Lara não percebeu a intenção nas palavras do Caio e disse:— Ganhar dinheiro não é fácil para nossa filha, por que viajar agora? Quando foi que você começou a curtir tanto a vida assim?— Eu... — Caio estava prestes a explicar, mas Isabela deixou os talheres de lado e olhou sério para Lara.— Mãe, eu quero gastar meu dinheiro com vocês. Se vocês estiverem felizes, eu fico feliz também. Esse é o motivo de eu trabalhar, sabe? Se ganhar dinheiro e não gastar, só deixar no banco, qual seria o sentido de ganhar? Se o papai quer ir, você vai com ele. Vocês trabalharam a vida inteira, é hora de aproveitar. Não se preocupe com o dinheiro, agora eu também estou ganhando bem. — Ela pegou um cartão de crédito da bolsa. — Aqui tem cem mil.— Tanto assim? — Lara arregalou os olhos.— Agora eu sou uma advogada de verdade, recebo comissão pelo meu trabalho. Fique tranquila, eu consigo me manter, aproveitem e gastem à vontade. Curtam a vida, não se segurem. — Isabela respondeu.Lara, com o cartão na m
Ela assentiu com a cabeça.— Não vou embora.— Vou arrumar o seu quarto. — Lara sorriu de orelha a orelha.Ela já estava mais animada, até cada célula do seu corpo parecia saltitar, mostrando o quanto estava de bom humor.Caio olhou para a silhueta da esposa, seus olhos cheios de amor e carinho.— Olha como ela está feliz.Isabela percebeu o que estava nos olhos do pai.Ela ficou tocada com o amor que ele sentia pela mãe.Naquela época, muitos homens não aceitavam bem não ter um filho.Mas o pai dela nunca foi de valorizar mais os filhos do que as filhas.Ele realmente amava a mãe dela, não tinha dúvida daquilo.— Minha carreira está em ascensão. Daqui a dois anos, quando meu trabalho estiver mais estabilizado, vou pegar menos casos e passar mais tempo com vocês.— Certo. — Caio disse.Isabela passou a noite assistindo televisão com os pais, conversando com eles. Às vezes, Lara fazia algumas piadas sobre os parentes e Isabela apenas ouvia.Era como se, por causa da presença da filha em
Aquele elogio de forma tão direta deixou Isabela um pouco sem graça. Ela sorriu, meio envergonhada, e respondeu com humildade:— Foi só sorte mesmo.— Sorte nada. Todo mundo no meio sabe da sua competência e do quanto você se dedica. — Ele deu um tapinha no ombro de Isabela. — Continue assim. Qualquer coisa que precisar, é só me procurar.— Muito obrigada. — Isabela sentiu um enorme aperto de gratidão no peito.— Ver onde você chegou me deixa muito feliz... — Dario então olhou para a sua filha. — Ah, se a Viviane fosse como você, eu já estaria mais tranquilo.— Pai, fala sério... Não me coloca no meio. — Viviane se encolheu num canto, com medo de ser comparada de novo com os outros pela família.Ela sabia que até era meio inútil, não tinha seguido os passos da família.Mas também não precisava ser diminuída o tempo inteiro.Já estava até calejada de tanto escutar as mesmas coisas.Mesmo que não tivesse seguido o caminho do Direito, estava se dando muito bem no mercado financeiro. Por q
Naquele dia, quando Isabela Lopes foi levada ao tribunal pelo próprio marido, Sandro Marques, uma nevasca intensa tomava conta da cidade.Ela ainda se lembrava de como acreditava em seu amor. Durante sete anos, desde que se apaixonaram até o casamento, sempre teve certeza de que ele amava ela e que viviam um casamento feliz.Tudo mudou, porém, quando ele entregou ela às autoridades, sem hesitar, por causa de uma palavra dita por Milena.O juiz começou a leitura do caso de Isabela, acusada de porte de substâncias proibidas.— No dia 23 deste mês, durante uma blitz na Rua Oeste, agentes encontraram substâncias ilícitas no veículo conduzido pela Sra. Isabela. — Declarou o juiz. — Esta audiência é para examinar os detalhes da acusação. Solicito que o autor leia suas alegações.Sandro se levantou, o corpo alto e imponente vestido com um terno preto impecável, que só aumentava seu ar sério e afiado. Seus olhos, que um dia transbordavam de amor por sua esposa, agora mostravam apenas desaponta
Isabela se virou para olhar Sandro. Era curioso como palavras tão decisivas agora pareciam deslizar com facilidade.Sandro, com uma expressão gélida, retrucou sem titubear:— Não vou me divorciar de você. Você sabe disso muito bem.— Você é advogado, deveria entender o que está em jogo. Se eu for condenada, vou parar na cadeia...— Com as provas contra você, Isabela, não posso fazer nada além de seguir o que a lei manda...— Não, Sandro. Não é sobre provas. É sobre você acreditar na Milena e não em mim.Isabela sentia cada palavra pesando no ar. Era mais do que simplesmente uma questão de confiança: ele estava disposto a vê-la presa para defender Milena.Ele baixou os olhos e, evitando a intensidade do olhar dela, depois caminhou para as escadas, sem oferecer qualquer explicação:— Vamos para casa.Isabela ajustou o casaco grosso ao corpo e seguiu até o carro. Aquele dia estava frio e o vento cortava o rosto dela como pequenas lâminas geladas. Ela entrou no carro e o silêncio entre ele
Na cozinha, não havia sinal dela, nada do costumeiro movimento enquanto ela preparava o jantar. No quarto, o vazio reinava. A casa parecia outra sem a presença dela. Ele pegou o celular, já impaciente para ligar e perguntar onde ela estava, mas foi surpreendido ao ver a tela cheia de notificações de gastos no cartão. Como estava incomodado com as ligações constantes, havia deixado o celular no silencioso, sem imaginar que as notificações de consumo o tomariam de surpresa.A tela do celular estava cheia de registros de gastos, e ele não pôde deixar de franzir a testa.Ele tentou ligar para Isabela, mas ninguém atendeu. Sentiu um vazio incômodo crescendo dentro dele e puxou a gola da camisa para aliviar o desconforto, como se o ar tivesse ficado mais pesado. Em vez de se perder na angústia, foi ao escritório, buscando se distrair com trabalho, uma tentativa de colocar a cabeça no lugar. No entanto, o que ele encontrou sobre a mesa paralisou ele: o acordo de divórcio. Ao lado, a aliança q
— Sou eu, sim. — Disse Isabela, com um leve aceno de cabeça.— Este é um envio urgente para a senhora. — Respondeu o entregador, estendendo-lhe uma prancheta. — Pode assinar aqui, por favor?Isabela pegou a prancheta, assinou rapidamente e a devolveu ao rapaz. Em troca, ele lhe passou um envelope grosso, de papel pardo, que ela recebeu com uma expressão enigmática. Assim que fechou a porta, respirou fundo e rasgou o lacre com um pouco de pressa. Ao abrir, seus olhos pousaram sobre o documento que não imaginava receber tão cedo: o acordo de divórcio assinado por Sandro.Seus olhos brilharam com uma expressão de leve surpresa e satisfação ao ver a assinatura dele ali, estampada de maneira firme. Colocou o envelope ao lado e abriu o notebook na mesa. Ao observar tudo aquilo, ela constatou que o acordo de divisão de bens havia sido aceito. Isso significava que Sandro não tinha objeções em relação aos termos que ela havia estabelecido.Com a decisão dele em mãos, Isabela começou a organizar
André também já tinha chegado na idade de aposentadoria, mas ele andava ganhando bastante visibilidade graças ao destaque que Sandro conquistou na área.— Eu fui injusta com o professor Davi... — Disse Isabela, desviando o olhar para a janela, a voz baixa e cheia de remorso.Ela pensou em como o professor Davi sempre estimou a ela e investiu nela. Ele preparou ela com todo o cuidado, talvez até mais do que a própria neta, Viviane. E, no final das contas, como foi que ela retribuiu? Deixou ele terminar a carreira de forma humilhante e injusta. E tudo por causa do seu "amor cego". Esse erro foi o que acabou manchando a honra do professor Davi.Lágrimas começaram a surgir, silenciosas e inevitáveis, preenchendo seus olhos.— Ah, Isa, não fique assim! — Disse Viviane ao perceber as lágrimas da amiga, claramente preocupada. — Meu avô e o professor André se enfrentaram a vida toda! Os dois nasceram para serem rivais. Já faz tanto tempo, não se cobre assim, tá?Para aliviar a tensão, Viviane