AntonelaJá estávamos há um tempo ali na sala da casa da Thayla e do Gabriel, mas parecia impossível desgrudar os olhos do Alessandro. Eu, ela e minha mãe babávamos nele, completamente encantadas. Ele estava quietinho no meu colo, dormindo com aquela carinha serena, como se todo o caos dos últimos dias nunca tivesse existido. Graças a Deus, meu filho vivia imune à tragédia que quase aconteceu com Thayla, Thierry, Gabriel e meu pai. Aliás, meu irmão e o “senhor Carioca” fizeram minha mãe quase infartar quando ela soube do resgate da Thayla.Minha cunhada não conseguia parar de sorrir. Era a primeira vez que ela via o meu filho de perto, e eu podia sentir a emoção dela só de olhar.— Meu Deus, ele é perfeito... — ela murmurou, abaixando o rosto para ver Alessandro mais de pertinho, analisando cada pedacinho dele.Eu sorri, sentindo o peito se encher de um amor tão grande que parecia que ia transbordar. Depois de tudo o que a gente passou, ver minha amiga ali, bem, segura, e ainda encant
ThierryFoi tudo tão rápido naquele instante. Num minuto, estou saindo às pressas do carro do Carioca, indo em direção à minha irmã e, no outro, estou tomado por uma dor lancinante que irrompeu em meu corpo. Tudo ao meu redor se transformou em um borrão lento e arrastado e, enquanto eu lutava para manter os olhos abertos, tudo foi ficando distante, inclusive a voz da Thayla chamando pelo meu nome.A próxima coisa de que lembro é acordar em um quarto de hospital, sem saber quanto tempo depois, rodeado por aparelhos modernos zumbindo e luzes claras e fortes sob meus olhos, me causando certo incômodo. Minha mente estava confusa, minha visão um pouco turva e eu mal conseguia me mexer. Senti uma dor muito forte no abdômen. A sensação foi extremamente ruim.Minha visão focou gradualmente, e lá estavam elas, lado a lado. Minha irmã, com os olhos vermelhos, nitidamente de tanto chorar, e a minha gata, a Milena, segurando minha mão com força.A preocupação delas transparecia, e meu coração se
1 ANO DEPOIS…ANIVERSÁRIO DE ALESSANDRO:MilenaAqui, na casa do meu tio Carioca e da tia Fernanda, estou me entupindo de docinhos e salgados da festa linda do meu afilhado Alessandro, me sentindo em um estado de pura felicidade. Não há nada mais delicioso do que o típico brigadeiro brasileiro e estar junto de pessoas que amamos.Alê, como carinhosamente chamamos o príncipe da Nélis, cresce forte, saudável e sendo muito amado por todos. O único ponto negativo de morar fora do Brasil é não poder estar perto fisicamente para acompanhar o crescimento dele, mas as fotos, mensagens e chamadas de vídeo com a Antonela são praticamente diárias, para acompanhar o máximo possível de cada etapa da vida dele.Após esses meses morando em outro país, Thierry e eu viemos especialmente para a comemoração do primeiro aninho de Alessandro e ficaremos alguns dias. Mas logo retornaremos. Nossa vida agora é lá.Enquanto Thierry foi conversar com o Gabriel, meu pai e o tio Carioca, dei uma passadinha na me
AntonelaEste ano foi, sem dúvida, um dos mais incríveis da minha vida. Desde o momento em que Alessandro chegou, cada dia ao seu lado foi uma nova descoberta, uma nova lição. Eu me vi aprendendo a cada sorriso, a cada passo, a cada gargalhada dele. Tudo era novo, tudo era um aprendizado. E ainda é.Ao longo desses 12 meses, descobri uma força dentro de mim que eu nem sabia que existia. Aprendi a ser mãe de verdade, com todas as seus desafios e seu contemplamento.Passei a ver o mundo de um jeito diferente, mais colorido e cheio de sentido, através dos olhos do meu filho. Cada olhar curioso, cada movimento, cada palavra balbuciada, me fazia ver o quanto a vida é preciosa.Mas, mesmo com todas as alegrias e maravilhas que ele trouxe para minha vida, a saudade do Cold nunca me deixou. A dor pela perda dele ainda pulsa forte, mas, de alguma forma, a maternidade foi um bálsamo que ajudou a amenizar a dor. A cada dia com Alessandro, um pouco daquela dor parecia se tornar suportável. Tentei
AntonelaNa janela do meu quarto, olhando para fora enquanto a chuva fina pinta seus desenhos nas vidraças. Alessandro brinca alegremente no tapete, alheio ao turbilhão de emoções que toma conta de mim. Ao nosso redor, as malas e pertencesorganizados meticulosamente para nossa viagem.Minha mãe dá uma leve batida na porta que está aberta e entra no quarto, com um olhar preocupado e os olhos marejados. Ela e meu pai já insistiram diversas vezes para que eu não vá, mas eles sabem o quanto essa viagem significa para mim.Eles se preocupam, pois Alessandro ainda é muito pequeno, e eu sei que eles têm certa razão. Mas, desde que voltei para o Brasil e principalmente após o nascimento do meu filho, eu me sinto forte e capaz para tomar as rédeas da minha vida e saber me impor, se preciso for.— Antonela, meu amor, você tem certeza sobre essa viagem? Eu entendo que era o sonho do Alexandre conhecer esses lugares, mas viajar com Alessandro nessa idade... — ela não precisou terminar a frase, po
LecoFoi uma sensação estranha pra carälho ver a Milena outra vez. Passou várias ideias na mente. Não sei ao certo o que senti. Só sei que foi estranho.Mas vi que ela tá feliz. Acho que encontrou o que sempre procurou e eu não sabia ou não queria dar. Entre nós não era pra ser, e pra ela foi melhor assim.Agora, no comando do Cascata, tenho mais responsabilidades e, consequentemente, mais tretas pra resolver. É como se os problemas pudessem sentir a mudança no ar desde que meu pai passou o comando pra mim, porque todo dia aparece picä pra resolver. Agora estou no centro do furacão, no controle de tudo o que acontece nessa comunidade. Mas eu gosto disso. A adrenalina que pulsa em minhas veias desde moleque se alimenta da sensação de poder.Aqui, em cima de um barraco mais alto, com um sol escaldante sob a minha cabeça, observo a favela toda. O cheiro de concreto feito há pouco tempo pra deixar laje melhor, se mistura com a fumaça do meu baseado.Leio a mensagem da Ritinha no meu celul
PRÓLOGOAponto meu fuzil na cara dele, não tem pra onde ele correr, tiro e bomba pra todo lado, está encurralado. Esse momento é a glória pra mim.Meu companheiro também tem a mira apontada pra ele.— Demorou mas chegou tua hora! — falo na cara dele.Sujeito ruim, ele me encara sem demonstrar sentir medo algum da morte.Movimento o dedo pra apertar o gatilho. Meu telefone toca, atendo sem tirar os olhos dele.Do outro lado da linha, aquela voz tão familiar:— Você não pode matar ele!A porta se abre, me viro e ele aponta a arma pra mim, volto a atenção para a ligação novamente.– Ah não? Por quê? — Pergunto rindo, mas a resposta não foi nada engraçada.DIAS ATUAISSEGUE O MOMENTO EM QUE FERNANDA LÊ A MENSAGEM NO CELULAR DE FELIPE DURANTE A COMEMORAÇÃO DO CASAMENTO.FernandaDurante a tarde, precisei subir até o quarto para colocar o meu celular para carregar e na escrivaninha da cabeceira, o celular pessoal do Felipe que estava lá, vibrou algumas vezes. Não sei se por curiosidade ou i
FernandaEle me olha perplexo, não sei se era porque eu já sabia da criança ou porque eu estava gritando. Ele vira de costas bufando e passando as mãos no cabelo. — Fala, Felipe! Com qual vagabund* você transou sem ter o mínimo de descendia de se prevenir? Arriscando me passar alguma doença, você é um escroto mesmo!— Não fala besteira, Fernanda! — Falou se virando para mim.— Ah, besteira? — eu ri ironicamente.— É besteira sim! Você acha o quê? Que eu saio comendo essas vagabund*s por aí sem me cuidar? Tá maluca?Nessa hora eu gargalhei alto.— Ah claro, você usa camisinha mas uma piranha engravidou de você, tá certo. — bati palmas. Eu estava impressionada negativamente comigo mesma, nunca fui uma pessoa que resolve as coisas gritando ou falando palavrões.— Eu te amo, caralh*! Põe isso nessa sua cabeça. A única pessoa com quem eu transo é você. – ele encheu um copo de whisky e tomou puro, sem gelo.— Nem você acredita nessa mentira que está tentando contar. A prova disso é essa cr