3
— Não. Você está imaginando coisas.

Mesmo que a cena da noite passada não tivesse acontecido, eu já havia marcado o corte de cabelo há dias. Tiago claramente não acreditou.

Seu olhar percorreu meu rosto e depois desceu até meus cabelos curtos.

— Você sabe que eu não gosto de mulheres de cabelo curto. Usar esse tipo de truque pra chamar minha atenção é pura tolice.

Não dei importância. Fui direto para o quarto e vesti um vestido vermelho que não usava havia muito tempo. A cor vibrante chamava atenção, contrastando fortemente com tudo ao meu redor.

Do alto da escada, Tiago lançou-me um olhar frio e indiferente, mas a mão apoiada no corrimão se contraiu levemente, e as veias em seu dorso ficaram visíveis.

Nesse instante, Ana o abraçou por trás.

— Tiago, a Camila está tão diferente ultimamente... será que ainda está chateada por causa do nosso noivado?

Tiago desviou o olhar e respondeu sem emoção:

— Deixe que ela faça o que quiser.

— Quando perceber que não adianta, vai voltar a ser a mesma de sempre.

Saí de casa sem olhar para trás.

No café, encontrei o homem com quem minha mãe havia marcado meu encontro às cegas. Era a primeira vez que nos víamos, mas a conversa fluiu como se nos conhecêssemos há anos, leve, natural, agradável.

Quando voltei para casa à noite, cantarolava, de bom humor.

Mas ao entrar na sala, me deparei com Tiago sentado no sofá, ligeiramente curvado, o rosto pálido de dor.

Apesar de tudo, já havíamos sido casados por três anos na vida passada, eu sabia bem que ele sofria de gastrite crônica. Provavelmente não queria preocupar Ana, por isso tentava disfarçar a dor ali mesmo.

Eu não pretendia me envolver, mas estava de bom humor, e não queria que algo acontecesse com ele dentro da minha casa, isso acabaria refletindo mal para os meus pais.

Hesitei por um instante e disse:

— A caixa de primeiros socorros está na segunda gaveta do armário branco.

Tiago levantou o olhar e me encarou.

Talvez esperasse que eu fosse buscá-la, mas permaneci parada. Nos lábios dele surgiu um sorriso cínico.

— O que foi, Camila? Quer aproveitar a chance pra me fazer dever um favor a você de novo?

Antes que ele terminasse a frase, virei as costas e subi para o meu quarto sem dizer nada.

Por isso, ele não percebeu o leve estremecer no próprio sorriso, nem o olhar que, aos poucos, se tornava mais denso e sombrio.

E assim, passaram-se alguns dias em silêncio, sem conflitos nem trocas de palavras. Até que, de repente, Tiago entrou no quarto com o rosto tomado pela fúria, e atirou uma peça de lingerie rendada na minha cara.

— Camila, como você pode ser tão... baixa? — ele rosnou.

Fiquei completamente confusa, paralisada. Por reflexo, segurei a peça e olhei... era mesmo minha.

Uma onda de vergonha me envolveu por inteiro. — O que... o que isso significa? — Perguntei, atônita.

Tiago soltou uma risada fria:

— Eu quase acreditei que você realmente tinha me esquecido, mas pelo visto, está apenas jogando um joguinho.

— Finge que não se importa mais, mas pelas costas deixa sua lingerie na minha cama pra me provocar. O que foi, Camila? Tá com tanta falta de um homem assim?

Meu rosto ficou pálido.

— Isso é um engano, eu juro que não fiz...

— Chega de fingir! — Interrompeu ele, o olhar cheio de desprezo.

— Você me dá nojo.

As palavras dele cortaram como lâmina. Tiago olhou pra mim uma última vez, com uma decepção gélida, e puxou a Ana pela mão:

— Eu vou levar a Ana pra casa dos meus pais. Da próxima vez que nos virmos, me chame de cunhado.

Pouco tempo depois, o casamento dos dois foi oficialmente marcado.

Como Ana não tinha muitas amigas na cidade, meus pais insistiram pra que eu fosse a dama de honra.

Eles voltaram exatamente no dia da cerimônia, e minha mãe segurou minha mão, emocionada:

— A Ana vai se casar, e seus tios, lá no céu, certamente estão em paz agora. Só falta você, minha filha.

Toquei de leve a pulseira de casal no meu pulso direito, sentindo o rosto esquentar.

— Eu...

— Eu também estou namorando.

Minha mãe arregalou os olhos: — Como assim? Com quem?

— Aquele rapaz do encontro que marcamos pra você? Mas você não tinha dito que nem apareceu?

— O quê...? — soltei sem entender nada.

Então... com quem eu tinha me encontrado aquele dia?

Tiago, que estava por perto e ouviu a conversa, soltou um riso debochado, curvando os lábios com ironia. Ele provavelmente achou que eu estava mentindo só pra provocar.

Mas, ao ver que eu falava com tanta convicção, seu olhar se contraiu, e, por um instante, pareceu incomodado.

Aproveitando um momento em que estávamos sozinhos, ele me encurralou na saída do banheiro, se inclinando perto do meu ouvido para sussurrar:

— Enquanto você se comportar e não alimentar fantasias absurdas, eu ainda posso tratá-la como antes... como uma irmãzinha. Posso até arrumar tempo pra te ver de vez em quando.

— Eu estou falando sério — disse, firme. — Tenho namorado agora, e nunca mais vou atrás de você.

Tiago soltou um riso frio, sem acreditar. Segurou meu pulso com força.

— Ah, é mesmo? Então me explica por que a sua pulseira tem a letra Z gravada. Vai me dizer que não é de Z... de Zion?

— Não é! — respondi sem hesitar.

Poucos metros dali, Ana observava a cena, o olhar tomado por inveja e ressentimento.

Antes que o casamento começasse, o caos tomou conta dos bastidores. O vestido da noiva tinha sido rasgado, um buraco enorme bem na cauda.

No espelho da penteadeira, alguém havia escrito com batom duas palavras aterrorizantes: “Morra logo.”

Ana chorava de forma desesperada, cercada pelos convidados tentando consolá-la.

Mas, entre soluços, ela ergueu o olhar, apontando o dedo diretamente pra mim:

— Camila... eu sei que você ama o Tiago há quase dez anos, mas não pode me culpar por ele nunca ter te escolhido!

— No dia em que anunciamos o noivado, você mesma disse que aceitava. Por que agora quer destruir o casamento que esperei por tanto tempo?

Um murmúrio escandalizado percorreu o salão.

Todos sabiam que eu já tinha perseguido o Tiago no passado, que o amava de forma intensa e pública. Naquele momento, era fácil demais me considerar culpada.

Tiago chegou logo depois, atraído pelo alvoroço.

Ana se jogou em seus braços, chorando ainda mais alto:

— Tiago... acho melhor eu desistir. Vou te devolver pra Camila. Se não fizer isso, tenho medo do que ela ainda pode fazer...

"PÁ!" Um tapa forte estalou no meu rosto.

Tiago já havia me humilhado diante dos outros antes, mas era a primeira vez que realmente levantava a mão pra mim.

Olhei pra ele, com a face ardendo e o coração despedaçado.

— Tiago... você nunca acreditou em mim, nem uma vez sequer?

Ele me olhou com desprezo.

— Você acha que merece que eu acredite?

Caí de joelhos no chão, o mundo girando ao meu redor.

Ele me encarava de cima, frio, impiedoso.

— Já que você não sabe o seu lugar — disse com a voz gelada —, não me culpe por ser cruel.

— Eu mesmo vou explicar tudo pros seus pais.

— Homens, façam o que tem que ser feito.

Os padrinhos avançaram. Rasgaram meu vestido, e com um batom vermelho, escreveram no meu rosto uma palavra que me dilacerou a alma: “Vagabunda.”

Tiago disse que era pra me ensinar uma lição, usar comigo o mesmo tipo de castigo que eu teria usado contra Ana.

Eu gritava, chorava, tentava me defender, mas ninguém me ouvia.

Até que, de repente, uma voz grave cortou o ar: — Parem!

Braços fortes me envolveram e me ergueram do chão. Eu me agarrei àquele peito familiar, escondendo o rosto, tremendo.

Por entre o zumbido e o pavor, ouvi Tiago rosnar, a voz tensa, carregada de irritação:

— E você... quem é? Que relação tem com a Camila?
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