— Espere aqui um instante. Eu já volto. — Disse Murilo, tentando tranquilizar Agatha antes de puxar Lorena para fora do salão.
Lorena não resistiu. Ela deixou que ele a conduzisse até um escritório isolado.
O silêncio tomou conta do ambiente. Murilo encarou Lorena por um longo tempo, até que finalmente quebrou o silêncio com uma voz grave e hesitante:
— E se não nos divorciarmos? Eu posso terminar tudo com a Agatha!
Lorena soltou uma risada amarga e balançou a cabeça:
— Se você realmente fosse capaz de terminar, não precisaria me trazer aqui para dizer isso. Talvez você não perceba, mas já está apaixonado por ela. E, mesmo que termine com a Agatha, ela é apenas o começo. Sempre haverá outra.
Murilo apertou os punhos com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos. Ele recusava-se a desistir e tentou novamente:
— E se eu a mandar para o exterior? Assim, vocês não terão mais que se encontrar.
Lorena sentiu o coração apertar, mas não queria continuar com aquela discussão. Ela apenas balançou a cabeça:
— Não vai adiantar.
Os olhos de Murilo ficaram vermelhos, sua expressão sombria e quase ameaçadora:
— Por que você insiste tanto em acabar com isso? Por que precisa sair da minha vida?
Lorena não aguentou mais. Com um movimento rápido, ela deu-lhe um tapa no rosto, sua voz cheia de dor e raiva:
— Murilo, eu não te amo mais! Entendeu? Desde o momento em que você me traiu, não há mais volta!
Por um instante, o silêncio foi absoluto.
Murilo virou o rosto, incrédulo. Ele ficou encarando o chão, os olhos vermelhos e assustadoramente intensos. Quando voltou a si, levantou a mão quase instintivamente, mas parou no meio do gesto. Sua mão trêmula fechou-se em um punho firme e pálido.
— Está bem. Você quer o divórcio? Então vai ter! Mas não se arrependa depois!
Com um movimento brusco, Murilo arrancou o contrato de divórcio das mãos de Lorena. Sem sequer ler, ele assinou e, em seguida, jogou os papéis contra o rosto dela com força. Sua voz saiu como um rugido:
— Está satisfeita agora?
O impacto deixou a bochecha de Lorena vermelha e dolorida. Ela recuou instintivamente, atordoada. Ficou parada por alguns segundos antes de se abaixar e pegar o contrato do chão. Segurando-o contra o peito como se fosse um tesouro, ela murmurou baixinho:
— Finalmente, estou livre.
A visão de Lorena com aquele sorriso de alívio fez a raiva de Murilo crescer ainda mais. Ele gritou, sua voz cheia de ódio:
— Você vai se arrepender disso!
Ele virou-se bruscamente e começou a sair.
— Murilo! — Chamou Lorena, segurando a manga de sua camisa. Seus olhos, cheios de lágrimas, já não mostravam mais raiva. Em vez disso, havia uma tristeza profunda, acompanhada por um sorriso melancólico. — Poderia me acompanhar até o bosque de ipês atrás do castelo? Só desta vez. Considere como uma despedida.
Murilo hesitou por um momento, mas logo puxou o braço com força, livrando-se do toque dela. Sua voz era fria como gelo:
— Não. A partir de agora, tanto faz se você viver ou morrer. Isso não me interessa mais!
Sem olhar para trás, ele saiu do escritório.
Lorena ficou observando enquanto ele se afastava. Seu coração doía tanto que parecia ter se tornado insensível. "Está bem assim", pensou ela. "Quando ele souber da minha morte, não ficará triste."
A noite já havia caído. Lorena olhou para a lua pálida no céu enquanto segurava o contrato de divórcio. Ela caminhou sozinha até o bosque de ipês.
Lorena caminhou por entre as árvores por muito tempo, perdida em seus pensamentos.
Quando o relógio marcava 11h58, ela tirou o celular do bolso. Digitou uma última mensagem para Murilo:
[Murilo, eu não me arrependo de ter me apaixonado por você. Afinal, o que tivemos foi real. A felicidade também foi real. Mas, se eu pudesse voltar atrás, escolheria nunca ter te conhecido. Eu não consigo aceitar o modo como tudo terminou.]
Ela pressionou o botão de enviar exatamente à meia-noite.
O som dos sinos do castelo ecoou na noite silenciosa. Lorena olhou para a tela do celular e viu o símbolo de exclamação vermelho que indicava que a mensagem não havia sido entregue. Suas lágrimas escorreram pelo rosto frio.
Sob a luz da lua, Lorena suspirou profundamente, fechou os olhos e desapareceu sem deixar vestígios.
Enquanto isso, na distante Cidade Klamba, um alerta foi enviado à polícia. Foi encontrado o corpo desfigurado de uma mulher em um esgoto escuro e sujo.