Vingança

   Os anos se passaram rapidamente, fazendo com que Ariana crescesse cada vez mais bela e admirada pelas pessoas de dentro do palácio. Aprendendo a se portar como uma verdadeira princesa, Ariana havia se tornado uma garota meiga e querida por todos, além de ser sempre muito justa e carinhosa, criando uma bela amizade com as pessoas que trabalhavam dentro do castelo.  Mesmo sem nunca ter sido vista fora do grande palácio, a princesa era um grande assunto comentado pelo povo, que um dia sonhava com sua aparição. As notícias corriam por ABAD, até inclusive chegar aos ouvidos de quem só esperava por esse momento.

   Quando soube que seu irmão teve uma filha, seus planos sofreram uma pequena mudança, principalmente quando ao passar dos anos, percebeu que ela nunca havia sido vista em público. O que Atter tinha a esconder? Isso tudo era medo?

   – Essa princesinha pagará com sua vida pelo que o pai fez comigo. – Ele dizia escorado na porta de casa olhando para o monte que fazia a divisão das terras.

   Erick suspirou largando seu copo na mesa indo até Abnorú, parando ao seu lado. Observar o castelo de cima daquela montanha como fez uma vez, e então observar onde ele e sua família moravam o fazia apertar os punhos de raiva. Seu lugar não era naquele vale, e ele iria fazer de tudo para cumprir com seus objetivos, como Abnorú o instruiu até aquele momento.

   – Prometa para mim, Erick, que você irá derrotar todos aqueles que roubaram o seu trono. – Disse Abnorú sem nem mesmo se virar.

   – Estou mais do que pronto para fazer o meu trabalho. Todos que estão lá, desde a princesa até o atual rei passarão pela minha espada. Venho treinando isso há anos e não irei falhar. O trono de ABAD é meu por direito, e eu o terei.

   Abnorú sorriu erguendo a cabeça, convicto de que Erick faria sua parte, e devido a essa declaração, ele já poderia ser enviado. Mesmo sabendo que no final de tudo, quem ficaria com o trono não seria Erick, mas é claro que o rapaz não sabia disso.

   – Você conhece a história, Atter está procurando e inclusive treinando homens para um deles se tornar o guardião da princesa, e é aí que você entra. Você chegará ao reino procurando um lugar para se estabelecer, como um viajante qualquer. Com o tempo, você deverá demonstrar suas habilidades com a espada e enfim entrar para o exército de ABAD, se destacando entre os demais para que o comandante e Atter notem você. Se houver alguém que meu irmão tenha escolhido antes que você complete essas etapas, se encarregue de matá-lo secretamente e continue com o plano. O resto é comigo.

   Adelly vinha da cozinha com um cesto cheio de pães que ela havia preparado mais cedo, pois sabia que havia chegado o dia em que seu filho partiria. Porém, seu coração a mandava fazer uma coisa importante antes que ele partisse, mesmo sem entender direito o porquê de essa revelação ser crucial para o futuro. Adelly não sabia diretamente sobre o plano de Abnorú com Erick, pois por alguma razão ambos nunca falaram sobre isso com ela por perto. E isso incomodava a mulher que sabia que havia algo muito sério por trás disso, algo que até mesmo Erick não sabia.

   – Aqui estão alguns pães para a viagem. Os do lado esquerdo estão velhos e começando a mofar. Tire de dentro do saco quando terminar de comer os pães frescos que estão do lado direito. Mostre os pães mofados para os oficiais para mostrar que você veio de muito longe, para que não suspeitem de nada. E aqui está um jarro de água para você beber durante o caminho. Tenha cuidado, meu filho... Por favor. – Ela disse passando suas mãos pelo rosto do rapaz.  

   – Não se preocupe mãe, eu voltarei para buscar vocês.

   – Arrume suas coisas, você partirá esta noite.

   A noite havia chegado à ABAD, e o rei andava pelos corredores do palácio pronto para descansar de mais um dia cheio de coisas a resolver. Em um dos corredores, encontrou sua amada filha saindo de uma de suas salas de aula, com uma expressão cansada, quase nem notando a presença do pai.

   – Filha, já está indo se deitar?

   – Ah, sim. Estou muito exausta hoje, podemos continuar a conversa amanhã? – Ela perguntou já se retirando.

   Era perceptível que Ariana não demonstrava apenas cansaço. Havia algo a chateando, talvez o fato de não terem pessoas da mesma idade dentro do palácio. Pensando nisso, lembrou também de algo que ainda estava em andamento, indo enfim ver sua esposa.

   – Nossa filha está um tanto abatida, você não acha? – Ele disse entrando no quarto.

   – Axel já achou alguém qualificado para ela? – Perguntou Alina pegando algumas uvas para comer.

   – Ainda não conversei com ele sobre isso, estive ocupado por esses últimos dias. – Atter disse suspirando.

   – Ah meu amor... – A rainha ergueu seus braços indo até o marido para lhe dar um abraço. – Vamos encontrar alguém perfeito no momento certo, eu tenho certeza. E enfim sobre os assuntos sobre sua aparição pública, resolveremos mais tarde.

   Atter respirou fundo e concordou com a esposa, confiante de que eles achariam em breve o que tanto procuravam.

   Outro dia começava, e Erick andava firmemente pela areia quente, era um percurso longo até os portões do reino, e devido a isso, decidiu dormir ao relento quando a noite chegou novamente. Sentado debaixo de uma grande árvore, ele relembrava sua estratégia cautelosamente para que nada desse errado. Entretanto, algo insistia em voltar à sua mente, a noite anterior, quando ainda estava em casa prestes a partir.

   A revelação que sua mãe fez a ele quando Abnorú saiu de casa foi algo que o deixou completamente confuso, o fazendo duvidar por alguns momentos o que deveria realmente fazer.

   “– Acho que estou triste em te ver partir, ontem mesmo você era apenas um garoto... E agora já é um rapaz... – Disse Adelly se sentando ao lado da cama onde Erick organizava suas coisas.

   – Estou ansioso em voltar com a coroa em minha cabeça. Meu pai ficará orgulhoso de mim.

   – Querido... Eu sei que eu devia ter te contado isso antes, mas... Agora que sei que você está mesmo indo para dentro dos portões de ABAD, você precisa saber a verdade.

   – Do que está falando? – Erick perguntou ficando parado no lugar vendo sua mãe claramente procurando as palavras certas para falar.

   – Sei que isso parecerá muito confuso de começo, mas... – Quando Adelly estava prestes a contar toda a história ao seu filho, ambos escutaram o barulho da porta de casa sendo aberta, indicando que Abnorú havia chegado a casa.

   – O que foi mãe?

   – Escute, eu preciso ser rápida, Abnorú não pode saber de nada disso! Ele não é seu pai. Ele não é alguém em quem você deva se espelhar, além disso, fique esperto, pois o plano dele, seja qual for, não irá beneficiar você, meu filho, por isso, eu peço que vá para ABAD e faça o que você achar certo, eu sei que você vai pensar bastante sobre isso e tomará a decisão correta. – Ela disse dando um beijo na testa de seu filho que não conseguia dizer uma palavra sobre o que acabou de ouvir.

   – O que estão fazendo? – Abnorú perguntou abrindo a porta do quarto de repente.

   – Eu estava apenas me despedindo novamente do meu menininho... Não se esqueça Erick, eu te amo.

   O rapaz não sabia como olhar para aqueles dois, sem saber quem estava dizendo a verdade. Sentia inclusive sua cabeça doer, sabendo que ele não conseguiria passar um dia sem relembrar sobre isso.”

   Ao pensar sobre isso, Erick sentia suas mãos suarem. Não era nessas coisas em que ele pretendia pensar quando estava se preparando para esse dia. Agora ele precisava escolher um lado, e quando vinha à sua mente o reino, o trono, todo o poder, o lugar perfeito onde tudo seria seu, se ele tivesse um parentesco com Abnorú, fez com que ele dissesse a si mesmo que ninguém além dele e de sua mãe sabiam dessa história, então ele continuava sendo filho de Abnorú, o herdeiro do trono.

   Erick era um jovem muito esperto, era inteligente e tinha raciocínio rápido. Além de ser confiante, não tinha medo do que fosse encontrar. Sua mãe havia lhe ensinado como ser astuto, acreditando que seu filho chegaria longe sendo parecido com ela.

   Depois de algum tempo traçando um começo para sua chegada em ABAD, Erick cedeu ao sono e dormiu as horas que restavam.

   O sol arriscava aparecer pelas montanhas, avisando que o dia estava começando, fazendo com que a princesa acordasse com os raios vindos da janela. Abrindo seus olhos lentamente, se espreguiçou até ter coragem de levantar. Mais um dia no castelo começava, assim como sua rotina repetitiva, e com isso logo começaria sua primeira aula da manhã.

   Erick acordado pelo calor insuportável rasgou suas mangas seguindo o caminho rumo ao palácio. A tarde era quente e as nuvens não estavam presentes para fazer sombra ao jovem que se aproximava dos portões. Finalmente Erick tinha chegado, e limpando o suor de sua testa, ele percebia os rostos confusos dos guardas vendo ele se aproximar.

   – O que você quer? – Perguntou um dos guardas.

   – Estou aqui à procura de um lugar para morar.

   – De onde você vem? – Perguntou novamente o guarda olhando de cima a baixo o rapaz a sua frente. Ele aparentemente não possuía armas, mas ainda poderia ser uma ameaça. 

   – Venho de muito longe, do reino Tórus. Veja, – Erick pegou o cesto e mostrou os velhos pães que restavam ali, como sua mãe disse para fazer. – Quando saí da minha terra, estavam fresquinhos, mas agora...

   Os guardas se entreolharam como se em pensamento conversassem se o que aquele jovem falava era verdade. Por fim, um deles continuou dizendo:

   – Pois bem, qual é o seu nome?

   – Meu nome é Erick.

   Ele poderia ter omitido seu nome, ter escolhido outro, mas queria que todos se lembrassem bem quem ele era quando tudo estivesse como ele e Abnorú planejaram. Além disso, seu nome os enganaria, pois mesmo morando em territórios de ABAD, seu nome era diferente das normas, sem a inicial A.

   – Muito bem senhor Erick, antes de qualquer coisa, te revistaremos para ver se não há nenhum tipo de armamento. Se estiver tudo certo, nos acompanhe.

   Erick concordou sendo revistado pelos outros dois guardas ali, seguro de que não achariam nada, apenas mantimentos para a viagem.

   – Precisamos avisar ao comandante que chegou um novo habitante vindo de Tórus, para termos autorização para lhe mostrar as casas da vila, a menos que possa pagar por uma casa maior na cidade.

   – Vou ficar com a casa da vila, aliás, sou apenas eu. – Disse Erick seguindo os soldados até os portões do palácio, onde um dos guardas foi sozinho à procura do comandante.

   Erick observava o local. A cidade era muito bonita, cheia de construções, e um belo jardim central. Mas com certeza nada poderia se comparar a beleza de tudo que certamente tinha dentro do palácio. O rapaz ficava imaginando quanto tempo levaria para que ele pudesse entrar lá, até mesmo para botar os olhos na garota em que ele teria que conviver até que pudesse matá-la, assim como seus pais. Mas antes disso ele precisava ter a confiança de todos eles, e isso poderia demorar. Além disso, será que o rei já havia escolhido um guardião para a princesa? Se isso tivesse acontecido ou prestes a acontecer, ele precisava se encarregar de tirar quem quer que fosse de seu caminho.

   – Então esse é o rapaz... Seja bem vindo ao reino ABAD, aqui você vai encontrar uma variedade de animais, de comidas, de produtos e muito mais. ABAD é uma terra rica, então se você for agricultor pode se dar muito bem negociando terras e fazendo plantações. Também temos... – Antes que Axel pudesse continuar a falar, Erick o interrompeu, dizendo:

   – Eu inicialmente preciso de um lugar para morar, creio que poderei descobrir todas essas coisas mais tarde. Além disso, não sei lidar com plantações e afins, meu oficio é outro. 

   O comandante surpreso por tais palavras segurou suas mãos para trás do corpo, encarando o rapaz a sua frente que parecia estar completamente firme, o encarando de volta.

   – E qual seria? Talvez eu possa ajudar.

   – Eu era um soldado de Tórus. Sei lutar com espadas e com lanças.

   – É mesmo? E por que saiu de sua terra? – Perguntou o comandante.

   – Houve um ataque surpresa há alguns anos, e como eu ainda estava em treinamento, não pude fazer muita coisa. Toda a minha família morreu e apenas eu consegui fugir, desde então tenho vagado pelos reinos, procurando um lugar seguro e melhor para viver, por isso vim para este. – Disse o rapaz se infiltrando no trágico ataque de Tórus há alguns anos, para que acreditassem no que ele falava.

   – Eu sinto muito... Deve ter sido horrível... Mas, enfim, venha comigo, eu lhe mostrarei a vila, lá tem uma casa no qual eu acho que ficaria perfeita para você.

   Axel estava interessado no passado do rapaz, sentindo algo diferente quando o olhava, como se aqueles olhos destemidos o lembrasse de alguém. Enquanto andavam até a vila, Axel continuou fazendo mais perguntas, pensando em possivelmente o ver lutando, talvez ele pudesse se juntar ao exército.

   – Desde quando você aprendeu a lutar?

   – Desde cedo, meu pai queria que eu fosse um grande soldado... Eles tinham um conhecido que me apresentou ao general que gostou muito de mim, me ensinando desde criança algumas técnicas até que eu tivesse idade o suficiente para treinar com os outros. – Erick tinha toda uma história inventada em sua mente para contar aos outros, para que todos conhecessem, por enquanto, esse Erick.

   – Sendo o comandante do exército de ABAD, gostaria de te ver lutando. Quero analisar o que você sabe, e o que não sabe, para ver se está apto para servir ao rei em ABAD, já que você disse que é isso que sabe fazer.

   – E por que não nesse momento? – Erick perguntou parando na frente do comandante, que surpreso, mostrou um leve sorriso vendo a ousadia do rapaz, tirando duas espadas para lutar, entregando uma a Erick. – Vamos ver do que você é capaz.

   Os dois começaram a batalhar um contra o outro, fazendo barulho quando suas espadas se chocavam. Em defesas e ataques, ambos usavam suas forças para tentar derrubar um ao outro, chamando a atenção das demais pessoas que estavam transitando pelo local. Percebendo que o rapaz era de fato bom na espada, o comandante Axel ergueu forças e o parou, com um sorriso satisfeito no rosto.

   – Você é mesmo bom. – Ele disse guardando suas espadas. – Mas precisa ser excelente para ser o guardião.

   – O quê? – Erick perguntou surpreso, fingindo não saber de nada.

   – O rei está procurando homens valentes, assim como você que não teme a nada. Guerreiros experientes que dariam a vida por sua filha, a princesa. Aliás, quantos anos você tem? – Axel disse voltando a andar na direção da vila, sendo seguido por Erick.

   – Vinte e um. – Ele disse esperando que ele continuasse.

   – Bem, está vazia a um bom tempo... – Axel disse chegando em frente a casa antiga de Adelly. – É um pouco afastada das demais porque... Bem, é uma longa história. Mas acho que seria perfeita para você.

   – É claro, é perfeita.

   – Amanhã pela manhã eu voltarei para resolver a parte financeira, além de uma proposta. Se acomode e descanse, até amanhã. – Ele disse saindo, enquanto Erick entrava para admirar a casa.

   Era pequena, mas realmente perfeita para ele naquele momento, pois sabia que era temporário, e que em breve ele estaria morando no palácio.

   Dentro da sala do trono, estava o rei e sua esposa conversando com um dos chefes da cidade, até escutarem as portas sendo abertas revelando um rosto animado em ter uma notícia interessante aos ouvidos dos soberanos. Axel se dirigiu até a frente dos degraus que sobem até o trono de Atter, se curvando.

   – Pode ir, Artris, continuamos mais tarde. – Disse o rei vendo ele se curvar pronto para sair da sala do trono.

   – Majestades. Venho trazendo uma notícia que talvez possa agradar meus soberanos.

   Atter e Alina se entreolharam pensando no que poderia ser até Atter pedir que ele continuasse. 

   – Hoje pela manhã, oficiais vieram me procurar dizendo que havia chegado um rapaz a procura de um lar, e eu fui resolver o assunto. Nós conversamos até eu mostrar uma casa para ele, e dentro desse período, ele me disse ser um guerreiro. Então eu disse que gostaria de vê-lo lutando, e no mesmo momento ele me desafiou para um pequeno duelo a fim de me mostrar suas habilidades. Meus senhores, ele é realmente muito bom, e se mostrou estar mais avançado do que os soldados que escolhemos para instruir a ser o guardião da sua filha.

   Atter parou para analisar o que ouvia, olhando sério para os lados até seus olhos pararem em sua esposa, que agia da mesma maneira.

   – Ele não é do reino... Isso me preocupa. – O rei disse pensando em como ele queria que fosse um de seus soldados. Como confiariam em alguém que veio de fora?

   – Eu sei disso... Mas... Creio que não podemos desperdiçar o talento desse rapaz. Se me permite dizer, podemos observá-lo por algum tempo para descobrirmos como ele é e como age. Quando o senhor estiver seguro o suficiente, podemos o colocar para treinar no nosso exército, e se ele se mantiver com uma postura boa e confiável diante dos seus olhos, o rei o nomeará como o guardião da princesa.

   – Tem algum laço com este rapaz? Está falando dele como se o conhecesse ou fosse alguém especial.

   – Não, de forma alguma. Mas acho que quando o vi, principalmente lutando, tive certeza de que era ele quem estávamos esperando até agora, meu rei.

   – Tem certeza de que não corremos perigo com ele? – Perguntou o rei se levantando do trono descendo os degraus até seu amigo.

   – Como eu disse, vamos o avaliar durante um tempo e teremos o veredito.

   – Mande chamá-lo, antes de qualquer coisa quero ver quem é este rapaz. – Disse o rei tocando no ombro de Axel, que curvou a cabeça se retirando da sala.

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