Fernanda
— VOCÊ VEIO MESMO MEU AMOR, QUE SAUDADE!Dani gritava vindo em minha direção, assim que desci do ônibus.— Saudades de você também, sua doida que eu amo!Nos abraçamos.Ela perguntou como eu estava em relação a minha mãe, mais uma vez me deu os pêsames, já havia feito isso por telefone quando aconteceu, mas agora o fazia pessoalmente.Logo pegamos um táxi e fomos em direção a casa da Dani no Complexo da Penha, onde seria meu mais novo endereço. Confesso que a ideia ainda me assusta um pouco, pois ouve-se falar tantas coisas sobre esses locais.Dani falava toda eufórica, fazendo planos e me contando várias coisas, de um jeito todo dela que eu adoro e em um certo ponto o taxista parou e eu achei estranho. Dani pagou a corrida, eu quis ajudar mas ela não aceitou. Quando descemos, antes mesmo que eu perguntasse, ela já me explicou que os taxistas não sobem a favela, eles levam os passageiros até certo ponto e depois é preciso subir a pé.Na entrada do complexo haviam vários homens fortemente armados, fumando e com um tipo de rádio na mão.— Aí loirinha, tranquilidade? Quem é a princesa aí cheia das malas? — um dos homens pergunta para Dani.— VT, essa é minha amiga, a mais nova moradora da comunidade, vai morar na minha humilde residência!— Satisfação, morena! Aguarda aí com a loirinha.Já me bateu um medo nessa hora, Dani faz um sinal para que eu ficasse tranquila, enquanto o homem fala com alguém no rádio sem que eu pudesse entender o que ele dizia e pouco depois, liberou nossa entrada. A minha entrada na verdade, já que eu era nova ali.Vejo que ele pisca o olho para a Dani e ela dá um sorrisinho, me pareceu certa intimidade ali.Poucos passos andamos e perguntei a ela quem era o cara com que com ela na entrada.— O VT é um dos soldados que faz a contenção na entrada da favela, ninguém que não é daqui, passa pela entrada sem autorização do Carioca!— Quem é Carioca? — pergunto.— O dono da favela! — Dani responde.Provavelmente estava estampada na minha cara, a preocupação e ela já foi tentando me tranquilizar.— Amiga, relaxa! É só andar na disciplina aqui, que tá tudo certo, você vai gostar daqui, não é tudo isso que falam por aí não! — ela diz tranquilamente.Fomos em direção a casa dela e pelo caminho fui observando tudo, é muita informação junta, bares, mercadinhos, lojinhas, restaurante, barbearia, tudo muito próximo.Crianças brincando, música sertaneja, funk, pagode, tudo tocando em vários lugares ao mesmo tempo enquanto o fluxo de pessoas e motos é grande.Em toda parte tem homens armados, muitos fumando um baseado, pelo jeito isso é bastante normal por aqui. Tentei disfarçar minha cara de espanto com tudo que vi até agora, espero ter conseguido.Lucas, vulgo LC, 22 anos, alto, magro, cabelinho na régua e sorriso angelical com um aparelho reluzente nos dentes. Se não fosse o fuzil que carrega nas costas, podia- se perfeitamente confundi-lo com playboyzinho da Zona Sul, mas ele não brinca em serviço, está no crime desde os 14 anos e é o chefe de segurança do morro.Eduardo, vulgo Japah devido aos olhos levemente puxadinhos semelhantes ao do irmão Carioca. Tem 24 anos, alto, muitas tatuagens, sempre usando boné aba reta, é o sub dono do morro, mata e morre pelo irmão se for preciso, é seu braço direito em tudo.Felipe, vulgo Carioca, 27 anos, é o dono do morro. Alto, forte, olhos puxados, tatuagens no braço direito, nas costas e no lado esquerdo do pescoço.Ele assumiu o comando quando seu pai morreu anos atrás numa troca de tiros com a polícia em uma tentativa de pacificação do morro. É um cara frio, impiedoso, cobra quem tem que cobrar, tortura e mata se achar necessário e tem como amante fixa, a Jéssica, mas não a assume como fiel.Pega muita mulher, sex* é coisa que não falta, a variedade é grande pois elas se jogam para ele.Carioca tem uma parceria incrível com o irmão Eduardo, única pessoa da família que ele tem por perto, já que sua mãe Ângela foi morar fora do país após a morte do marido.FernandaChegamos na casa da Dani e ela foi mostrando tudo, inclusive onde seria meu quarto, eu amei tudo, a casinha dela é simples mas muito organizada e aconchegante. Ela foi preparar um lanche enquanto eu tomava um banho para relaxar, a viajem tinha sido longa e cansativa.Enquanto comemos fomos conversando sobre minha mãe, sobre como tudo seria daqui pra frente.Ela me contou que trabalha no caixa do ponto de açaí daqui, segundo ela o melhor açaí do mundo.Os dias foram passando, primeira semana, segunda... E na terceira semana eu já havia conseguido emprego em uma loja de roupas e calçados fora do morro. Dani ficou muito feliz e disse que foi muita sorte, pois segundo ela, muitos trabalhadores não conseguem emprego fora da comunidade devido a um certo preconceito com morador de morro, um absurdo afinal a maioria aqui é gente honesta e de bem.Aos poucos eu estava me adaptando a minha nova rotina, até amigos já fiz, Andrey e Rebeca, amigos da Dani que trabalham com ela, eles são muito gente boa, estou começando a me adaptar.****Fernanda tem 19 anos, foi criada com muito amor e dedicação por sua mãe e nunca conheceu seu pai, pois quando ele soube da gravidez, sumiu no mundo.Sua mãe era uma mulher muito honesta e esforçada, foi mãe solo mas batalhou muito para criar Fernanda. Ela trabalhava como doméstica há muitos anos na casa de uma família muita boa e em certo momento, descobriu que estava com um tipo de câncer bem severo que lhe tirou a vida em poucos meses, seus patrões ajudaram dentro do que era possível, no momento de sua doença, mas nada além, pôde ser feito e ela faleceu.Fernanda é uma morena linda, cabelos longos e lisos, corpo atraente, teve apenas um namorado, sempre foi uma boa filha, uma pessoa calma, tranquila e batalhadora. Após a morte de sua mãe, estando sozinha no mundo, resolveu aceitar a proposta de sua amiga de infância Daniela, que atualmente mora no Rio de Janeiro e havia lhe convidado para morar lá com ela.Daniela é filha de pais separados e aos 15 anos resolveu morar no Rio de Janeiro com seu pai.Um tempo depois, o pai se casou novamente e quando ela completou 18 anos, foi morar sozinha. Mudou-se para o complexo da Penha, onde vive há 03 anos.Para ir até o Rio de Janeiro morar com sua amiga Daniela, os patrões da mãe de Fernanda lhe ajudaram, dando a passagem de ida para o novo destino e lá o caminho de Fernanda vai se cruzar com o de Carioca, o temido dono da favela e a vida deles nunca mais será igual.