Meus olhos se fixaram na mulher a frente da minha Aninha, cabelos pretos, olhos quase esverdeados, brilhantes e penetrantes. Uma beleza surreal, foi difícil tirar os olhos dela e me concentrar na raiva que sentia, depois das palavras de Annelise.
Seus olhos poderiam transmitir o que estava sentindo, naquele momento era medo e aflição. Aninha me tirou do transe, quando me chamou empolgada. — Pai — corre em minha direção — Que bom que você chegou — segura em minha mão e me puxa para perto daquela mulher — Papai, essa é minha nova babá, é a minha preferida, o nome dela é Sofia. Ela é perfeita papai, brinca e cuida muito bem de mim . Eu gosto muito dela . Ela prometeu que vai cuidar de mim com muito amor — Aninha falava com tanta empolgação que fazia a raiva ferver dentro de mim Encarei de perto aqueles olhos vibrantes, que me encaravam de volta, tentando ler o que eles expressavam. Naquele momento eu só pensava nas palavras da minha filha, ecoavam em minha cabeça, como pode uma mulher dessa querer fuder a mente de uma criança! Em segundos sou tomado pela fúria. Peço para Annelise ir para o quarto com a Aline. Esbravejo , grito , jogo toda raiva para fora. Me sinto apunhalado pela minha própria mãe. A moça tenta se explicar, mas não deixo e a expulso da casa de minha mãe. Sem tempo de nenhuma das duas reagirem, também não deixei minha mãe se explicar, com raiva que eu estava poderia ter reações irreversíveis. Apos toda essa situação eu precisava extravasar. Confirmei com Edu que iria sair com ele. Brinquei um pouco com minha filha, coloquei ela pra dormir ali mesmo na casa de minha mãe. Em seguida informei meus pais que iria sair, e Annelise já estava dormindo. Fui para minha casa, me arrumei rápido, esperei o Edu, que chegou logo. Eu realmente extravasei, bebi muito e fiz coisas inimagináveis com aquelas garotas, aumentando ainda mais minha fama de cafajeste. Ao voltar pra casa, deitar a cabeça em meu travesseiro, senti tudo rodar, não auge da embriaguês, sentir aqueles olhos vibrantes me queimando, eu acho que estou alucinando, não usei drogas, não entendi o porque disso. Fechei os olhos e vi aquela mulher bem a minha frente, abri em seguida e vi que minha mente traiçoeira quer me confundir. Não sei em que momento adormeci, acordei com a pior das ressacas, a moral. Me culpei por tanta coisa, tive ações que jamais teria; me culpei até pela reação talvez um pouco exagerada com a moça, a Sofia. Praguejei o dia inteiro. … Algumas semanas se passaram desde o episódio com a babá. Foi a pior ideia da minha mãe fazer isso, desde então , não tive mais paz . São choros intensos e uma mudança repentina, muito brusca no humor de Annelise. Ora rebeldia, ora tristeza profunda, estava vendo minha filha se afundar , uma criança, pela falta ou apego por aquela irresponsável babá. Por muitas vezes me sentia culpado, principalmente ao ouvir minha filha chamar por Sofia em meio aos prantos, soluçando. Minha mãe sempre chorava junto com ela, fazendo a culpa me maltratar ainda mais. Annelise iniciou um acompanhamento psicológico para tentar amenizar os estragos, mas nada tinha sucesso. E então vi minha filha perder a alegria, a vontade de sair, até das coisas que gostava de fazer. Minha filha estava adoecendo com frequência, sua pediatra dizia que sua imunidade estava baixa, mas nada em seus exames acusava estar errado. — Por que isso está acontecendo ? — me perguntei de cabeça baixa — Você sabe exatamente meu filho — minha mãe sentou ao meu lado tentando me consolar— A conexão daquelas duas foi sem explicação, deixa a Sofia oferecer aquilo que a Aninha não pode ter. Faça isso pela sua filha, pelo amor que tem por ela. As palavras de minha mãe foram como um soco na cara, sentir a lágrimas descendo em meu rosto. E então tomei a decisão de fazer isso por minha filha, a decisão mais difícil da minha vida. Sofia voltará . Farei o que for possível pra isso acontecer.