Capítulo 2
(Ponto de Vista de Sarah)

Já havia se passado uma semana desde minha chegada a Nova York. E a primeira coisa que tratei de fazer assim que pousei na minha cidade natal, foi desfazer as malas e organizar meu lar, já que aquela casa havia sido comprada por minha mãe antes de falecer.

O desejo dela era preservar aquele espaço como um lar. Ainda assim, naquele momento, não havia ninguém da família comigo.

"Apesar de todos da minha família saberem que eu estava retornando, ninguém fez qualquer esforço para me receber ou entrar em contato…"

Afastei esses pensamentos, continuando a tomar meu café na sala de estar, até que, de repente, o som do telefone me tirou do silêncio.

Apressei-me ao me levantar, estendi a mão até o celular sobre a mesa e, ao ver quem era, um sorriso se formou em meus lábios enquanto atendia de imediato.

— Alô, vovô! Como está? E a vovó?

— Nós dois estamos bem, querida. E você? Já se acomodou na casa nova? — Ele perguntou, animado.

— Sim, vovô, já estou instalada. Só queria que vocês estivessem aqui comigo... — Falei, um tanto melancólica, arrancando uma risada baixa dele.

— Vamos a Nova York neste fim de semana, minha querida. Afinal de contas, chegou a hora de eu finalmente lhe entregar a empresa. — Anunciou ele, em um tom firme.

— Sim, vovô, eu me lembro... Só espero conseguir aguentar e atender à altura.

— Você vai se sair maravilhosamente bem, meu amor. Liderar está no seu sangue. — Afirmou ele com convicção.

— Então, vamos acreditar nisso. — Tentei sorrir, mantendo o otimismo.

— Certo, querida. Nos vemos no fim de semana. — Finalizou ele.

— Combinado, vovô. Mande um beijo para a vovó. Tchau.

Após desligar, deixei meus pensamentos correrem soltos sobre como estava tudo diferente agora.

Meu avô, Stephen D’Amario, nunca mais confiou no meu pai depois do que ele fez comigo após a morte da minha mãe…

Ele havia fundado a empresa quando era jovem, e, como única herdeira, minha mãe era a escolhida para dar continuidade ao legado. Assim, com o casamento, ela e meu pai assumiram a gestão da empresa, mas tudo mudou quando ela foi diagnosticada com câncer.

Desde então, aos poucos, minha mãe passou a ficar em casa ou no hospital, enquanto meu pai assumira as funções da empresa. Apesar disso, meu avô deixou claro que, ao eu completar 21 anos, a empresa passaria a ser minha.

Além do mais, eu jamais me esqueci da forma como Lisa me tratava. Tudo o que ela queria era garantir benefícios para si mesma e para a filha. Para ela, dinheiro era tudo.

Por esse motivo, fez de tudo para me sabotar e não me enquadrar nos critérios para administrar a empresa no futuro. Inclusive, manipulou meu pai para tentar impedir que eu cursasse a universidade, o que, infelizmente, teve algum êxito, visto que meu pai chegou a dizer que eu não era capaz de estudar em nível superior.

Mesmo assim, minhas notas sempre foram boas: Eu não era a melhor da sala, porém mantinha uma média alta e constante.

E, até hoje, essas lembranças dolorosas ainda insistiam em retornar na forma de pesadelos.

-

(Flashback)

Naquele fim de tarde, eu havia acabado de chegar da escola e estava focada nos deveres quando Jessica e Chloe entraram bruscamente no quarto.

— Ei, sua feiosa. Fiquei sabendo que você ligou para o Adrian. — Jessica disse, irritada.

— Liguei, sim. Estava com saudades. Fazia tempo que a gente não conversava. — Respondi, sem encará-la.

— Uma coisa fubanga como você não tem direito de falar com ele. Adrian não deveria nem ser seu amigo. — Gritou Chloe.

— Acho que ele mesmo escolhe com quem quer andar. E isso não depende da aparência ou do dinheiro da pessoa. — Retruquei, mas, antes mesmo de concluir a frase, senti algo rígido acertar meu rosto com força.

Naquela hora senti o gosto metálico de sangue no canto da boca e antes mesmo que eu pudesse compreender o que tinha acontecido, Jessica me deu um soco no estômago.

Logo em seguida, Chloe agarrou meus braços com força, impedindo qualquer reação, enquanto Jessica me desferia outro tapa, até quando enfim se cansou de me bater e cuspiu em meu rosto.

— Aprendeu a lição, vadia? Fique longe dele, ou da próxima vez vai ser pior. — Rosnou Jessica, antes de elas saírem.

E, como se não bastasse, antes de irem embora, elas fizeram questão de estragar meu trabalho, mesmo eu tendo que entregá-lo no dia seguinte.

Fiquei ali, encolhida, chorando, apenas querendo entender o motivo de tanto ódio, já que Adrian era meu único amigo.

E mesmo com o rosto ardendo, enxuguei as lágrimas, decidindo recomeçar minha tarefa do zero.

Três horas se passaram até que eu terminasse e, ao olhar o relógio, vi que já era uma da manhã. Assim, apesar do estômago roncando, preferi ir dormir, pois não queria mais problemas naquela noite.

(Fim do Flashback)

-

Suspirei, envolvida pelas memórias que insistiam em voltar, e odiei a mim mesma por não ter reagido quando mais precisei.

Talvez eu fosse fraca. Ou talvez, naquela época, estivesse apenas lidando sozinha com tudo.

Apesar de meus avós desconfiarem de algo, preferi não alarmá-los, poupando-os de uma preocupação que eu acreditava ser desnecessária.

Agora, porém, tudo havia mudado. Eu me sentia diferente. Mais forte. Mais preparada.

Foi na universidade que aprendi autodefesa, e esse aprendizado foi o ponto de virada que me moldou de verdade.

Perceber o quanto amadureci me dá confiança de que finalmente fiquei pronta…

Pronta para assumir meu legado como herdeira do Grupo Amario.
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