Capítulo 7
Seria possível alguém fazer uma escolha dessas? Guilherme sempre conseguia ser ainda mais sem vergonha.

— Pelo visto, você está mesmo sozinha, sem ninguém pra te ajudar.

O agressor disse, cheio de arrogância.

Gabriela tirou uma chave do bolso e, sem pensar duas vezes, enfiou direto no olho dele.

O homem gritou de dor e tentou acertá-la com um soco. Eles começaram a lutar. Gabriela levou vários socos pesados, mas ela conseguiu encontrar uma brecha e acertou um chute certeiro na virilha do agressor. Enquanto ele gemia de dor no chão, ela pegou o celular dele e ligou para a polícia.

Logo os policiais chegaram para investigar o que tinha acontecido.

Gabriela, ainda sem acreditar, perguntou:

— Por favor, vocês receberam algum chamado de emergência aqui agora há pouco?

O policial respondeu, com naturalidade:

— Não, senhora, nenhum chamado.

Guilherme nem sequer teve a iniciativa de ligar para a polícia.

Gabriela foi até a delegacia para registrar o boletim e depois passou no hospital para cuidar rapidamente dos ferimentos. Os médicos ficaram surpresos e elogiaram como ela aguentou golpes tão fortes.

Gabriela apenas sorriu, sem dizer nada. Ele já tinha suportado coisas bem piores na alma. Aquilo, perto do que ela já tinha passado, não era nada.

Quando terminou tudo, já eram três da manhã.

Gabriela voltou para casa arrastando o corpo exausto. O apartamento estava completamente silencioso, sem nenhum sinal de vida. Ela se jogou no sofá, sem forças para pensar em mais nada. Não sabia quanto tempo tinha se passado quando ouviu a porta se abrir.

A luz foi acesa de repente, ofuscando a visão de Gabriela. Ela levantou o braço para proteger os olhos e, pelas frestas, ela viu Guilherme e Rafael entrando.

— Aff, você só sabe bancar a coitadinha pra cima do meu pai!

Rafael falou sem a menor consideração, resmungando alto.

Gabriela não tinha energia para dar lição em ninguém. Ela fechou os olhos, querendo ignorar completamente os dois, e disse com frieza:

— Se vieram pegar alguma coisa, peguem logo. Eu só quero descansar um pouco em paz.

Guilherme olhou para ela, toda machucada, o rosto inchado, várias unhas quebradas. Mesmo assim, ela ficou em silêncio. Para ele, parecia que só restava cansaço, nem vontade de desabafar ela tinha mais.

Ele deveria ter sido o porto seguro dela.

Guilherme reparou em Rafael reclamando, completamente indiferente ao estado da mãe. Ele sentiu um calafrio, perguntando-se como o próprio filho tinha se tornado tão frio.

O silêncio se instalou. Gabriela levantou os olhos, olhou para Guilherme e, depois de pensar um pouco, disse:

— Quer que eu peça desculpas? Estraguei seu encontro? Então me desculpe.

Ela só queria se livrar logo daquela situação para poder descansar.

Guilherme apenas falou para Rafael:

— Vai pro seu quarto dormir.

Em seguida, Guilherme abriu a porta e saiu.

Gabriela não sabia o que ele pretendia fazer, e, sinceramente, não se importava.

Meia hora depois, a porta da frente se abriu novamente. Guilherme entrou, carregando uma sacola cheia de remédios. Ele se agachou ao lado de Gabriela, tirou iodo e cotonetes.

O barulho dos preparativos fez Gabriela abrir os olhos outra vez:

— O que você está fazendo? Já tratei dos meus machucados. Pra que esse teatro todo agora?

Guilherme franziu a testa, claramente irritado:

— Até pra cuidar de você eu levo bronca? Gabriela, você só pode gostar de sofrer. Parece que quanto mais te machucam, mais você gosta.

Gabriela soltou um riso frio:

— Então você sabe que você me machuca?

Guilherme ficou sem resposta. Ele já não tinha mais paciência para fingir cuidado. Ele largou o cotonete e o iodo em cima da mesa, levantou-se e olhou para ela de cima:

— Eu te avisei pra não ir naquele tipo de lugar. Você não ouviu, e se meteu em confusão. Você merece!

Merecer? Guilherme era mestre nisso: ele sempre achava um último pedaço intacto nela só pra esmagar.

Gabriela já não sentia nem vontade de discutir. Apenas olhou para Guilherme e perguntou, em tom calmo:

— E você e a Giovana, onde foi que se reencontraram?

Se ela tinha ouvido direito, a própria Giovana disse que foi no bar. Gabriela nem esperou a reação de Guilherme. Apenas puxou a manta e cobriu a cabeça.

Ela estava cansada, de um cansaço que vinha da alma. Por que ela ainda precisava suportar tudo aquilo? Faltava só meia quinzena, mas naquele momento, ela sentia que não aguentaria nem mais uma hora.

De longe, ela ouviu o celular de Guilherme tocar várias vezes. Ele não atendeu nenhuma.

Depois de um tempo, ela ouviu Rafael abrir a porta, pegar o celular e gritar, sem o menor pudor:

— Tia Giovana está te ligando.

Passou mais meia hora. Guilherme e Rafael saíram de casa, um depois do outro. Lá fora, a madrugada já caía.

Só depois que eles saíram, Gabriela relaxou e finalmente conseguiu dormir. Quando acordou de novo, lá fora já era noite outra vez. Ela se levantou sentindo o corpo inteiro pesado e dolorido.

Durante todos esses dias, Guilherme sequer se preocupou em saber do celular dela. Se tivesse ele ligado uma vez, teria percebido que ela estava incomunicável.

Gabriela se apoiou no sofá, desceu devagar para comprar algo pra comer. Mal virou o corredor do prédio, ela viu Guilherme e Giovana conversando baixinho, trocando olhares e sorrisos.

De repente, uma sombra passou correndo ao lado de Gabriela. No instante em que percebeu, ela sentiu uma dor cortante no abdômen. Ela olhou para baixo e viu o sangue jorrando. Ela levantou o rosto, atordoada.

Do outro lado, Giovana soltou um grito apavorado e se agarrou ao braço de Guilherme.

— Guilherme, eu tô com medo!

O agressor, assustado pelo grito, apressou-se e esfaqueou Gabriela mais uma vez antes de fugir correndo.

Gabriela foi caindo devagar, perdendo as forças, e de longe ainda viu Guilherme ao lado de Giovana...
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