Algumas quadras desde a delegacia.
Em uma das quinas do teto branco de um quarto particular, no principal hospital da cidade, na cama, a senhora elegante encara de cenho franzido em sinal de desafio frente ao pertinaz despontar da formação sinistra. Recosta aos travesseiros e diz:
— Desapareça daqui! Oras! Não é agora e nem nunca que comerá o meu juízo... — resmunga, apontando o dedo.
Talvez só precise de um pouco mais de sua indignidade, Lúcia — a presença obscura estreita os olhos.
Até que... de rompante a porta do quarto abre.
— Mãe! — Ainda uniformizado, em disparada, como se fosse parar o tráfego. — A cuidadora disse que a senhora parou de comer e te internaram! Está querendo morrer?
Elegante como uma estátua de mármore somente revira os olhos.
— Ah! José! Sabe muito bem que Marilinda é uma mulher exagerada! Apenas tive um episódio infeliz com minha gastrite. Agora já posso comer, o doutor ajustou a dosagem do meu medicamento...
Senta-se na cama, ao lado da mãe. Como se ig