Orion Black
A mulher que pensei que estava sendo feliz com ele e que por isso acabei abrindo mão dela para viver sua vida. Uma vida que pensei que era feliz.
— Eu… espera, Orion.
Eu neguei bruscamente e afastei meu braço do seu toque, já com a mão fechada em punhos, dei um soco em seu peito jogando-o longe, afastando-o completamente de mim.
Um rosnado saiu do fundo da minha garganta, tentando controlar totalmente a minha vontade de enfiar meus punhos na cara do meu irmão caçula.
— Como você tem coragem de enganar ela, Kenedy? Que porra de homem você é?
Me aproximei do meu irmão sem controlar meus passos e o empurrei mais uma vez até que ele bateu de costas no muro. Nesse momento ele arregalou seus olhos de modo que deixasse evidente seu medo e sabendo que eu não iria me controlar muito mais, sai enfurecido daquela casa, voltando a direção que havia deixado meu carro, e a passos largos consegui ver de relance uma garota correndo em direção a rua apressadamente, estava usando uniforme, que era um vestido curto, mostrava uma boa parte de suas coxas, cabelos presos, e botas da mesma cor que seu vestido, que subiam até os joelhos, dando um ar de vulgaridade, mas naquele momento, minha mente focou apenas no que havia acontecido e no que ela havia visto e por Deus, aquilo foi demais, eu sei.
Porra, Kennedy.
A rua estava vazia e silenciosa quando ouvi alguns soluços próximos e engolindo em seco, tentei respirar fundo para manter a calma, pois essa seria nossa primeira conversa a sós em anos e eu não posso errar.
Merda, não posso ser um fura olho também.
Se controle, Orion. Se controle.
A alguns metros adiante, vejo Lilian sentada em um banco de praça, com seus braços cruzados, de modo que deixasse claro que estava sentindo frio ou até mesmo insegurança e desconforto e tentando ao menos confortá-la momentaneamente, tirei meu paletó e o posicionei em seus ombros assim que me aproximei.
— Oi.
Eu murmurei um pouco receoso.
Tentando controlar o misto de sensações que estou sentindo ao olhá-la tão de perto depois de anos longe. Seu cheiro é melhor do que imaginei nos últimos anos, e apesar de estar em um momento inapropriado, me vejo fascinado por sua beleza natural.
— Orion, me desculpe por tirá-lo da festa. Eu nem deveria…
Ela mordeu o lábio tentando controlar a sua voz e então lágrimas desceram por suas bochechas e automaticamente as capturei com os dedos enquanto ocupava o lugar ao seu lado no banco e respondi me sentindo mal por ela. Por dentro, sentia a sua dor.
— Eu havia acabado de chegar quando os encontrei…
E então paralisei e puxei o ar para meus pulmões.
Porra.
Ela logo começou a tremer violentamente, e cobriu o rosto quando começou a chorar. Eu imagino o quanto seja doloroso descobrir uma traição.
Por fora eu estava tentando parecer calmo para não descontrolar ainda mais a garota que estava fragilmente encolhida no banco quando na verdade a minha vontade era socar a cara do Kennedy por fazê-la sofrer desse jeito.
Meu desejo é consolar Lilian e pegá-la para mim, para mostrar como ela merece ser cuidada e amada, mas puxando o ar, cruzei meus dedos e pensei por alguns segundos, deixando Lilian chorar um pouco pois assim irá aliviar os sentimentos de dor, mas não demorou muito e me levantei do banco chamando sua atenção, querendo tirá-la daquela agonia, pois também estou sentindo a dor por ela.
— Vamos, Lilian. Já chega de chorar.
Nesse momento, vi que ela direcionou sua atenção para mim e fungou, enquanto tirou meu paletó que envolvia seus braços trêmulos, murmurou num tom de voz choroso e irritado.
Me pegando totalmente de surpresa.
— Deve ser muito fácil para vocês, donos do mundo.
Lilian saiu andando enquanto fiquei estático pelas suas palavras e praguejando apressei meus passos até alcançá-la e puxá-la para trás, pois eu queria ajuda-la de alguma forma e ficar na noite fria chorando em um banco de rua não iria resolver nada, mas por um gesto mal calculado, coloquei força demais em meu toque e a trouxe para mim.
Batendo diretamente em meu peito, vejo que Lilian é uns 10 cm mais baixa, ficando abaixo do meu queixo, então precisei baixar o rosto para olhá-la no rosto, mas quando seu cheiro adentrou minhas narinas, senti o mundo inteiro parar. Senti meu corpo reagir fortemente a sua presença.
Seus olhos estavam brilhantes, me encarando surpresos, seus lábios volumosos estavam entreabertos,e seu peito subia e descia rapidamente. Diante dos meus olhos estava uma mistura convidativa e tentadora demais para todo meu autocontrole suportar.
A nossa aproximação estava me envolvendo e instigando a ultrapassar aquele limite que havia entre nós. Havia uma eletricidade envolvendo meus dedos em seu corpo de um jeito que nunca senti com nenhuma outra mulher e sabendo que eu iria fazer merda antes da hora, pisquei e voltei a pensar quando soltei seu braço e recuei um passo atrás e murmurei recuperando totalmente minha sanidade, caso contrário iria beijá-la aqui e agora.
— Desculpe. Eu…
Ela abaixou a cabeça e franziu a testa parecendo confusa e ficou em silêncio por alguns segundos, e querendo quebrar aquela tensão, eu disse.
— Vou levá-la para casa.
Ela me lançou um olhar desconfiado e perguntou já recuperada daquela tensão de segundos atrás.
— O que você está tramando, Orion? Você nunca se dirigiu a mim, e agora está me oferecendo uma carona mesmo sem nunca ter conversado comigo antes.
Acredito que nesse momento várias expressões dominaram meu rosto, e frustrado, engoli em seco e respondi tentando parecer o mais verdadeiro possível.
— Só estou tentando ser cavalheiro, cunhada.
Mentira, estou tentando manter o controle para me aproximar de você e depois tomá-la para mim.
Tambem estou lutando bravamente para não ser o maldito fura olho que minha consciencia insiste que eu seja.
Inferno.
— Você tem certeza?
Dessa vez ela perguntou num tom mais amistoso, e enfiando as mãos nos bolsos da minha calça, confirmei com um gesto e garanti.
— Só preciso que você me indique a direção certa.
Ela confirmou com um gesto e começou a andar em minha direção e de imediato, minha respiração ficou presa na garganta, naquele instante pareceu que ela estava vindo para mim, para meus braços, mas então a magia acabou quando Lilian me lançou um olhar preocupado e perguntou.
— Você está bem? Consegue dirigir?Eu apenas concordei com um gesto e retomei o controle dos meus sentidos e indiquei a direção do meu carro para que Lílian me acompanhasse, e foi o que ela fez.
Enquanto eu caminhava, lembrei que ela havia saído do trabalho a pouco tempo, então logo perguntei, interessado demais.
— Está com fome?
Ela franziu a testa e apenas confirmou com um gesto de cabeça e eu respondi.
— Podemos comprar algo pronto ou posso preparar algo para você. O que prefere?
Pela sua reação, vi que ficou chocada. Seus olhos se arregalaram e ela fez menção de falar, mas nada saiu e então chamei sua atenção.
— Lilian?
Voltando a si, ela respondeu um pouco sem graça, de modo que deixasse claro que estava escolhendo as palavras.
— Eu… Nunca tive ninguém cozinhando para mim…
Ela pausou nervosamente, com uma fina ruga de desconfiança e perguntou.
— Você sabe cozinhar?
Sem conseguir segurar, eu comecei a rir da sua expressão e Lilian logo relaxou a minha frente e eu respondi.
— Minha mãe me ensinou tudo o que sei, ao menos fome nunca passei.
Ela sorriu com minha resposta e dessa vez, falou alheia a qualquer interesse que eu estava tentando camuflar.
— Depois da invenção do delivery, ninguém mais passa fome, Orion.
Eu dei uma risada alta, me sentindo um pouco mais tranquilo ao lado dela e olhando-a, vejo que ela parece mais relaxada também.