Capítulo 4
Quando acordei, estava sozinha no catre, ao lado da divisória da ala.

As pessoas se moviam ao meu redor. Ninguém percebeu que eu havia despertado.

O antigo projetor exibia o evento celestial da noite anterior.

Uma rara chuva de meteoros.

Uma bênção das estrelas.

Eu a perdi. De novo.

Alguns desejos simplesmente nunca foram destinados a mim.

Passos.

Então uma voz rouca, mas carregada de esperança.

— Você acordou. Selena estabilizou. Foi por sua causa.

Assenti.

— Que bom.

Ele piscou, depois se sobressaltou.

Eu devia parecer um fantasma.

— Você não devia ter se esforçado tanto — Murmurou.

— E eu... eu fui cruel. Você não merecia isso.

— Está tudo bem. — Respondi baixinho.

Porque estava.

Porque já não importava mais.

Ele hesitou.

— Uma vez, você disse que queria ver os Picos do Sul. Os lagos de vidro lunar. Eu... eu reservei as passagens. Depois que se recuperar, nós podemos ir.

Balancei a cabeça.

— Você não precisa, Killian.

Isso não foi para consertar nada.

Eu te devia essa.

Ele não entendeu.

Como poderia?

Virou-se para servir água, a mão trêmula.

A velha cicatriz queimada pela prata reluziu pálida contra a pele.

— Você se arrepende de ter me salvado? — Perguntei.

Ele não se virou.

— Não. Mesmo que fosse outra pessoa, eu faria de novo.

— Mesmo quando já estivesse ferido... se um membro da alcateia estivesse morrendo diante de você, ainda assim o salvaria, do mesmo jeito que me salvou. Não é?

Ele ficou tenso.

— Sim.

Era quem ele era.

Sempre foi.

Não porque eu fosse sua companheira.

Não porque tivesse sido escolhida acima dos outros.

Mesmo com o corpo dilacerado, com o sangue manchando o pelo e a pele, ele ainda se colocaria em perigo por um companheiro a beira da morte, do mesmo jeito que fizera por mim.

Pela alcateia. Pela nossa espécie. Por qualquer um que o chamasse.

Eu nunca fui a exceção.

E essa verdade doeu mais do que qualquer lâmina de prata.

Meu coração latejou. Inchou. Se partiu.

— Você sempre foi bom, Killian. Eu... eu me agarrei a você com força demais. Por tempo demais.

Lágrimas deslizaram silenciosas pelo meu rosto.

— Você deve ter odiado isso.

Ele se virou, surpreso.

— Clara...

Uma batida na porta.

— Alfa Thorne? — Uma curandeira chamou. — Selena está consciente.

O corpo dele inteiro se sobressaltou.

Os olhos brilharam mais do que eu via havia anos.

— Preciso vê-la.

Ele se virou para sair. Eu o chamei, suavemente.

— Killian.

Ele parou.

— Obrigada — sussurrei. — Por tudo. E... adeus.

Sua testa se franziu.

— Não fale assim. Eu volto já. Tenho algo para te dizer.

Então ele se foi.

Me Levantei.

Desenrolei as ataduras dos pulsos.

Minha loba, já em frangalhos, sussurrou seu último sopro dentro de mim.

A luz do vínculo estava se apagando.

Oito minutos restavam.

Foi tudo o que a Lua me concedeu.

Caminhei descalça para a luz da manhã.

Cada passo, mais lento. Mais pesado.

Cada respiração, uma despedida.

Nunca mais voltarei ao mundo dele.

Adeus, meu outrora amado companheiro.

Quando Killian retornou com um caldo de ervas em uma mão e algo indecifrável no olhar, o leito da enfermaria estava vazio.

— Clara?

Silêncio.

Um batimento depois, uma curandeira entrou às pressas, pálida e trêmula.

— Alfa! Depressa. É a Clara. Ela desabou perto do portão oeste.

— O espírito dela... a loba... já havia começado a se desligar. Tentamos ancorá-la.

— Mas ela escolheu. Ela desistiu.

— Ela se foi.
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