— Prometo que não é. — ele disse, levantando as mãos em rendição. — Só pensei… que tal uma caminhada? Nada demais. Só... esticar as pernas, aproveitar a noite, conversar mais um pouco. Ela hesitou por um segundo, mas o convite tinha um quê de simplicidade reconfortante. A noite lá fora estava fria, sim, mas o sobretudo a protegeria — e, no fundo, algo nela queria prolongar aquele momento. — Caminhar. — repetiu, como se testasse a ideia. — Com um advogado desajeitado que odeia gravatas. — Exatamente. — ele confirmou, rindo. — E que promete não te empurrar numa poça ou tropeçar nas próprias pernas. Ela pegou a bolsa, levantando-se. — Nesse caso… vamos. Mas se eu escorregar nos meus saltos, a culpa vai ser sua. — Já estou pronto para assumir total responsabilidade. — ele respondeu, oferecendo o braço para ela. Elana o olhou por um segundo, antes de entrelaçar o braço no dele. Saíram do restaurante como se o mundo tivesse diminuído a velocidade só para eles. A calçada ainda estava
Após mais alguns minutos de caminhada, Ryan perguntou o endereço de Elana e tirou o celular do bolso. — Se importa de dividir um carro de aplicativo comigo? — Carro de aplicativo? — ela comentou, divertida. — Jurava que você era do tipo que dirige um sedã preto com bancos de couro. — E perder a chance de dividir um carro com você? Jamais. — ele respondeu, com um sorriso torto. — Além disso, não tenho carro. Fica mais fácil fingir que sou misterioso assim. Elana riu, balançando a cabeça. — Misterioso e econômico. Um combo irresistível. O carro não demorou a chegar. Ryan abriu a porta para ela com um gesto brincalhão, como se fosse um cavalheiro de um romance de época. — Depois de você, senhorita Elana. Ela entrou, ainda sorrindo, e ele logo se acomodou ao lado. O banco de trás era pequeno demais para a tensão leve que crescia entre eles, mas confortável o bastante para que o silêncio que se formou não fosse constrangedor. O motorista iniciou o trajeto, e por alguns instantes
Por um momento, não era Elana sentada ali. Era Isadora, a protagonista do seu livro, sentindo o coração sair da rotina pela chegada de alguém inesperado. E, de algum jeito, era como se aquele personagem novo tivesse ganhado vida antes mesmo de ser planejado. Como se ele simplesmente... surgisse. Elana sorriu sozinha. Noah. Nome escolhido em segundos, mas que soava tão certo quanto o silêncio confortável que ela e Ryan haviam dividido naquela noite. Ela estalou os dedos, pronta para continuar. “Isadora não sabia o que esperar dele e, sinceramente, não fazia questão de descobrir tudo de uma vez. Às vezes, só o fato de alguém se sentar ao seu lado sem pressa já era o suficiente para aquecer uma noite inteira." Com um brilho leve nos olhos, Elana continuou digitando, os dedos ganhando ritmo, a inspiração fluindo com naturalidade. A figura de Gabriel, que sempre dominava as páginas com sua presença intensa e o passado entrelaçado ao dela, por ora, dava espaço a esse novo personagem. Nã
Gabriel soltou um sorriso torto, inclinando-se levemente para a frente. — Eu queria acompanhar mais de perto o que você está escrevendo. Estar por dentro da história da Isadora e do Adrian… sem surpresas, sem triângulos amorosos inesperados. Elana arqueou uma sobrancelha, largando o cardápio sobre a mesa. — Você quer acompanhar o livro… ou é porque a Giana te contou que me viu com alguém? A expressão de Gabriel se quebrou no mesmo instante. O leve sorriso desapareceu, substituído por um olhar confuso. — O quê? — Esquece. — ela disse rápido, desviando o olhar e pegando o copo d’água à sua frente. — Foi só um comentário bobo. — Não, espera. — ele se inclinou um pouco mais, agora com o semblante sério. — Com quem você estava? Ou melhor, onde viu a minha mulher? Elana estreitou os olhos, surpresa com a inversão repentina. — Sua mulher? — repetiu, quase em um sussurro. — Eu não disse que vi a Giana. Disse que talvez ela tenha te contado algo. Gabriel a encarou por um momento, o m
Elana ficou em silêncio por um momento, os olhos fixos em Gabriel, como se estivesse tentando absorver cada palavra do desabafo que ela jogara sobre a mesa. O tamborilar dos dedos na mesa parou, e ele parecia prestes a dizer algo, mas antes que pudesse responder, o garçom apareceu ao lado da mesa, com um sorriso educado e um bloco de anotações na mão. — Desculpe interromper. — disse o garçom, alheio à tensão entre eles. — Já decidiram o pedido? Elana piscou, como se voltasse à realidade, e pegou o cardápio rapidamente, tentando disfarçar o peso do momento. — Uma salada Caesar, por favor. — murmurou, sem nem olhar direito para as opções. Gabriel, ainda com o olhar preso nela, pediu um prato de massa com a voz automática, claramente desconectado da escolha. O garçom anotou tudo e se afastou, deixando-os novamente envoltos no silêncio carregado do restaurante. Elana desviou o olhar para a janela, onde o movimento da rua parecia mais seguro do que enfrentar a expressão de Gabriel. El
— Tudo bem. — disse ela, finalmente, com um suspiro. — Mas se você vai ser meu melhor amigo de novo, precisa parar de me interrogar sobre meus amigos de cafeteria. Combinado? Gabriel riu, o clima entre eles finalmente se aliviando. — Muito pelo contrário, minha querida, como seu melhor amigo, é minha obrigação saber tudo sobre os homens que querem sair com você. Elana riu, balançando a cabeça, o som da risada ecoando como um alívio no espaço entre eles. — Você é impossível, sabia? — disse ela, apontando um dedo acusador na direção dele, mas o sorriso em seus lábios traía qualquer tentativa de parecer séria. — Não sei se quero um melhor amigo que age como meu pai ou, pior, como um detetive particular. Gabriel inclinou a cabeça, o sorriso travesso voltando ao rosto, mas havia uma suavidade nos olhos dele que não estava ali antes. — Detetive particular? Não, não. Sou mais como um… guardião da sua felicidade. É diferente. — Ele fez uma pausa, fingindo considerar a ideia. — Além di
O som estridente de um copo se estilhaçando contra a parede preencheu a sala. O peito de Elana subia e descia rapidamente, o coração martelando no peito como se quisesse escapar da dor que a sufocava. Diante dela, Michael mantinha os braços erguidos, como se pudesse se defender das acusações que caíam sobre ele como uma tempestade. — Você acha que eu sou estúpida, Michael? — A voz dela saiu embargada, mas firme. — Eu vi as mensagens, eu vi as fotos. Não tem mais desculpas, não tem mais mentiras. Michael passou a mão pelos cabelos escuros, o rosto contraído em uma expressão de exasperação. — Elana, não é o que você está pensando... Ela soltou uma risada amarga. — Não? Então me explica, porque pelo que eu vi, você está com outra mulher! Faz tempo, não faz? — Seus olhos ardiam, mas ela se recusava a chorar. Não na frente dele. O silêncio que se seguiu foi a confirmação que ela precisava. Michael desviou o olhar, os ombros caídos em derrota. Ele não tinha nada a dizer. Nenhuma jus
Elana inspirou fundo, tentando recuperar o controle. Ela não podia se permitir desmoronar completamente. Já tinha chorado demais. Passou as mãos pelo rosto, secando as lágrimas, e endireitou os ombros. Precisava sair dali. Precisava ir para um lugar onde ainda houvesse um resquício de segurança, onde não se sentisse tão perdida e sozinha. Ligou o carro e saiu do estacionamento com as mãos firmes no volante, mas seu coração ainda estava em pedaços. A cidade passava por ela em flashes borrados pelas lágrimas remanescentes, e cada semáforo parecia um lembrete cruel de que sua vida estava em pausa, parada no momento exato em que descobriu a traição. Quando finalmente chegou ao prédio de Isabella, estacionou sem se preocupar se estava alinhada corretamente. Saiu do carro, pegou sua mala e atravessou o pequeno jardim que levava à entrada. Seus passos estavam pesados, e o cansaço emocional ameaçava derrubá-la a qualquer momento. Apertou a campainha e esperou, o coração batendo forte contr