Na manhã seguinte o vento do sul passa pela cidade, os fios se bagunçam ao vento e Júlia está organizando as malas de seus filhos, para levá-los a casa de sua mãe, Lucas e Priscila estão comendo na mesa, mas Priscila está comendo demais, ela se aproxima para corrigir.
- Minha querida não coma tanto, se lembra?
- Ah mãe, hoje eu acordei com tanta fome, só mais um pouco.
- Tá bem, mas vai logo, temos que ir rápido.
Júlia ao se virar se depara com Ricardo.
- Malas? Aonde vão?
Julia olha para as crianças e volta a ele dizendo.
- Olha não se preocupe, elas irão apenas ficar fora por alguns dias.
Ricardo não fica nada contente e sua expressão é de medo.
- Lá não será seguro, devemos ficar aqui, comigo eles estarão bem e salvos.
Ela avança em frente a ele protegendo os filhos
- Eu já disse que eles irão
- Sua burra, todos devem ficar aqui!!
Com a discussão Lucas estava suando e Priscila comia mais, ela coloca as mãos na boca e começa vomitar na mesa, todos se assustam na hora e Julia deixa Ricardo e tenta ajudar sua filha.
- Minha filha o que está acontecendo?
Ela fica assustada com sua filha, mas a raiva de continuar ali é ainda maior, ela chama seus filhos para o carro e puxa as duas malas, enquanto isso Ricardo continua dizendo.
- Não vá, é perigoso, ele sabe que nós separados será mais simples.
Os olhos arregalados de Ricardo observam da porta da casa as crianças entrando no carro, Priscila comendo um sanduiche e ainda está com suas roupas sujas de vômito, Lucas dentro do carro, enquanto fecha a porta está ainda mais suado do que antes e Julia coloca uma mala no carro e diz para as crianças entrarem logo e volta para falar com Ricardo.
- Olha você é meu marido, mas você está completamente insano, não sei oque está havendo contigo, mas irei tentar te ajudar, eu juro que volto.
- Então por que está levando elas?
- Elas não precisam viver esse inferno, deixe elas fora disso!
A porta traseira do carro se abre com violência, e Lucas se joga do carro ao chão, gritando, suspirando enquanto retira e joga a blusa no chão, de sua boca escorre à baba e continua repetindo aos berros.
-Muito apertado, Muito apertado, Muito apertado, Muito apertado.
Ricardo está se coçando e agachado ele observa cada centímetro da rua e caminha com cuidado para pegar seu filho e o leva para dentro, Júlia vai até o carro, sua filha está vomitando no banco do carro e chorando.
- Deus do céu, minha filha entre em casa, vá se limpar depois nós vamos, seu irmão não está bem e nem você pelo jeito.
Júlia fala tudo isso com lágrimas e horror de tudo aquilo, ela pega na mão de sua filha e leva com cuidado para dentro, enquanto isso Lucas está arrastando os móveis da sala os distanciando o máximo de si, ao entrar Júlia tenta fechar a porta, mas seu filho a impede.
- Não mãe!! deixe, deixe assim.
Estática e confusa, ela calmamente arreganha a porta, Lucas parece agora mais contente e ele senta no chão, sua filha esta comendo com tristeza, com as mãos na barriga pela dor que sente, e Ricardo está tranquilo enquanto faz café, Julia diz a filha.
- Priscila, vá tomar banho. E pare de comer.
Ela não pestaneja e sobe devagar com as mãos na barriga, pela dor que sentia, Julia vai até seu marido.
- Como pode fazer cafe, sabendo o que você fez ontem? E não vê o que esta acontecendo agora? – Ele se virou gritando.
- Eu estava salvando a vida deles!!
Julia se surpreende com isso, mas revida. – Eu quero te ajudar, mas você está sendo perigoso para todos.
- Não importa, eu irei continuar observando e nos protegendo, deles.
Ao dizer isso sem mudar a expressão de raiva, ele vai até a porta e fecha, Lucas começa a hiperventilar, Julia então vai até seu filho, mas ao se aproximar ele dá um pulo para trás e a olha com expressão de medo e vergonha e Ricardo sobe as escadas batendo nas paredes, gritando.
- Esta maldita família.
Júlia vê seu filho amedrontado por ela se aproximar e ela o diz.
- Filho não tenha medo eu só quero te abraçar e mostrar que está seguro comigo.
O menino com as mãos estendidas implorando.
- Mãe, não me segure por favor!
Ele assustado, como se ele tivesse ficado em cárcere por dias, medo de locais fechados, apertados, mas sua mãe tenta consolá-lo
- Lucas, sou eu, sua mãe, me conte o que está sentindo.
Sem a poder olhar nos olhos, Lucas com medo, tenta explicar.
- Tudo parece tão perto e me sinto preso as vezes, no carro tudo piorou tanto, e se eu precisasse sair? tudo estava trancado e não gostei disso, não quero de novo.
Lucas ao terminar de falar estava suando, ao final vê os olhos de sua mãe marejaram e as lágrimas escorrendo, ele abraça sua mãe.
- A mamãe vai cuidar de tudo!
Ele acena com a cabeça e fica quieto, Priscila já havia terminado o banho e estava sentada no sofá com um pacote de bolachas na mão, Julia se senta ao lado.
- Priscila, minha filha precisa me dizer o que aconteceu com você, você come, mas não tanto e nem lembro de ver você vomitar!
Ela parece assustada, mas se sente confortável em falar com sua mãe.
- Mãe desde que eu acordei hoje, sinto fome e então ando comendo e comendo, mas depois não consigo explicar no que me dá, é um enjoo muito forte e uma dor de cabeça.
E ao final da frase se debulha em lágrimas, sua mãe a abraça também.
- Filha vou precisar que se controle sobre isso, pode fazer isso pra mamãe?
- Eu acho que sim, mas é tão difícil.
Julia ao se levantar agarra o pacote de bolachas e liga a televisão para ela, volta a falar com seu filho, ele parecia mais calmo agora.
- Meu filho eu preciso que vá para seu quarto, tá bem.
- Mãe o papai ficou doido ou ele não gosta mais da gente?
- Não é isso meu filho, ele apenas não está bem, tenho certeza que em alguns dias ele estará bem melhor, agora suba para seu quarto e pode deixar a porta aberta sem problema ok.
Júlia vendo seu filho tremendo subindo as escadas com as mãos trêmulas no corrimão, e agora sua filha parecia bem. Julia sobe as escadas e do corredor os únicos cômodos acesos são o quarto de Lucas e o seu que é projetada uma sombra para a parede do corredor, ver aquela sombra paralisada como de um monstro a arrepia e continua a caminhar para dentro e está Ricardo de pé, suado mais do que antes, ainda ao lado da janela e olhando com muita cautela lá para fora, ao breu da noite e dizendo baixo, mas ela podia ouvir.
- Onde está, eu vi você, eu não vou perder. Ah não, eu quero, eu preciso de mais para achar você.
E isso a faz estremecer mais, pois a assustava ainda mais, então ela pega a chave da porta e silenciosamente o tranca ali dentro, segurando o soluço do choro por fazer isso e ele ouve os impulsos e ela então o tranca antes que ele atravessasse o quarto.
- Júlia o que é isso, está querendo deixar ele vir.
- Me desculpe.
Com a voz mais alta ele volta a dizer de frente a porta.
- Não!! você está louca.
Júlia no corredor apertando em suas mãos a chave do quarto e as lágrimas caem aos poucos a molhar suas mãos e ela o responde esganiçada e sem forças na voz.
- Eu vou conseguir ajuda para você, você deve ficar ai, eu prometo que você ficará bem.
E Ricardo furioso continua chutando a porta e a vergonha por fazer aquilo a faz correr cambaleando aos prantos no corredor escuro, tenta se acalmar por ver seu filho saindo do quarto dele, fica mais assustado em ver sua mãe daquela forma e Júlia engole o choro, pois precisaria ser forte e guarda a chave no bolso e entra no quarto de seu filho com ele.
- Não precisa se preocupar a mamãe está bem, eu até vou dormir aqui com você.
E ela se senta na cama, mas ele reluta em se aproximar, o medo nos olhos dele foi fácil de Júlia entender, que não poderia se deitar na mesma cama que ele, o quarto estava todo mudado os móveis estavam todos afastados e ela diz.
- Filho pode dormir aqui na sua caminha eu durmo aqui ao lado no tapete, ta bem.
Lucas calado, parece ter aceitado mais a ideia, e sem se aproximar dela parece ter ficado mais contente com isso, enquanto Júlia arrumava algumas cobertas de cima do tapete, sua filha aparece entrando no quarto e ela estava chorando e dizia.
- Mãe eu sinto mais fome o que eu faço?
Júlia abre os braços e diz a ela para deitar junto, sua filha corre e se joga aos braços de sua mãe, as lágrimas pareciam diminuir aos cuidados maternos, e assim dormiram a durante a noite, o ar gelado as faziam se agarrarem mais nas cobertas, as batidas na porta que Ricardo dava com sua mãos e pés, agora já haviam cessado por seu cansaço.