Alguns dias depois...

Encarava o espelho como quem encara um inimigo.

O reflexo devolvia o rosto de um homem à beira do abismo. Hematomas ainda esverdeavam a pele sob os olhos fundos. Um corte mal cicatrizado riscava a sobrancelha. O maxilar firme, preso num aperto de raiva silenciosa.

Mas nada disso chamava mais atenção do que o olhar.

Escuro. Cortante. Letal.

Estava parado, a camisa aberta, revelando o curativo improvisado na costela, mas não havia dor física ali.

A única dor que importava era a ausência dela.

O espaço que Donatella Vescari deixou.

A porta atrás dele se abriu com um rangido contido, hesitante.

— Você deveria estar em repouso. Em segurança. — disse Júlio, o parceiro leal. A única pessoa que ainda ousava cruzar aquela linha.

Não respondeu.

Apenas manteve os olhos fixos no espelho. Procurava algo. Uma razão. Um plano. Ou talvez um último traço de sanidade antes de se jogar no fogo.

— Héctor... — a voz de Júlio desceu um