Quando cheguei a casa de Mark, um complexo de apartamentos recém-construídos e onde inclusive meu pai havia auxiliado na produção da planta, parei em frente a porta da entrada, retirando meus sapatos e enquanto desafivelava o detalhe da sandália do pé esquerdo, deslisei os dedos pela planta do meu pé, sentindo uma longa e antiga cicatriz, o fitei melhor e notei que era o resultado do machucado que lembrava-me em meu sonho. Meu estomago se revirou ao perceber que aquilo realmente não havia sido um sonho e senti vertigem, percebendo que na verdade, aquele pesadelo terrível era uma lembrança que tentei, inconscientemente, esquecer.
Aquilo estava tão escondido em minha mente que se não fosse a cicatriz deixada pela pedra afiada, eu jamais teria percebido que aquilo realmente havia acontecido.
Contudo, não pude comentar a respeito pois, me deparei com uma cena no m&iacut
E novamente, a ansiedade resultava em uma insônia persistente, que me tomava com força e impedia de ter uma noite descente de sono, meus olhos secaram rapidamente e não demorou muito para os hematomas na perna atingida pelo carro começassem a doer, aparentemente, os medicamentos anti-inflamatórios estavam perdendo seu efeito. Minha mente estava cheia de pensamentos confusos, e um amontoado de perguntas sem resposta mantinham-me acordada. Em parte, a explicação de Karen retirou um pouco do peso em meu peito, não parecia ser algo tão ruim como meus pesadelos faziam parecer, mas imaginar que minha amiga tivesse algum tipo de dívida com uma entidade pagã, ainda me assustava um pouco.Enquanto os primeiros raios da manhã surgiam, o cansaço já me fazia rir dos meus próprios desalentos, a verdade era
Na manhã seguinte, acordei com os primeiros raios de sol adentrando pela janela, iluminando o quarto e afastando os últimos resquícios da noite. Bocejei, me remexendo sobre os lençóis, olhei para trás e notei o semblante adormecido do meu namorado que ainda dormia abraçado à minha cintura. Observando-o tão tranquilo, notei o quanto ficava bonito sonhando, seus cabelos claros estavam bagunçados e os lábios entreaberto, ressonando baixinho. Sorri com o pensamento, me erguendo e caminhei em direção ao banheiro, precisava ao menos escovar os dentes antes que ele acordasse.Tomei um banho, me sentindo diferente do habitual e sorri para o meu próprio reflexo, feliz por todas aquelas marcas deprimentes terem sumido. Parece que depois da noite que tivemos, o poder que aquela entidade tinha sobre mim, sumiu momentaneamente e isso me renovou as esperanças. Naquele mome
Enquanto caminhávamos de volta em fila indiana, passamos por uma pequena trilha por dentro do bosque onde algumas pessoas gostavam de correr com cachorros durante as manhãs de verão, era um ambiente amistoso e quase todos os moradores o frequentavam. Gabriel, ao meu lado, observava as árvores com um interesse estranho, seus olhos claros estreitavam-se como se procurasse por algo que mais ninguém estava vendo, e quando percebeu que estava sendo observado, voltou-se a mim.– Está vendo aquilo? Questionou em um cochicho, ainda esticando o pescoço para visualizar melhor o ambiente a nossa volta. – Parece uma moça acenando, mas não se aproxima, será que está machucada?Ouvi suas palavras ficando ainda mais confusa, desviei meus olhos dele e voltei minha atenção na direção em que ele indicava, mas
– Foi a primeira vez que vi algo em plana luz do dia... – Murmurei apertando as mãos em um gesto nervoso que já estava tornando-se um habito perceptível. – Estive pensando em conversar com alguém que entenda mais sobre isso, uma médium talvez.Gabriel ouvia minhas palavras, balançando a cabeça positivamente, mas mantinha seus olhos fixos na estrada, apertando o volante com certa força. Na verdade, ele estava em silencio desde que conversamos a respeito da falta de segurança daquele local, havia deixado claro a sua desaprovação com a minha ideia de continuar investigando sobre os assassinatos, argumentando o quanto aquele assunto era delicado e muito mais complicado do que eu imaginava.– Diz ser complicado, mas o que você sabe sobre isso que eu não sei? Questionei voltando a tocar no assunto, notei como seus músculos pareceram enrijecer
Não era uma época de grandes chuvas, mas mesmo assim, aquele temporal repentino durou mais três dias, rapidamente as ruas estavam alagadas e tínhamos que retirar a água que empossava no porão, infiltrando pelas paredes de taboas antigas, começando a fazer alguns estragos. Parecia que quanto mais a umidade entrava na casa, mais seus segredos vinham à tona, como se estivessem escondidos sob o papel de parede que descascava, às vezes, durante a limpeza, passava a unha do indicador pela casca amarronzada que cobria a madeira, notando que ainda era a mesma matéria prima de anos atrás quando a casa foi construída, de certa forma, a reforma foi feita apenas superficialmente e a podridão daquele local começava a se mostrar. Através das grandes
Desabafar com a minha mãe tirou um grande peso dos meus ombros, sorri feliz por finalmente termos aquela conversa tão necessária e fui trabalhar cheia de esperanças, sentindo que enfim, as soluções estavam aparecendo na minha vida. Quando cheguei a clínica, empurrei a maçaneta e fiquei surpresa ao perceber que estava trancada, voltei meus olhos ao relógio e notei que passava das 8h da manhã, arqueei uma sobrancelha confusa e fitei o primeiro andar onde ficava o apartamento da doutora Samanta.“– Será que aconteceu alguma coisa?” Me perguntei ficando inquieta e mordi o lábio inferior, temendo que ela tivesse sido machucada pelo assassino em série, balancei a cabeça, afastando aqueles pensamentos ruins e estiquei-me apertando a campainha duas vezes.Em seguida, peguei meu celul
No caminho, meu celular vibrou dezenas de vezes, mostrando que a pessoa que tentava entrar em contato comigo precisava muito fazer isso, remexi em minha bolsa, procurando pelo celular e quando o encontrei, percebi que a última ligação havia caído, e que vinha do número da minha melhor amiga. Uma sensação gélida tomou meu estômago e senti como se minha barriga estivesse cheia de pedras de gelo, algo sério estava acontecendo. Karen sabe que tenho problemas com ansiedade e não me assustaria daquela forma se não achasse necessário.Tentei retornar à ligação três vezes, mas a operadora sempre informava que a linha estava em uso, e a ligação não completava, deixando-me ainda mais agoniada, virei-me no banco do carona, voltando meus olhos a Gabriel e puxei sua camisa com minhas mãos trêmulas.&nda
Não tive coragem de retornar para casa depois de presenciar todo o sofrimento de Karen, seu psicológico parecia mais frágil que seu estado físico e a impressão que eu tinha era a de que ela poderia se quebrar como vidro a qualquer momento. Quando começava a ficar muito tarde, fora do horário de recolher, liguei para a minha família, e avisei que passaria a noite na casa de Mark cuidando da minha amiga gestante em vista de que sua sogra não poderia fazer isso pois, precisaria trabalhar.Houve um pedido de retorno ao hospital devido a necessidade da maior quantidade possível de profissionais para tratar dos pacientes que chegaram minutos antes, vindos de um acidente em um barco clandestino que havia pegado fogo, dezenas de pessoas estavam feridas e como o corpo médico era muito pequeno, ela precisaria fazer hora-extra.Após a ligação, retornei ao quarto e percebi o estranho