Capítulo 2

Brianna

Me lembro como se fosse hoje o dia em que eu ainda era feliz. Verdadeiramente feliz.

Estávamos em casa, só nós três, curtindo o fim de semana em família. Meu marido e meu filho pareciam dois meninos planejando a tarde perfeita: futebol, pipoca, refrigerante... Um “programa de garotos”, como meu pequeno príncipe Richard gostava de dizer, todo orgulhoso da atenção do pai.

E mesmo vendo aquele sorriso lindo no rostinho do meu filho, uma pontada de angústia se instalou no meu peito. Um incômodo silencioso, quase inexplicável...

Acho que era só saudade antecipada. A ideia de passar um dia longe do meu Richard me deixava com o coração apertado.

— Amor, você precisa parar com essa superproteção toda. — disse meu marido, rindo enquanto arrumava algumas coisas na sala. — Nosso filho precisa se divertir um pouco, crescer, viver as aventuras dele. Ele vai estar comigo e com os amiguinhos. Vai ficar tudo bem.

— Eu sei... — suspirei, tentando parecer convencida. — Mas ele é o meu bebê, só tem nove anos! Sou uma mãe coruja, o que você quer que eu faça?

Ele não deixou que eu continuasse. Em poucos passos se aproximou, tomou a toalha da minha mão e me puxou com firmeza.

— Vem aqui. Já deu de organização por hoje. Agora, quero minha mulher comigo... — murmurou com aquele tom que só ele sabia usar.

— Você viaja só segunda-feira! Eu ainda preciso terminar a mala do Richard... E a sua também, que aliás, deveria ser responsabilidade sua, seu folgado! — retruquei entre risos.

Ele sorriu, me jogou na cama com carinho e selou meus lábios com um beijo urgente, cheio de desejo.

— Chega. Preciso da minha bela mulher… agora.

Naquela noite, fizemos amor como se o tempo fosse nosso inimigo. Como se soubéssemos, no fundo, que os dias felizes não durariam para sempre.

Eu o amava com todo o meu coração. E amava nosso filho com a mesma intensidade.

Eles eram a minha vida. Minha razão. Sem os dois, eu não saberia continuar.

Na manhã seguinte, os dois saíram cedo. Meu pequeno com a mochila nas costas, animado com o dia de futebol, e meu marido com aquele jeito leve, me deixando um beijo na testa antes de sair.

— Te amo — sussurrou ele. E eu respondi no automático: — Também te amo. Se cuidem.

Fiquei sozinha naquela casa grande e silenciosa. Mas não por muito tempo. Meu irmão chegaria mais tarde.

Ele é delegado e trabalha demais. Quase nunca temos tempo de nos ver, mas naquela semana ele conseguiu uma folga e viria passar algumas horas comigo. Fiquei feliz. Ele sempre foi meu porto seguro.

Somos só nós dois desde crianças.

Nossos pais morreram de forma trágica, numa explosão que até hoje ecoa na minha memória. Fomos criados pela nossa tia Jane, uma mulher admirável, doce e guerreira. Ela nunca teve filhos, mas nos amou como se fôssemos dela.

Graças aos meus pais, nossa situação financeira sempre foi estável. Eles deixaram tudo para nós dois e nossa tia nunca tocou em um centavo, mesmo sendo nossa tutora. Jane era dona de uma fábrica de chocolates, uma empresária respeitada. Poderia ter usado o nosso dinheiro, mas não... Ela dizia que aquilo era para o nosso futuro, e que o papel dela era nos dar amor, não aproveitar da nossa herança.

Ela era assim. Rara.

Com o tempo, ela colocou tudo em nossos nomes, mesmo sabendo que nem eu nem meu irmão seguiríamos os passos dela no mundo dos negócios. Eu sonhava em ser advogada, ele sempre quis ser policial. Ela respeitou cada escolha, mesmo com o coração apertado.

Consegui entrar na faculdade, estudei com afinco, mas não terminei. Engravidei de Richard, e minha vida mudou por completo. Escolhi meu filho. Escolhi minha família.

O sonho de ser advogada ficou para depois. Eu pensava que ainda haveria tempo para tudo.

Minha tia, mesmo idosa, nunca me julgou. Pelo contrário, acolheu minha decisão e colocou um administrador de confiança à frente da empresa, alguém que trabalhou ao lado dela durante anos e conhecia cada detalhe da fábrica.

Era uma fase boa. Eu estava segura. Feliz.

Mal sabia eu que aquele fim de semana seria o último com minha família intacta…

Amanheceu o dia e estava tudo pronto para os meus dois amores partirem. Ainda bem que a minha querida Claire, minha secretária que me ajuda aqui em casa, passaria o dia comigo.

O café da manhã já estava na mesa. Richard desceu do quarto muito animado, mesmo com o tempo de chuva que se formava lá fora. Por mim, eles não iriam mais — até porque eu não gosto que meu marido dirija com chuva. Com o pretexto de ter um dia de pai e filho, ele havia dispensado o motorista no dia anterior.

— Bom dia, mamãe! Hoje estou muito feliz, vou ao campo assistir a um jogo ao vivo com o papai pela primeira vez. Nem acredito que você, até que enfim, me deixou ir!

— Muito engraçado esse meu filho! Eu não deixava você ir porque você era muito pequeno!

— Mamãe, você não me deixava ir porque não queria ficar sem seu filho por perto. Eu sei muito bem disso.

— Esse meu filho é muito esperto, viu?

— Esperto eu sempre fui! Não é, papai!?

— Esse meu garotão já está se tornando um homem, e a mãe ainda o chama de bebê! — os dois estavam zoando da minha cara.

— Vocês dois querem parar de me zoar e tomar logo esse café! — tomamos nosso café da manhã todos rindo e conversando como sempre fazíamos. Parecíamos até aquela família de comercial de margarina...

Amo demais minha família!

Terminamos o café da manhã e eles já estavam se preparando para sair quando, de repente, senti uma angústia horrível dentro do meu peito...

Na hora, pensei que não fosse nada demais, só neura da minha cabeça...

Só que eu deveria ter escutado meu sexto sentido...

Eu deveria tê-los impedido de sair...

Ah, se eu soubesse o que aconteceria a seguir...

Meu amor desceu com as mochilas e meu pequeno raio de sol não parava de pular.

— Mamãe, estou pronto para ir! Você bem que poderia ir junto com a gente. Iria ser muito divertido, nós três juntos na torcida!

— Você quer mesmo que eu vá junto com os seus amigos e fique te chamando de bebê? E outra, não é um passeio de meninos? — falei, dando risada. Ele detestava quando eu o chamava de bebê.

— Mamãe, eu não sou bebê! Vou fazer dez anos já! Não sei por que você faz isso... acho que é para me matar de vergonha. Papai, sabia que meus amigos acham a mamãe gostosa? Eles vivem falando isso e eu brigo com eles para que respeitem a mamãe, mas eles dizem que eu tenho muita sorte por ter a mãe mais bonita do mundo! — dei risada da cara do meu filho.

— Ah, meu querido, não se preocupe com o que esses garotos falam de mim.

— Eu não ligo não, mamãe. Agora vamos logo, papai, antes que a gente perca o jogo.

— Antes de sair, me dê aqui um super abraço! — abracei meu lindo, e ele correu para o carro.

— Daqui a pouco estaremos de volta, meu amor. Te amo!

— Também te amo! — eles partiram. E foi a última vez que os vi...

Juro que, se soubesse o que iria acontecer, eu os teria abraçado mais, beijado mais, ou até mesmo ido com eles...

Ah, se arrependimento matasse!

A partir do momento que eles saíram, me lembro de tudo o que aconteceu em câmera lenta. Claire estava tirando a mesa e fui ajudá-la, mesmo ela reclamando e afirmando que isso era seu trabalho. Mas fazer o quê? Eu gosto de ajudar nas coisas de casa. Desde que larguei a faculdade para me casar e cuidar do meu príncipe que estava para nascer, não faço outra coisa a não ser ficar em casa.

Depois de tentar ajudar Claire, fui para o meu quarto ler e esperar pelo meu irmão. Estava distraída, lendo e tentando ignorar o aperto no coração que aumentava...

Foi então que meu mundo caiu, quando meu irmão entrou no meu quarto com uma cara horrível e olhos vermelhos — e me deu a pior notícia que uma mãe e esposa poderia receber...

Meu filho e meu marido morreram em um trágico acidente de carro...

Ali, eu perdi meu chão e o ar que respiro. Naquele momento, tudo escureceu, e acabei desmaiando.

Os momentos que se seguiram... eu apenas senti dor. Um enorme vazio.

Minha vida acabou no instante que meus tesouros morreram. Eu me enterrei junto com eles e nunca mais fui a mesma. Passei a ser vazia, entrei em uma depressão profunda... inclusive, tentei me matar algumas vezes...

Mas como morrer, se já estava morta por dentro?

Me entreguei às bebidas, virei alcoólatra, e aí foi um passo para descobrir as drogas. Vivia na escuridão, apreciando o vazio e pedindo para que a morte me levasse para junto dos meus amores.

Se eu não saía de casa, como a droga vinha até mim?

Acredito que essa é a pergunta que se fazem.

E, meus amigos, a resposta é simples...

A droga vinha até mim. Eu nem precisava sair de casa para comprar. Era só ligar para uma mulher que fornecia, e ela trazia até mim...

A minha tristeza nunca terá fim. E eu não consigo morrer!

Só pode ser uma praga. Ou sou tão ruim que nem a morte me quer.

Não quero mais essa vida. E olha que já facilitei — e muito — a minha partida. Já tive overdose de remédios e drogas, sofri acidente de carro, entre outras coisas... e mesmo assim, eu ainda continuo neste mundo sem meus amores.

Em uma dessas tentativas mal sucedidas, fui socorrida. Antes de ter alta, meu irmão me internou em um centro de reabilitação. Mas não adiantou nada, porque assim que saí, a primeira coisa que fiz foi ligar para a minha fornecedora.

Mas, para minha surpresa, na hora de pagar...

Cadê meu dinheiro?

Meu irmão confiscou tudo. E agora preciso pedir para ele o que preciso. Mas eu garanto: isso não vai me impedir de tentar ir ao encontro dos meus amores, porque somente quando estiver com eles... voltarei a ser feliz.

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