O lago agora estava silencioso. As figuras encapuzadas cercavam Aurora como sombras vivas, imóveis como estátuas de pedra. O frio aumentou, mas não era um frio natural. Era um arrepio que vinha de dentro, como se o ar ao redor tivesse sido arrancado do tempo.
Aurora apertou o casaco contra o corpo, protegendo mais do que sua pele. Protegendo o segredo que pulsava sob suas costelas — seu filho. Ou filha. Ou o que quer que fosse essa nova vida que ela mal conseguia entender. Mas já amava.
Um dos encapuzados deu um passo à frente. A voz soou rouca, mas carregada de autoridade.
— A Lua enfim trouxe você. A filha perdida. A marca viva da linhagem esquecida.
Aurora não respondeu. Sentia o gosto do medo na boca, mas manteve o queixo erguido. Eles a chamavam de filha, princesa, como se já soubessem quem ela era. Mas ela mesma ainda não sabia. E não confiaria cegamente em ninguém.
— Não sei quem vocês são — disse, firme. — Nem por que me chamam assim.
O homem — se é que era um homem sob aquele