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Quando voltei a abrir os olhos, já estava em um quarto. Não sabia quem havia me resgatado.

Ouvi que o Tiago já tinha resolvido tudo sobre o incidente.

Quando o cruzeiro atracou, ele mesmo acompanhou Ana de volta para a casa da família Serra.

Quando cheguei lá, ouvi claramente a voz dele dizendo:

— A Ana arriscou sua reputação e o próprio nome para me salvar. É claro que tenho que me responsabilizar. Vamos oficializar o noivado.

Meus passos pararam.

Mesmo tendo decidido que, nesta vida, eu abandonaria completamente o Tiago, ouvir aquelas palavras ainda me fez doer o peito.

Ele achava que a Ana havia se sacrificado, que sua pureza e reputação estavam em risco. Mas se fosse eu quem tivesse feito o mesmo, ele só diria que eu estava me jogando para cima dele, sem vergonha e sem dignidade.

Na vida passada, também foi por causa das fofocas e rumores do círculo social que meus pais acabaram ouvindo sobre o escândalo.

Eles mesmos foram até a família Paiva para conversar, e o Tiago, pressionado, aceitou se casar comigo, sem vontade alguma.

Quando me viu chegar, Ana fez uma expressão constrangida e doce ao mesmo tempo:

— Ah, isso não seria certo, tios. O Tiago é quem a Camila gosta... não tem problema se falarem mal de mim, mas eu não quero magoar minha prima.

Meus pais ainda nem tinham dito nada,

quando o Tiago se colocou diante de mim, bloqueando a entrada.

— Já que você ouviu, então é melhor esclarecer de uma vez.

— Camila, eu não gosto de você. Por mais que se esforce, é inútil. Desista o quanto antes, será melhor pra nós dois.

Respondi baixinho:

— Tá bem. Pode ficar tranquilo.

— Nunca mais vou atrapalhar você e a Ana. Desejo que sejam felizes.

Tiago estreitou os olhos, me observando com um olhar demorado, como se quisesse decifrar se minhas palavras eram sinceras.

Atrás dele, ouvi minha mãe suspirar:

— Ah, minha filha... se tivesse entendido isso antes, teria sofrido menos. Da próxima vez que eu e seu pai te apresentarmos alguém, nada de recusar, entendeu?

Tentei ignorar o olhar profundo do Tiago, e apenas sorri, assentindo:

— Tá bom.

Depois que o noivado foi anunciado, Tiago começou a frequentar a casa da família Serra com frequência.

Antes, para vê-lo uma única vez, eu precisava descobrir seus horários com os amigos dele, e, mesmo sendo alvo de piadas, chamada de grudenta, eu não me importava.

Agora, em apenas duas semanas, eu o via mais vezes do que em todo o ano anterior. Mas, estranhamente, não sentia mais nenhuma alegria.

Ana sempre fingia gentileza, mas suas palavras eram cheias de exibição.

— Camila, olha só, o Tiago me deu essas rosas. Quer que eu te dê uma?

— Ah, e este colar de pérolas ele mandou buscar do exterior especialmente pra mim. Quer que eu te empreste pra usar um dia? Ele me dá tantas joias que nem consigo usar todas.

Na vida passada, até mesmo as alianças do nosso casamento, aquelas que deviam simbolizar amor e compromisso, foram compradas por mim.

Enquanto me perdia em pensamentos, Ana puxou de repente o colar. O fio se partiu, e as pérolas, redondas e brilhantes, rolaram pelo chão, parando diante de um par de sapatos pretos de couro.

— Tiago! — Ela exclamou, correndo até ele com uma expressão de desespero calculado.

— Acho que a Camila não fez por mal... foi sem querer. A culpa é minha por não cuidar direito do presente que você me deu...

O rosto de Tiago se fechou, sombrio.

— Camila, na frente dos seus pais você finge ser tão compreensiva e educada... Agora que eles viajaram, está mostrando quem realmente é, não é?

— Desde criança você adora implicar com a Ana, e até hoje não se cansou disso?

Um gosto amargo subiu à minha garganta. Respondi com calma, palavra por palavra:

— Eu não fiz nada.

Ana imediatamente abaixou a cabeça, a voz trêmula:

—Tiago, a culpa é toda minha. Foi um descuido meu.

Tiago a puxou para trás, protegendo-a, e seu tom soou como uma advertência direta:

— Antes eu não interferia nos assuntos da família Serra, mas agora Ana é minha noiva.

— Durante esse tempo, vou ficar aqui na casa até seus pais voltarem.

Em outra vida, eu provavelmente teria pulado de alegria ao ouvir que moraria sob o mesmo teto que ele.

Mas agora, permaneci em silêncio.

Tiago hesitou por um instante e acrescentou friamente:

— Mantenha distância. Seja discreta. Não quero que Ana tenha motivos para desconfiar.

Naquela noite, Ana fez questão de ser ouvida. Com voz doce e risonha, pediu para que o Tiago secasse seus cabelos com o secador, o barulho ecoava pela casa, alto o bastante para eu ouvir do meu quarto.

Passei pelo corredor sem diminuir o passo, sem sequer olhar. Tiago também não reagiu.

Mas, no dia seguinte, quando ele me viu com o cabelo recém-cortado, acima dos ombros, arqueou as sobrancelhas e disse com um meio sorriso:

— Cortou o cabelo só pra me provocar?
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