Noah manteve-se acordado por alguns minutos depois que Lia adormeceu. Certamente ainda se sentia cansado, mas planejar os próximos passos com antecedência sempre fora um hábito seu — algo que, ironicamente, não aplicara quando conheceu Lia. Eventualmente, ele também cedeu ao sono. Ambos precisavam descansar. Lia, principalmente, ainda não havia se recuperado das noites em claro e das lágrimas derramadas. Dormir era a melhor escolha agora.
A madrugada ainda cobria o céu quando Lia despertou sobressaltada, sem lembrar de imediato onde estava. Seu coração acelerou antes que ela reconhecesse o ambiente ao redor. Respirou fundo, tentando se acalmar. Ao se mexer, sentiu o calor do corpo de Noah sob o seu. A textura da camisa contra seu rosto, o som suave da respiração dele… Sua cabeça girava em confusão, mas ela permaneceu quieta, tentando manter a calma. Então deitou-se novamente, com cuidado. Não adiantou. — Por que eu sempre faço isApós o beijo, os dois puderam terminar de admirar o alvorecer do sol. Seria um momento lindo, não fosse por um detalhe: ambos estavam com muita fome. Seus estômagos roncaram quase simultaneamente, um dueto desajeitado que ecoou no silêncio do quarto, arrancando uma risada dos dois diante da coincidência sonora. — Eu realmente não queria rir, mas precisamos comer – disse Noah com um sorriso sutil no rosto. — Calma, eu vou lá fazer. Você se deite e fique na cama dessa vez. — Ok, ok. Só espero que seja algo comestível. — Você está me insultando agora, sabia? – retrucou Lia, saindo do quarto com um olhar fingidamente ofendido. Depois de alguns minutos, Noah deitou-se na cama, sentindo a suavidade dos lençóis contra a pele, mas a agitação interna o impedia de relaxar. O som distante de panelas e a luz suave do alvorecer entrando pela janela eram os únicos estímulos que preenchiam o silêncio, mas não queria ir
Noah estava curioso. Lia, diferente de antes, agora queria conversar muito. Ele nunca tinha visto essa característica nela, o que o deixava surpreso a cada nova fala. — Eu treinava sozinha quase todos os dias. Dividia meu tempo com os estudos, mas no fundo só pensava nisso. — Você tinha quantos anos mesmo? – Noah perguntou, a curiosidade transparecendo no tom. — Ah, foi recente. Eu tinha 16. Agora tenho 18. Fiquei surpresa… não imagino como teria sido se tivesse acontecido tão cedo quanto com você. — No meu caso, foi realmente na hora certa. No momento em que eu ansiava por poder... ou provavelmente eu não estaria aqui. Lia se aconchegou mais perto de Noah enquanto o escutava, sentindo a presença dele como um calor sutil que a envolvia. — Eu sei… Bem, continuando… Enquanto eu treinava, aprendi algumas coisas que você também deve ter aprendido. Mas, com você foi bem cedo, por isso eu disse que provavelmente já deve saber. — É possível, mas diz mesmo assim. Noah puxo
Noah hesitou em perguntar por que Lia o encarava daquela forma, mas sabia que não deveria ser tão ruim, afinal, estavam conversando tranquilamente há poucos minutos. — Tem algo que quer me dizer, não é? Lia desviou o olhar, estava nervosa e inquieta, mas mesmo como vergonha, ela de repente se levantou e sentou-se no abdômen de Noah, inflando as bochechas. — A dizer? Claro que não. Só que eu demorei um mês, um desgraçado mês inteiro, para conseguir focar em qualquer parte do corpo. E você faz isso assim? Fácil? Lia cruzou os braços com uma expressão séria. — Sempre treinei, é diferente. Ei, olha pra mim. Lia olhou-o, um sorriso suave nos lábios. — Idiota. Você é tão habilidoso que chega a me deixar irritada... Não é justo. Eu quero aprender, Noah. Me mostra como. — Você percebeu como a energia encolheu? Tente desfocar do restante do corpo. Visualize ela se c
Noah até tentou se distrair, mas suspirava a todo momento. Após uma hora divagando, o tédio o consumia — e ele ainda não fazia ideia do que fazer com o resto do dia. Lia havia dito para ele descansar, e apesar de realmente estar cansado, ele já tinha o hábito de continuar treinando mesmo exausto. Felizmente, estando sozinho, retomou o hábito de pensar em voz alta. — Que tédio... o que ela esperava que eu fizesse? ficasse deitado o dia todo? Noah se levantou e foi até a janela. — Eu deveria estar treinando, mas... Aaaah, não quero que ela brigue comigo depois. O que eu faço? O que faço? Pensa, Noah… pensa. Seja esperto... O que eu... Noah olhou para sua mão e se lembrou do controle que havia acabado de aprender. — É isso... posso treinar sem sair de casa, sem nem suar. Noah fechou os olhos e se concentrou. Repetiu o processo anterior, desta vez tentava ser o mais rápido possível. Reduziu a quantidade de energia que utilizava a cada sucesso, pois estava se desgastando sem nec
Noah ajudou Lia a carregar as coisas para dentro. Ele havia feito o jantar e apenas a esperava. Lia estava ainda se recuperando do que Noah fez, mas fingiu que estava tudo bem. Mudou rapidamente de expressão quando sentiu o cheiro assim que entrou pela porta.— Eu realmente estava com fome. Só comi algo rápido em casa durante esse tempo todo.— Bom, pelo menos comeu. As coisas foram guardadas. Vamos comer. Lia semicerrou os olhos e ficou séria.— Você apenas jogou elas em algum canto, não foi?— Detalhes. Isso são apenas detalhes. Vamos logo. – disse Noah com um sorriso. Os dois se sentaram à mesa, um de frente para o outro. A comida parecia ótima. O cheiro se espalhava por toda a casa e o gosto salgado do tempero marcava a língua. Enquanto jantavam, conversaram brevemente sobre o dia dela.— Eu fui na casa da Sophia, conversei com ela e ela concordou em fazer uns exames. Só preciso coletar seu sangue.— Meu sangue? E você acha isso seguro?— Com a Sophia? Sim.— Tudo bem ent
A luz da manhã entrava suavemente pela janela, e o ar ainda trazia o frescor do amanhecer. Noah dormia profundamente quando sentiu algo pressionar seu abdômen. Acordou incomodado e, ao abrir os olhos, não havia dúvida: Lia estava sentada sobre ele.— Finalmente acordou. Se eu esperasse mais, você dormia até o almoço. Não é comum te ver levantar tão tarde. De fato, Noah não tinha esse hábito. Mas naquela manhã, o relaxamento o fez dormir profundamente.— Me dá mais cinco minutos, Lia...— De jeito nenhum. Inclusive, eu fiz o café da manhã. Noah abriu os olhos com um leve espanto. Aquilo o desconcertava. Lia não costumava fazer esse tipo de coisa. Algo nela parecia diferente, mas ele não conseguia entender exatamente o quê.— Sério? Foi você quem fez?— Por que eu mentiria, Noah?— E por que você faria o café? Lia não respondeu, e Noah apenas ficou em silêncio.— Vamos logo, seu irritante. Ela tentava conter o sorriso, mas ele escapava pelo canto da boca.— Tá bom, já est
Ao acordar e perceber que Lia ainda não havia voltado, Noah decidiu preparar o almoço para passar o tempo. Enquanto isso, Lia corria sem olhar para trás, o som de folhas secas sob os pés abafava os pensamentos. Não era apenas exercício. Precisava daquela adrenalina. Ele a ouviu chegar em seguida, mas algo estava fora do normal, ofegante, com o cabelo despenteado e tinha até um pouco de terra nas pernas.— Che... guei... Arrrh, ufa!— Percebi. Mas que cabelo é esse?— Ah... bagunçou um pouco... com o vento, sabe?— Calma, respira devagar. Por que veio correndo?— Só queria me aquecer. Estou ficando... sei lá, sedentária? Eu quase não me exercitei esses dias. Noah apenas sorriu e voltou a cozinhar, evitando comentar sobre a terra em suas pernas. — É isso mesmo? Você não vai me defender? Ele soltou uma risada abafada, sarcástica.— Rurun’rhuuu... Mas de quê? Você está certa, por que eu teria que defender você de si mesma? Tome um banho, vai ficar pronto em alguns minutos.
Noah sentiu a tensão crescer entre eles e, confuso, percebeu a fúria contida em Lia. Mesmo assim, revidou o soco com toda a energia que conseguiu reunir, forçando-a a se defender com os antebraços.— Por que tem que ser tão orgulhosa? – gritou Noah.O impacto a fez recuar. Com os olhos semicerrados, deixou os braços latejarem antes de retomar a guarda — não deixaria que a acertasse novamente.Ela avançou com agilidade — mais veloz, mais ágil na esquiva — e aproveitou as brechas na defesa dele, acertando uma sequência rápida de golpes, principalmente nos tríceps de Noah.Em poucos segundos, Noah sentiu o peso do esforço extremo: seus golpes ficaram lentos, fracos e previsíveis. A dor do desgaste e dos impactos começou a pesar.Lia manteve a calma. Treinava o controle de energia constantemente, economizando ao máximo, concentrando a defesa nos antebraços — e, ainda assim, não precisou se esforçar tanto.Quando Noah desistiu de continuar, o corpo não resistia mais; ele apoiou um joelho n