Tiago Zion Paiva abriu os olhos com dificuldade, tossindo algumas vezes e cuspindo água, a voz rouca e fraca. — Sai daqui.
Quando ele finalmente enxergou claramente quem estava à sua frente, ficou atônito.
— Ana? Como... como é você? —
Ele olhou ao redor e avistou, mais afastada, eu, completamente molhada, tremendo de frio.
Na vida passada, eu havia sido a primeira a pular no mar, sem pensar duas vezes, para salvá-lo.
Mas, assim que Tiago recobrou os sentidos, a primeira coisa que fez foi me empurrar para longe, com o olhar cheio de repulsa.
Mandou trazer toalhas e água, e, diante de todos, enxaguou a boca e limpou os lábios, como se tivesse sido tocado por algo impuro.
Mas agora...
— Tiago, ainda bem que você está bem, eu... eu fiquei tão assustada...
Ana estava meio ajoelhada ao lado dele, com um olhar preocupado, mas carregado de uma tímida doçura.
Ela parecia querer dizer algo, mas se conteve e então levou a mão aos lábios, fingindo constrangimento.
Tiago entendeu. Não disse nada.
Deixou-se apoiar por Ana, levantando-se e indo embora sem sequer me dirigir um olhar.
Eu sabia que Tiago havia sido drogado por alguém e, por isso, caíra no mar.
Na vida passada, ele logo descobriu o responsável. Desta vez, eu não via motivo algum para me intrometer novamente.
A água do mar era gelada, cortante. Naquela mesma noite, acabei tendo febre. "Toc, toc."
Minha cabeça girava, meio entorpecida pela febre, mas, ao abrir a porta e ver Tiago, despertei na hora.
— O que você está fazendo aqui? — Ele se apoiou preguiçosamente no batente da porta, lançando-me um olhar frio e distante.
— Camila, o que você está aprontando desta vez?
Olhei para ele, confusa. — Não faço ideia do que você está falando.
Tiago soltou uma risada fria, carregada de desdém: — Diante de tanta gente, você gritou de propósito para a Ana vir me fazer respiração boca a boca. Você não se importa com a reputação dela? Como pode ser tão egoísta?
Senti um nó apertar meu peito. Quis perguntar, "então o que você queria que eu fizesse?"
Eu não devia ter te salvado, mas também não podia chamar a mulher que você ama?
Talvez o certo fosse simplesmente deixar você afundar e desaparecer no mar.
— Pense o que quiser. — Murmurei, respirando fundo.
— Se não tem mais nada, quero descansar. Não estou me sentindo bem.
Tiago provavelmente achou que eu estava fingindo fraqueza para despertar pena. Ele curvou os lábios num sorriso irônico:
— Quer me comover agora? Camila, você está ficando cada vez mais habilidosa.
— Se está doente, tome um remédio. Não sou médico.
Assim que ele virou as costas e saiu, soltei um longo suspiro.
Todo o círculo social de Sulvéria sabia que eu amava o Tiago, de forma humilhante e teimosa.
Ele dizia que gostava de mulheres de cabelo longo, liso e preto, então eu deixei o meu crescer desde menina, sem nunca mudar o corte.
Ele comentava que roupas claras eram mais bonitas, e, desde então, não usei nada escuro.
Ele dizia preferir mulheres calmas e elegantes, por isso recusei convites de amigos, e passei a me dedicar em casa a tocar piano, pintar, escrever, estudar etiqueta.
Só depois da dor da vida passada eu entendi. Todas as qualidades que ele mencionava descreviam Ana, porque era dela que ele gostava.
E eu, por mais que me transformasse, nunca seria suficiente para merecer nem um olhar do Tiago.
Logo, a notícia de que Ana havia feito respiração boca a boca em Tiago se espalhou.
A festa no cruzeiro tinha sido organizada pela família Paiva. Depois do incidente, todos a bordo estavam em pânico.
Alguns seguranças uniformizados vieram até mim.
— Srta. Camila, precisamos que coopere com a investigação.
Disseram que, por eu ter sido a primeira a encontrá-lo no mar, eu era a principal suspeita.
— Mas... eu o salvei! — Protestei, incrédula.
O segurança me olhou com expressão constrangida: — O Sr. Tiago acredita que pode ter sido tudo armado. Ele acha possível que a senhorita tenha encenado o incidente para se aproveitar da situação.
Fiquei paralisada. Aproveitar da situação? Então era assim que o Tiago me via.
Eles me levaram à força até um depósito dentro do navio e trancaram a porta, mesmo depois de eu alertar que aquilo era ilegal.
A única resposta que obtive foi: — Todas as responsabilidades recaem sobre o Sr. Tiago.
— Ele ordenou que, até que tudo fosse esclarecido, você não poderia sair.
Fiquei presa ali por um dia e uma noite inteiros. Com febre alta e sem sequer um gole d’água, acabei desmaiando, como já esperava.
No meio da inconsciência, senti dois braços firmes me erguendo do chão.