CAPÍTULO XX
HABITANDO AS SOMBRAS
Lúcifer lembrava-se daquela caverna. Rememorava na própria carne a dor de caminhar entre os corpos mutilados de seus leais companheiros. O sangue media-se por poças rasas, onde penas angelicais tinham sua alvura conspurcada, boiando no líquido escarlate.
Ele correu pelo interior da caverna com sua espada em mãos. Vingadora Dourada emitia brilho próprio, fruto do ouro celestial, iluminando seu caminho. Estrela da Manhã seguia possuído pela ira e pelo desejo flamejante de vingar seus irmãos. Muitos dos mortos ainda agarravam-se às espadas, como se determinados a manter-se em eterna vigília.
Nas profundas entranhas do lugar, sentado sobre uma pilha de corpos, mordiscando uma parte irreconhecível do que um dia fora uma criatura celeste, estava o terror que derrotara a todos. Um ser enorme, de cascos, chifres retorcidos e asas de morcego. Um forte cheiro de enxofre misturava-se ao odor fétido dos cadáveres que atraíam moscas.
***
Lúcifer abriu os olhos. Aco