Antes que eu pergunte ele continua.

— Sim, meu filho, eu sei de tudo que acontece com você.

— Isso aconteceu há quase um ano — digo, simplesmente. — Não tenho saído para baladas, nem participo desse tipo de coisa mais.

— Isso é o tipo de coisa que não pode ser associado a ninguém de nossa corporação, ainda mais a um membro com cargo tão elevado. E uma vez exposto, não se esquece tão facilmente.

— O que você quer que eu faça para dar-me essa chance? — pergunto resignado, mas não me dou por vencido.

Ele levanta-se e anda até o grande janelão atrás de sua mesa. Dou o tempo que ele precisa para responder minha a pergunta. Pela demora em falar, penso que ignorará o que perguntei, então ele volta-se para mim dizendo:

— Vamos fazer assim... — olha-me fixamente. — Tire suas férias como planejado e na sua volta, conversaremos novamente.

O encaro desacreditado. Não me agradou em nada essa proposta do meu pai, mas saberei dar um passo atrás, para dar três adiante depois. Com afobação não conseguirei nada, e se quiser realmente convencer o velho, terei que ser cauteloso, não cheguei onde estou agindo por impulso. Sei muito bem aonde quero chegar e nada vai me desviar do meu objetivo.

— Tudo bem, pai, mas não pense que desistirei, afinal sou seu filho — pisco para ele que imediatamente abre um sorriso, relaxando a postura de momentos antes.

— O que pretende fazer? Vai viajar? — pergunta mudando de assunto e quebrando clima tenso de antes.

— Não! Prometi ao Sr. O'Malley que ajudaria com o passeio de formatura do terceiro ano do Nudgee St Joseph's College — não sei o que deu em mim para aceitar essa proposta do Matt. Eu devia estar louco.

O Sr. O'Malley, é pai do meu melhor amigo, o Matt, e também é muito amigo do meu pai. Sempre que possível, estão no clube de golf ou viajando juntos em família.

— Não sei se fico feliz em você ajudar o Gregory ou preocupado com todas as jovens que estarão nesse acampamento.

— Não é nada disso, vou apenas para fazer companhia ao Matt e ajudar no que for preciso, o pai o intimou a participar esse ano, já que dois funcionários que faziam parte da organização do college, ficaram doentes na última hora.

— Se você diz — fala com ar de riso.

— Pai, eu sei que sou mulherengo, mas não pego menininhas  novinhas, tenho consciência das leis do nosso país — digo. — Agora vou indo, vim apenas pegar os documentos da reunião de segunda e já estou atrasado para encontrar o Matt no clube — olho em meu relógio, e continuo. — Vai ficar até que horas aqui? A mãe não gosta quando trabalha no sábado.

— Também já estou indo — rir olhando a foto de minha mãe sobre a mesa, seus olhos chegam a brilhar. Nunca vou entender esse tipo de amor que os meus pais têm.

Ela sempre o apoiou em tudo, mas não abre mão dos fins de semana em família. Isso para ela é sagrado. Ainda olhando a foto ele diz.

 — Não quero problemas com dona Olivia — olha para mim e continua. — E segunda, na reunião, nada de aliviar com eles, quero esse negócio fechado antes de suas férias. Já perdemos muito tempo — diz, sentando-se novamente.

— Deixe comigo, sou seu melhor negociador — gabo-me, seguindo em direção à porta.

Essa conversa com meu pai não foi nada do que eu esperava, mas, paciência.

Somos de uma família tradicional, e eu tenho muito orgulho do meu pai, que herdou a empresa falida do meu avô e a transformou no que é hoje.

Posso dizer que tive uma educação privilegiada, viajei para vários países e só depois entrei para a empresa. Não posso reclamar da vida quem tenho tido até agora, mas, eu quero mais.

Quero ser como meu velho, um exemplo de homem de negócios, reconhecido e premiado por seus feitos. Mas, acima de tudo, um homem de família. Contudo, essa última parte, num futuro bem distante, sei o quanto é difícil conciliar as duas coisas e o quanto ele se sacrificou para não falhar em nenhuma dessas áreas.

Sim, meu sonho é assumir a filial de minha família em New York, a cidade-luz. Esse será um grande passo. Mas, meu coroa, Jeremy Ferrell, é osso duro de roer, eu também o sou...

Desde o final do colegial que trabalho com meu pai na sede onde ele é o CEO todo poderoso. Iniciei como um simples office boy, dividindo-me entre a empresa e a faculdade de Administração e Gestão em Negócios. Aos poucos, fui subindo de cargo, até a posição que ocupo hoje, a vice-presidência. E por ser filho, não tive nada facilitado como muitos podem pensar, tive que ganhar meu espaço. Foram cinco anos de extrema dedicação. Só que agora, aos 23 anos, acredito chegou minha hora, quero andar sem a sombra do meu pai. 

Já pensei em eu mesmo fundar minha própria empresa e seguir sozinho, mas isso daria muito desgosto ao meu velho, que vive dizendo que um dia, ao se aposentar, isso tudo será meu. 

Saio dos meus pensamentos ao ouvir o toque do celular. É o Matt, ativo a ligação no viva voz do carro...

— Estou a caminho — digo.

— Pensei que a bela adormecida ainda estivesse na cama — fala com seu jeito brincalhão de sempre.

— Vá se...

— Olha a boca suja — interrompe-me. — Tenho uma linda jovem aqui ao meu lado que não deve ouvir seu palavreado baixo. Venha logo — diz e desliga sem me dar tempo de responder.

Desconecto o celular do aparelho de som, ligando na rádio de costume, a música de Wiz Khalifa - See You Again ft. Charlie Puth,  toca o trecho calmo da canção, nada condizente com meu estado de espírito.

Aumento a velocidade do carro bem no momento em que o rap começa sua agitação. Enquanto percorro as ruas quase desertas àquela hora, volto a pensar em minha conversa com meu pai.

Farei o que for preciso para atingir cada uma das minhas metas.

E se para isso terei que abrir mão de certas coisas, eu farei. Nesse momento nada é mais importante do que atingir meus objetivos. Com esse pensamento aumento, ainda mais a velocidade do carro e sigo em direção ao clube.

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