Meu espírito seguiu Ella até a clínica da curandeira.
Não demorou muito para que meu companheiro, Ryan, irrompesse pela porta.
Ele correu diretamente até Ella, segurando sua mão e examinando com angústia a marca vermelha em sua palma. Seus olhos estavam tomados de desespero.
— Como isso aconteceu? O que a curandeira disse?
— Ryan, não seja assim. — Disse Ella, com a voz embargada pelas lágrimas, embora ainda conseguisse esboçar um sorriso fraco. — A culpa não foi da Sophie. Ela provavelmente só queria me surpreender e se esqueceu, por um instante, de que nós, lobisomens, não podemos tocar na prata...
Quanto mais ela fingia compreensão, mais o rosto de Ryan se obscurecia.
Ele ergueu o olhar, com a voz fervendo de raiva:
— Sophie? Onde ela está escondida agora? Ella, não fique triste. Eu vou dar uma lição nela por você!
Como não havíamos completado o laço de companheiros, ele não conseguia sentir minha morte, muito menos saber que eu estava bem ali, ao seu lado, observando tudo em silêncio.
Depois de sair da clínica, Ryan ligou para o meu telefone. Quando não teve resposta, deixou uma mensagem:
— Sophie, como você pôde ser tão cruel? Usar prata para machucar a própria irmã? Sempre achei que você fosse gentil, mas fez isso por inveja?!
A voz de Ryan transbordava fúria.
— Eu estava indo entregar seu presente pela premiação. É uma herança da família, um pingente para te parabenizar. Mas agora, você não merece. Considere isso como seu castigo.
— É melhor rezar para que Ella fique bem. Caso contrário, considere cancelada a cerimônia do nosso Laço de Companheiros!
Ouvi suas acusações, mas meu coração já estava exausto demais para sentir qualquer coisa.
Eu deveria ter percebido muito antes.
Já havíamos discutido inúmeras vezes por causa da Ella. Durante um treino de caça, ele ficou o tempo todo vidrado na agilidade de Ella; quando tropecei em uma raiz, ele apenas me chamou de desastrada. Quando comíamos juntos, ele nunca lembrava que eu não tolerava comida apimentada, mas era capaz de assar pessoalmente mais de vinte tipos de sobremesas só para agradar Ella.
Discuti com ele sobre isso tantas vezes, apenas para ouvir:
— Você está exagerando. Eu só vejo a Ella como uma irmãzinha.
A frieza dele me fazia sentir como uma lunática possessiva.
Mas eu o amava tanto. Achava que sua presença era um presente da Deusa da Lua, que ele poderia ser meu, só meu.
Eu estava errada. Completamente errada.
Meus pais amavam Conner e Ella por causa do sangue que corriam em suas veias. E Ryan? Por que ele a amava? Eu não sabia.
E agora... Nunca mais teria a chance de descobrir.
Porque agora, quer eu tivesse caído ou sido espancada, jamais voltaria a sentir dor.
Depois da meia-noite, meu pai, minha mãe e Conner finalmente voltaram para casa, exaustos.
Eu flutuava em um canto da sala de estar quando ouvi minha mãe suspirar.
— É uma pena que a linhagem do Ryan não seja forte o bastante para a Ella. Eles seriam perfeitos juntos.
— Viu como ele foi atencioso na clínica?
Meu espírito se petrificou.
Então ouvi meu pai dizer:
— Sim, Ryan é bastante competente, e acho que Ella também gosta dele. Seria perfeito se fossem companheiros. Mas essas coisas são guiadas pela Deusa da Lua.
— Não fique pensando demais. — Disse minha mãe. — A linhagem do Ryan não é digna da nossa preciosa loba branca. É melhor deixá-lo com a Sophie. As linhagens de lobos cinzentos deles combinam melhor.
— Mesmo que ele complete o Laço de Companheiros com a Sophie, ainda pode mimar a Ella. — Acrescentou, com naturalidade, antes de olhar ao redor e perceber que a casa estava às escuras.
Um leve cheiro metálico pairava no ar.
— Parece que as pedras lunares da casa ficaram sem energia. — Reclamou meu pai. — Conner, vá até o porão e pegue uma nova.
Conner resmungou em concordância e seguiu em direção ao porão.
Quanto mais se aproximava, mais forte o cheiro metálico se tornava. Seus instintos de lobo o fizeram franzir a testa, mas ele descartou a sensação, achando que era apenas um rato morto em algum canto da casa.
— Que cheiro é esse? — Perguntaram meu pai e minha mãe, seguindo Conner até a porta do porão.
Conner empurrou a porta.
Um fedor espesso, nauseante, de sangue e decomposição se espalhou no ar.
Na escuridão, um corpo jazia em uma poça de sangue seco e enegrecido, com os olhos ainda parcialmente abertos.
Conner parou, imóvel.
— Sophie...?