A flor do meu desejo: romance, atração, excitação e desejo.
A flor do meu desejo: romance, atração, excitação e desejo.
Por: Anna Rodrigues
Capítulo 1 - Ponte dos ingleses

A visão do mar, sem falar do pôr do sol, na Ponte dos Ingleses, é simplesmente inesquecível. Mariana tinha estado ali, naquele mesmo lugar, várias vezes em sua vida, mas não se cansava de contemplá-los. Encostou-se na mureta, abriu os braços e deixou que as gotas de água tocassem o seu rosto, como num ritual de benção e proteção. Respirou fundo e permitiu que o ar oxigenasse os seus pulmões, diminuindo, assim, a ansiedade. Hoje faz exatamente dois anos que Henrique a abandonou grávida, dessa forma, mais uma vez, prendia-se aos devaneios do passado, do que foi e do que poderia ter sido. Lá, no fundo de seu inconsciente, o desejo reprimido e latente pulsava por liberdade, aspirando viver num mundo de infinitas possibilidades. Há muito que varrera para o lado de fora de seu coração, toda e qualquer possibilidade de amor, assim, relacionamentos nem pensar. Precisava se  proteger, teria que se acostumar com a solidão. Lembrou-se, de repente, de uma frase de sua escritora preferida, Clarice Lispector, “Sim, minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas, nem das grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite.” Abaixou a cabeça ainda pensativa e, nesse instante, uma brisa mais forte, bateu em seu rosto retirando-a de seus devaneios e jogando os seus cabelos de encontro ao rosto do homem que Mariana nem havia percebido que estava ao seu lado. Assustada, virou-se para pedir desculpas e surpreendeu-se com ele,  acariciando um punhado de cachos em suas mãos. 

Surpreendida com a situação, Mariana afasta-se e, na pressa de  puxar os cabelos, atrapalha-se, dando um passo em falso, caindo  nos braços do estranho. Rostos colados, cabelos emaranhados, respiração ofegante, batimentos acelerados, Mariana ansiosa passa a língua nos lábios, molhando-os, atitude que faz os olhos dele acenderem. Em segundos, estava grudada  no  corpo dele e surpresa, viu sua boca descer lentamente até a sua, Mariana fecha os olhos e estremece, primeiro sente uma leve mordida em seu lábio inferior e em seguida, sem nenhuma gentileza sua boca é tomada com um beijo forte molhado e sensual. As mãos macias dele seguravam forte os seus cabelos deixando-a bastante excitada e, quando finalmente suas bocas se separam, Mariana permanece de olhos fechados apoiando-se em seu peito, buscando o ar,  e quando, finalmente, resolve abri-los, pisca indecisa, deparando-se com um par de olhos verdes profundos e famintos. 

— Qual o seu nome, estranha? —  O homem pergunta sussurrando em sua boca.

Atordoada com a situação, Mariana não responde,  empurra-o, dá as costas e sai rapidamente sem dizer uma palavra. Desnorteada, para no meio da rua, tentando lembrar onde havia estacionado o carro. Desce a rua um pouco e o encontra, entra rapidamente, põe o cinto e,  abismada consigo mesma, começa a gritar.

 — Eu sou uma vadia! Eu beijei um completo e total estranho! Gente, onde eu estava com a cabeça?

 Agora, pensa, o pior não foi o beijo, mas, sim, o fato de ter gostado muito. Na realidade adorou! Há muito que não sentia tanto desejo atravessando o seu corpo dessa maneira. Bateu a cabeça contra o volante algumas  vezes e gritou novamente. Era uma vadia! Que horror! Ligou o carro e pegou o caminho de casa e, minutos depois, o celular tocou.

— Mariana, onde você está? Minhas raízes já alcançaram o lençol freático! — perguntou Luíza irritada.

— Indo para casa.

— Como assim indo para casa? Surtou ou o quê? Não era para você estar me esperando aqui na ponte para irmos à boate?

    Mariana freia o carro sem prestar atenção no trânsito e é  bombardeada por várias buzinas indignadas.

— Droga! Desculpa, Luíza! Não sei o que me deu!

— O que será que te dá? Sempre me pergunto isso, mas deixa pra lá. Muito bem, volte pra cá, senão, quando eu chegar em casa, vou fazer churrasquinho de Mariana.

— Tudo bem! Sem violência! Chego daqui a pouco. —falou Mariana.

— Muito bem, vou sair da ponte e  te esperar em frente da boate. Anda logo!

    Vinte minutos depois, Luíza avistou Mariana e acenou. 

— Muito bem, o que foi que aconteceu? Você disse que estaria na ponte me esperando e, de repente, está indo pra casa? Deu de cara com algum monstro marinho? O que aconteceu?

Mariana balançou a cabeça e respondeu.

— Luíza, você é o exagero em pessoa! — Mariana riu. — Não precisa desse drama.

— Exagerada, eu? De jeito nenhum! Eu sou demasiadamente excessiva, somente isso.

— E qual a diferença entre exagerada e excessiva? Exagerada, excessiva, desmedida, para mim, é tudo a mesma coisa, são sinônimos.—  colocou Marina.

— Olha, cheguei à conclusão de que eu realmente sou  muito incompreendida, pois, se você que se diz minha amiga não me entende, então o que será de mim? — Colocou a mão, na testa, fazendo drama. — Vamos parar, me conta o que aconteceu?

— Você vai rir e ainda me chamar de vadia! — reclamou Mariana.

— Minha nossa! A história é quente, vadia! Fala logo, eu estou tendo um infarto!

— A culpa não foi minha, eu estava na ponte, quietinha olhando pro mar…

— Olhando para o mar? — Luíza riu e balançou a cabeça. — Eu não acredito, Mariana!

— Posso continuar?

— Vá em frente, amiga! — Luíza levantou as mãos em tom de defesa.

— Eu cheguei um pouco mais cedo e, enquanto te esperava, vi o pôr do sol, senti a brisa. Sabe como eu sou, basta encostar em algum lugar que eu durmo ou penso na vida.

— Pensar na vida? Deus me livre! Prefiro dormir, é menos cansativo. Que horas você chegou?

— Umas 17h.

— Mariana, você sempre me surpreende! Será que não existe nada mais interessante para você fazer?

— Como, por exemplo?

— Como, por exemplo, paquerar, flertar, fazer sexo, interagir com outras pessoas! Até mesmo usar um vibrador! A lista é grande! Agora, ver o pôr do sol,  poupe-me! Você precisa aprender a viver.

— Luíza, querida, eu não sou tão hedonista quanto você. 

— Eu não sou hedonista!

— Imagine se fosse! E por que a irritação com o comentário sobre o seu hedonismo?

— Querida, uma mulher empoderada e decidida, como eu, não se irrita, ao contrário, ignora comentários insignificantes, como esse, e segue com a vida.  

Mariana desatou a rir.

— E a humildade, nesse contexto, mora onde? 

— Na casinha do cachorro! E tem mais! Eu sou  uma pessoa muito sociável e simpática, não é à toa que sou constantemente cortejada.

— Cortejada? Você tirou essa palavra de que período histórico? Do século XVII ou XVIII? Luíza, você é muito engraçada, qualquer dia desses vai me matar de rir!

    — E você vai me matar de tédio! Fique sabendo que o verbo cortejar ainda é muito utilizado no nosso século.

    — Por  quem? Senhores de 80 ou 90 anos?

    —Tão espirituosa! Deveria largar a psicologia e trabalhar como stand-up.

    — Não, obrigada e, que eu saiba, os homens com os quais você se relaciona, geralmente, não têm a mínima chance de te cortejar. Até parece que você é uma pobre moça, virginal e fragilizada. Está mais para uma ninfomaníaca e, se eles te conhecessem um pouquinho, pegariam rapidamente um expresso para o oriente. Você mais parece a versão feminina do protagonista daquele filme, como é mesmo o nome? — parou um instante para pensar — Ah, ‘A verdade nua e crua!’

Luíza olhava para Mariana fazendo biquinho.

— Mariana, estou impressionada com a sua falta de gentileza! Tudo isso que  você falou é um absurdo!

— Luíza, eu às vezes me pergunto, como uma pessoa pode ser tão dissimulada? Você deveria ser atriz e não designer de moda.  — Mariana riu.

— Eu não sou dissimulada, sou esperta e, sinceramente, não aguento mais essas referências de filmes! Parece uma cinemateca ambulante!

— E você parece a noiva nervosa do filme ‘Noivo neurótico, noiva nervosa’ do Woody Allen.

— Woody, quem?

— Woody Allen. Ele é um cineasta, roteirista, escritor e  ator norte-americano.

— Deus! Quer saber? Desisto! Muito bem, então me diga, você estava lá na ponte,  parada, olhando para o mar, feito uma escultura de mármore há muito tempo esquecida, com certeza fantasiando sobre  um cavaleiro de armadura reluzente galopando por sobre o mar, vindo em sua direção para salvá-la deste mundo  cruel, sem graça, entediante e cansativo. Acertei?

— Errou feio! 

— Então, seria um sereio? Será que existe essa palavra no dicionário? — Luíza parou um instante para pensar em voz alta.

— Acredito que acabou de inventar uma nova palavra.— riu Mariana. — Só esclarecendo, é tritão, Luíza. O masculino de sereia é tritão!

— Isso mesmo, um tritão! Estava na ponta da minha língua.

— Sei… — brincou Mariana.

— Você é muito pretensiosa, sabia?

— Pretensiosa? Posso saber por quê?

— Porque você não é a única pessoa que lê e assiste filmes, sabia? Às vezes, você é muito arrogante com relação a isso.

— Desculpe! Não foi minha intenção ofendê-la!

— Espantoso! Até quando você pede desculpas soa pedante.

— Luíza!

—Tudo bem! Já viajamos demais, termine a primeira história! Por favor, continue  e descreva para mim o seu momento de epifania.

— Não foi um momento de epifania! — rosnou Mariana. — Então, eu estava na ponte, cuidando da vida, refletindo sobre a minha humilde existência, quando de repente, bateu uma brisa que mais pareceu um furacão e jogou os meus cabelos no rosto de um homem que estava ao meu lado....e que, sinceramente, eu nem percebi quando ele se aproximou, quando eu olhei pra ele... Luíza, você não tem noção! Nossa, que homem!— Mariana suspirou e colocou a mão no peito.  

— Mas, nossa que homem, o quê? Fala, mulher! Eu já estou toda arrepiada!

— Luíza, eu ainda estou procurando no dicionário uma palavra que consiga definir tudo aquilo que eu vi, ele é, simplesmente, sabe o Adônis e o Apolo, tudo junto misturado no mesmo pacote?

— Ai, meu Deus! E aí?

— Bem, como eu disse, a brisa estava muito forte e o meu cabelo foi parar no rosto dele. Virei e me deparei com ele  ali segurando os meus cabelos, então olhou pra mim, eu olhei para ele, meu queixo bateu no chão, tentei me afastar, mas desequilibrei e acabei caindo em cima dele.

— Jura! — Luíza falou boquiaberta. — Mariana, você se jogou de propósito, confesse!

— Não! Foi sem querer! Você sabe muito bem que eu não faço esse tipo de coisa.

    Luíza desatou a rir.

— Sem querer! Quem é que sempre me diz igual a um papagaio que não existe sem querer para a psicanálise. Foi de propósito sim! — Luíza desatou a rir.

— Vai parar de atrapalhar e me deixar contar o resto?

— Adiante, soldado! Quero ver no que vai dar.

— Nós ficamos ali por alguns segundos um olhando pra boca do outro e de repente...ele me beijou! Ele simplesmente me beijou!

— Minha nossa senhora da bicicleta azul! Você deixou um estranho te beijar? Que evolução, Mariana? Estou bege, melhor lilás!E aí!!!

— O problema não foi o beijo! — Mariana gritou. 

— E o beijo não foi bom? Ele tinha mau hálito?

— Não! Que mau hálito o quê!

— Então, foi o quê, pelo amor de Deus?

— O problema é que eu gostei! Esse é o problema! Na hora me veio uma vontade louca de estar em outro lugar e de ser jogada na cama e deixar ele fazer o que quisesse comigo! Eu estou envergonhada por sentir isso!

— Mariana, amiga, você é uma mulher muito bonita, inteligente e como todo ser humano tem desejos, nem sempre a gente segue esses padrões falso moralistas tão profundamente arraigados na sociedade, eu sou a prova pura disso. — deu uma gargalhada. — E aí, terminou como?

— Eu não sabia o que fazer, e quando ele perguntou o meu nome, saí correndo, entrei no carro, esqueci que tinha marcado com você e fui pra casa.

— Nossa! O negócio foi sério mesmo. Esse homem deve ser um vulcão! E você não sabe pelo menos  o nome e o telefone?

— Claro que não, Luíza! Eu não parei para perguntar! E nem quero saber, eu não quero me envolver com ninguém.

—  Gente, como é amadora e tola!— brincou Luíza.

—  Sem ofensas, ok? Vamos esquecer tudo isso, talvez nunca mais o veja!

— Sei, às vezes o seu amadorismo me surpreende, mas vamos virar a página, pois a noite é uma criança. Quem sabe encontramos outra combinação de Adônis e Apolo na boate, não é?

— Não quero saber. 

— Não quer saber mesmo? — Luíza olhou-a com dúvida. 

—Não quero saber!— gritou Mariana. — Muito bem, vamos mudar de assunto e entrar, mas, antes, quero umas informações sobre essa boate. Ela não é parecida com a última que  nós fomos, não é?

— Qual o problema com a última? — perguntou Luíza.

— Era uma abominação!

— Abominação? Nossa senhora! Você é muito fresca, além de ser uma pessoa muito ingrata, sabia?

— Primeiro, amadora, depois, fresca, agora sou ingrata? — Mariana cruzou os braços irritada.

—  Ingrata, sim! Escolhi aquela boate a dedo!

— Parece que o seu dedo anda meio podre, não?Acho que você perdeu a magia. — Mariana deu um sorrisinho de canto.

— Você  não tem medo do perigo, não é?

— De jeito nenhum, eu rio na cara do perigo! 

Rei Leão? Tem certeza? — Luíza balançou a cabeça sem rir. — Para a sua informação, a boate que nós fomos era super alternativa, sem falar que a quantidade de homem por metro quadrado era muito boa.

— Não estou negando a qualidade e nem a quantidade dos homens que estavam na boate. Estou me referindo à falta de estrutura. Como é que uma boate não tem banheiro?

— Tinha banheiro, sim!

— Luíza, banheiro químico no meio da rua, há uns 20 metros de distância?

— Mariana, você precisa enxergar as coisas pelo lado positivo, deixe de ser negativista!

— Olha, eu estou anotando todas as suas ofensas! Luíza, estamos gastando energia com uma discussão tola! Eu só fiz uma pergunta simples, vamos logo entrar, senão vou para casa.

— Deixa de ser dramática! No final, não sei porque está tão ansiosa, você sempre sai com um gato. O último era lindo de morrer!

— Não lembro de nada disso! Os delírios agora são seus!

— Eu não tenho delírios, tenho surtos de racionalidade. — Luíza parou e olhou para Mariana que ria. — Muito bem! Vamos logo entrar, mas precisamos repassar as regras de azaração para hoje.

— Regras de azaração? Gente, eu realmente preciso de um dicionário! — Mariana brincou e Luíza fuzilou-a com o olhar.

 — Calma, Luíza,  é brincadeira!

— Posso continuar?

— Por que temos que discutir sobre isso? Pensei que nós já tivéssemos definido isso há séculos, afinal, nós fazemos isso desde a faculdade ou estou enganada?

— Mariana, o tempo passa, o tempo voa e as coisas são reformuladas. Faz muito tempo que não modificamos as regras.

— A Vívian não está aqui. Temos que rever isso juntas!

— Mariana, isso é autoritarismo! Sem falar que a Vívian está praticamente casada, assim, não pode mais dar a sua opinião, ou estou enganada?

— Independente de estar praticamente casada ou não, ela faz parte do grupo. E tem mais, eu não sou autoritária, trabalho em equipe e está mais para uma visão progressista, ou estou enganada?

— Como sempre você está fazendo tempestade em copo d’água!

— Em primeiro lugar, eu não estou fazendo tempestade em copo d’água, você está. Em segundo lugar, por que discutir isso agora, nesse momento, depois de anos? 

—Vou explicar. Eu não queria falar, mas você, infelizmente, não me dá outra alternativa. Quero rever as regras, porque você sempre dá em cima dos homens pelos quais eu me interesso.

— Como é? Que mentira!

— Você nunca presta atenção.

— Prestar atenção no quê? 

— Mariana, todas as vezes que você bebe faz isso!

— Que blasfêmia! Eu não faço isso! E eu raramente fico embriagada!

— Faz sim!

— Não faço!

— Faz sim! Agora, que já sabe disso, pense melhor sobre o seu comportamento e tente não repeti-lo.

— Eu conto nos dedos as vezes em que me interessei por algum cara ao mesmo tempo em que você. — Mariana suspirou. — Gente, que conversa mais improdutiva! Parecemos duas adolescentes brigando por alguém que nem sabemos quem é! Só falta você puxar os meus cabelos! 

— Estou prestes a fazer isso!

— Luíza, quer saber, vou passar a noite surda, cega e muda.

— Não estou pedindo para você entrar em um convento e muito menos que faça voto de silêncio e castidade.

— Não se preocupe! Então, nós terminamos?

— Não sei, vai depender do andar da carruagem.

— Luíza, saímos hoje para nos divertir, não é?

— Esse é o plano.

— Então, vamos entrar ou não? 

— Tudo bem, vamos senão a noite acaba e não nos divertimos.

—  Vossa Graça! — Mariana faz reverência para Luíza passar.

Ao entrarem na boate, tiveram que passar no meio de uma multidão que dançava animada. Vivian  avistou-as de longe e levantou a mão chamando-as, indicando que tinha conseguido uma mesa.

— Vocês demoraram! — gritou Vívian, outra amiga e o ponto de equilíbrio entre as três, uma morena linda, gentil e ponderada.

— A culpa é da Luíza! Passamos mais de trinta minutos numa discussão ridícula! — reclama Mariana.

—A culpa é minha? Quem foi embora porque surtou com um beijo e depois teve que voltar? — expõe Luíza.

    Os olhos de Vívian brilham.

—  Que história de beijo é essa? Quem você beijou, Mariana?

— A Mariana tropeçou num cara que, de acordo com ela, é uma mistura de Adônis e Apolo, tudo junto e misturado na mesma receita. Eles se beijaram, daí ela surtou e saiu correndo pra casa.

— O quê! — gritou Vívian. — Gente, me conta os detalhes!

— Vívian, eu não quero mais falar sobre isso! — exclamou Mariana.

—  Como não quer falar? Eu não estou sabendo de nada! — reclamou Vívian.

— Foi uma coisa meio louca. Eu estava na ponte, daí surgiu um cara do nada, nós nos beijamos e saí correndo.

— Nossa! Qual o nome dele? Você pegou o telefone?

Luíza deu uma gargalhada.

— Foi a mesma coisa que eu perguntei.

— Vocês são terríveis! Não, eu não peguei e, não, eu não estou interessada! — exclamou Mariana.

— Mariana, mas se é um deus, é uma ofensa o que você está fazendo. Não se ignora um deus! Haverá represálias, pois os deuses do Olimpo são impiedosos. — Vívian fala rindo.

— Você está tão cheia de graça hoje, o que foi que aconteceu? Ganhou na loteria? Transou com o Marcelo até cansar e ficar sem poder andar? — brinca Mariana.

— Faço isso o tempo todo, querida, mas fora isso não aconteceu nada. Estou feliz como em todos os dias da minha vida. — Vívian pisca achando graça.

— Sei! Vamos mudar de assunto? Pode ser? -— pede Mariana.

— Tudo bem, Mariana, se não quer falar  sobre o deus grego, assunto encerrado. Agora, qual foi o outro motivo da discussão de vocês duas?

— A Luíza quer mudar as tais regras de “azaração”, que criamos em mil novecentos e bolinhas. Pode? — falou Mariana.

— Mariana! — grita Luíza. 

— O que foi? Por que o grito?— pergunta Mariana.

— Porque você, Mariana, não para com essa  mania horrorosa de ficar dando pistas sobre as nossas idades.

— Como assim, Luíza? Eu só falei mil novecentos e bolinhas, você é muito dramática! Estamos somente nós três aqui, não vejo nenhuma plateia.

— E mil novecentos e bolinhas significa o quê?

— É só uma maneira de dizer que algo foi feito há muito tempo. — esclarece Mariana.

— Não, querida! Isso quer dizer que nós  nascemos na época pré-cambriana.

— Minha nossa! Você nasceu na época pré-cambriana, eu nasci um dia desses. Fale por você.

— Você não percebe que faz isso, ao invés de se referir a si mesma, coloca todo mundo na mesma sacola. Estou me sentindo uma múmia.

— Pois, múmia, eu desisto! — exclamou Mariana. —  Hoje você realmente está impossível de interagir. Acho melhor ficar calada mesmo. Vou começar o meu voto de silêncio!

— Meninas! Vamos parar com essa confusão? Estamos perdendo tempo! — intrometeu-se Vívian. — Vocês duas discutem demais e na maioria das vezes por besteira. Vamos dançar e paquerar!

— Paquerar! Que história é essa, Vívian? 

Marcelo, o namorado de Vívian, chegou tão sorrateiramente que nenhuma das três o viu.

— Nada, meu amor! Só estou dando uma força para as meninas. — piscou para Luíza e Mariana.

Marcelo agarrou-a pela cintura e deu-lhe um beijo, quando a soltou, foi questionado sobre o seu atraso.

— Onde você estava? Estou te esperando faz mais de duas horas!

— Engarrafamento, amor! Você já ia me trocar por outro homem, devido a um atraso bobo?

— A fila anda, querido! Trate de me bajular muito, precisa compensar o tempo em que fiquei de castigo te esperando. — virou-se para Luíza e Mariana. — Agora, vou dançar, quem vai comigo?

— Nós! — Luíza e Mariana gritaram ao mesmo tempo.

                                        

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