Algo entre partidas
Algo entre partidas
Por: Giulia Cristiano
Apresentando Marianne Sinclair

Você já deve estar acostumado(a) a ler histórias de garotas invisíveis que se tornam populares por causa de algo que, na maioria das vezes, envolve um garoto. Mas você já leu alguma em que a garota popular decide se tornar invisível pelo garoto que gosta? Eu sou Marianne Sinclair e essa é a minha história.

Tudo começou quando eu tinha apenas cinco anos e meu pai resolveu me matricular na escola particular mais cara da cidade. Como eu era criança não pude dizer não, até porque, meu pai é dono da marca de maquiagem mais famosa, a MissBeauty.

Eu até entendo que um dia vou ter que assumir a empresa e não rejeito a ideia, mas ele não precisava me fazer a garota mais popular da escola, quer dizer, era só ter me jogado lá e eu me virava. Mas não, eu tinha que aprender a dançar balé, jogar tênis, falar inglês e italiano.

Eu sei que não devia reclamar, mas tudo o que eu queria era ter crescido jogando bola na rua, mas vamos voltar para a história. Com o tempo, as outras crianças foram se aproximando de mim querendo fazer amizade, mas meu pai dizia que eles só queriam ser meus amigos por causa das coisas que eu tinha, então acabei fazendo apenas dois amigos de verdade, o Magnus e a Bianca que, assim como eu, são filhos de ricos e não fazem questão de tudo isso.

O Magnus é filho do prefeito, dá pra entender porque meu pai aprova a nossa amizade, já a Bianca, a mãe dela é diretora de uma multinacional aqui no país, ela tá quase sempre viajando e por isso a Bianca vive aqui em casa.

A nossa vida sempre foi cheia de gente nos bajulando e tentando chamar a nossa atenção, todos os anos, mas festas juninas, chegam bilhetes e mais bilhetes e, por causa disso, eu acabo preferindo o anonimato.

Minha atividade preferida é jogar lol durante a tarde toda e eu sei que você está pensando "Nossa que ridículo!", mas para alguém que está sempre rodeada de gente puxando o saco, é bem melhor o anonimato.

Neste exato momento, eu estou jogando no meu computador enquanto Bianca está deitada na minha cama mexendo no tablet dela vendo roupas e sapatos. Em geral, a Bianca é uma garota cheia de conteúdo, mas, quando entra dinheiro a mais nas economias dela, o vício em compras aparece e ela fica toda entretida.

-Você vai demora? -pergunta Bianca -Eu estou com fome.

-Eu já te falei várias vezes, eu tenho que esperar a partida acabar. É um jogo online.

-Pede uma pausa. -insistiu ela

-Não dá. -eu digo mais uma vez -Em um jogo online não existe pausa, eu tenho que jogar até o fim.

-E quem tá ganhando?

-Eles. -eu digo desanimada -Assim nunca vou aumentar meu elo.

-Você tem que desestressar. Amanhã é sábado, marcamos de ir ao shopping com o Magnus.

-Não sei porque eu topei ir. Eu detesto ser reconhecida na rua e, com ele, é impossível isso não acontecer.

-Olha. -Bianca começa a falar e eu já imagino o sermão que vem a seguir -Eu entendo você não gostar dessas coisas fúteis, mas não pode se privar da diversão por conta disso. Somos conhecidas, mas e daí? Eu nunca vi você se soltar. Nem um namorado você teve.

-E você é um ótimo exemplo com relacionamentos, né Bia. -digo sarcástica -O último namorado que você teve era um lixo, e todos aqueles garotos com quem você ficou, eca!

-Posso fazer o quê se meus lábios são feitos de mel. -ela ri

-Pode focar nos seus estudos e ser a arquiteta que sempre sonhou.

-Não preciso abrir mão da minha vida pra ser arquiteta. -ela responde irritada

-Não disse para abrir mão da sua vida. -eu me defendo -Só quero que você seja livre para ir pra faculdade e assumir sua posição empoderada no mundo.

-Tá. Eu não vou discutir sobre isso, você não gosta de beijar na boca e isso não influencia em nada.

-Eu não quero compromisso. -eu digo -Já chega meu pai no meu pé. Eu quero ser independente, curtir minha vida ao ar livre e, se quiser estar sozinha, não vou ter problemas.

-É claro. -Bianca reclama -Você me larga com o Magnus e fica de boa. Até parece que eu vou te largar, né!

-Ah droga! -exclamo sem prestar atenção ao que ela fala -Meu Nexus já era! Beleza, vamos comer.

Eu fecho o jogo e levanto da cadeira tirando os fones de ouvido. Bianca me olha com reprovação e revira os olhos, em seguida levanta da minha cama e segue para a porta. Meu quarto fica bem em frente à escada que desce para a sala principal da casa.

Sim, eu moro numa casa gigante, pra não dizer que é uma mansão. A escada é feita de madeira escura sustentada por uma estrutura metálica pintada de cor creme. Eu ando com calma até a escada enquanto Bianca sai descendo os degraus correndo com uma criança empolgada.

-Marianne! -chama Samara, a governanta -Está com fome?

-Eu estou! -Bianca responde no meu lugar

-E quando não está, senhorita Amaro? -pergunta Samara -Eu fiz umas torradas com patê e tem creme de camarão.

-Eu amo esse creme. -digo com satisfação, a boca cheia d'água

Essa receita é exclusiva de Samara e ela faz desde que eu sou uma criança de colo. É uma delícia, e se um dia eu aprender a receita, eu prometo que te passo. Mas voltando a te contar a história, eu e Bianca comemos as torradas com patê e o creme de camarão que está delicioso. Eu observo minha amiga.

Bianca tem a aparência de uma colegial de filme. A pele branca que deu origem ao seu nome, com os olhos azul piscina de dar inveja. Seu cabelo é loiro natural, porém ela tinge as pontas, que chegam à sua cintura, de vermelho que, segundo ela, dão um charme especial.

Já eu sou o oposto disso. Minha pele tem um tom mais queimado e meu cabelo é castanho e desgrenhado, meu pai vive me mandando alisar, mas é claro que isso não acontece. O único problema é que como eu uso o cabelo bagunçado, virou moda e todas as garotas da minha escola querem copiar.

Depois que nós comemos, o relógio marca nove e meia. Eu levanto e vou para o meu quarto tomar um banho. Você pode até achar estranho eu ir pra cama uma sexta à noite. Mas eu não vou às festas dos meus colegas de escola, então depois do meu banho eu visto o meu pijama e encerro o meu dia desembaraçando o cabelo e coloco um filme na TV do meu quarto para assistir com a Bia.

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