A estrada até minha casa pareceu mais curta, como se o carro estivesse guiando sozinho, puxado pelo turbilhão de sentimentos dentro de mim.
Estacionei na garagem e fiquei um minuto só olhando para as paredes, tentando compor o rosto. Não era todo dia que você trazia a notícia da morte de alguém como se fosse um presente.
Quando abri a porta da cozinha, o burburinho familiar parou. Minha mãe estava na pia, Milena ajudando.
Meu pai, mais pálido e magro do que nunca, estava sentado à mesa, e o Raul, meu braço direito e segurança da família, estava de pé perto da janela, vigiando como sempre.
Todos viraram pra mim.
— Rafael? Tudo bem? — minha mãe perguntou, secando as mãos no avental, os olhos já examinando cada linha do meu rosto em busca de problema.
— Tá resolvido — eu disse, e as palavras saíram mais solenes do que eu queria.
Joguei as chaves no balcão e o tilintar pareceu muito alto.
— O Genildo, ele morreu ontem, em uma operação da polícia.
O silêncio que caiu foi pesado, mas d