Capítulo 01 — Uma Proposta Inesperada — Parte 03

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Já era de madrugada e Hendrick não conseguia dormir, mesmo havendo sido acordado bem cedo por causa da reunião no Almirantado. Quando saiu, seus filhos ainda estavam dormindo e apenas desceram às nove horas para o desjejum. Foi complicado Hendrick explicar para Lady Tempera Mallory e para Marquês Dane de Rowell, que precisava sair em missão inesperadamente, que seria preciso deixá-los sozinhos em Londres para a Temporada com a Viúva Duquesa Rachel de Darchester, a mãe tagarela de Hendrick e tia da bonita Lady Ebonnie Nelson. Era verdade que prometeu estar presente na primeira Temporada de ambos em Londres, mas terminaram entendendo.

O próprio Hendrick sentia bastante o fato de não acompanhar seus filhos num momento tão interessante de suas vidas, mas tinha ordens a cumprir. Agora, estava sentado na poltrona de sua biblioteca, alisando um dos gatos de sua filha Tempera e analisando a situação, enquanto segurava um copo de brandy na mão e deixava seu olhar vaguear pela lareira acesa. Apesar de ser o começo da primavera, havia noites em que o clima esfriava e precisavam acender as lareiras, obrigando Hendrick a procurar algo mais que calor naquelas brasas.

Como sentia falta de Caroline... Em momentos como aqueles, era o refúgio que Hendrick buscava sempre e ainda que saísse em missão, sabia que a encontraria no mesmo lugar de antes, esperando ansiosa pelo seu retorno. Agora, Caroline estava morta e Hendrick sentindo o coração apertado. Não queria falhar naquela missão, não podia falhar. Precisava impedir que Napoleão triunfasse no seu plano insano de tentar invadir a Inglaterra pela segunda vez, para que seus filhos tivessem segurança. Apenas em ambos Hendrick se concentrava, mas, de repente, seu pensamento recaiu sobre Ebonnie...

Ebonnie sempre deixou-lhe claro o quanto gostava de sua pessoa e aos vinte anos, apenas não se casou devido continuar tendo a esperança de Hendrick vê-la com outros olhos algum dia. Isso, por mais que Hendrick nunca tenha dado-lhe falsas esperanças, gostava de Ebonnie também, mas como sua prima querida, um sentimento que rezava para que mudasse em amor. Entretanto, será que num momento de solidão como aqueles, não seria melhor reconsiderar a situação?

Hendrick se lembrou quando perdeu Caroline. Era de tarde, o médico que atendia a família Mallory, o Doutor Andrew Windham, tentou fazer de tudo para salvar a doce Caroline, mas um tumor no cérebro, tomou conta de tudo e nada puderam fazer para restaurar sua saúde. Mas Hendrick não culpava Andrew da morte de Caroline, foi uma fatalidade.

Andrew pediu para Hendrick entrar no quarto, que Caroline queria conversar. Quando chegou lá, Caroline estava recostada nos travesseiros e parecia muito fraca. O rosto continuava delicado, como de uma orquídea. Hendrick começou a chorar, ao se aproximar e segurar suas mãos.

— Hendrick, por favor, não chore! — A voz de Caroline era apenas um sussurro. — Sei que vou morrer e quero dizer-lhe, que não se feche para o amor, caso venha a se apaixonar de novo.

— Não, Caroline, eu não quero mais ninguém nessa vida, senão você, meu amor! — Hendrick implorou, muito emocionado. — Você é tudo o que quis no mundo!

— Meu amor, te amo demais e onde quer que eu esteja, cuidarei de você de algum modo... — Caroline comentou, sorrindo um pouco. — Agora, partirei, mas quero que saiba, que você é o homem que mais amei nessa vida e ninguém nunca teve meu coração, senão você, que Deus abençoe-lhe e cuide de nossos amados filhos...

Depois disso, Caroline fechou seus olhos e as mãos, que Hendrick segurava, perderam as forças. Caroline morreu de modo muito sereno.

Agora, Hendrick se recordava disso e as lágrimas tomaram conta de seu rosto. Caroline ainda continuava sendo seu grande amor. Mas depois, se recompôs, tinha planos para concretizar.

Nos próximos dias, sairia de Portsmouth comandando aquela missão e Hendrick rezava para que tudo corresse bem. Cada detalhe deveria ser exato. O tempo corria e determinados pontos já estavam programados, mas havia uma preocupação. Seus superiores disseram-lhe, que da mesma maneira que os agentes Ingleses pareciam estar trabalhando bem em descobrir alguns segredos importantes como aqueles, a preocupação era que os espiões de Napoleão sabiam agir também.

O Ministério temia que alguém estivesse infiltrado no próprio Gabinete e terminasse descobrindo todo o plano da missão de Hendrick antes do tempo, colocando algum risco nisso. Era um fato que preocupava-os muito. Napoleão havia ganhado diversas batalhas com a ajuda desses espiões, portanto, não deviam desprezar a astúcia do inimigo. Muito menos em se tratando de Napoleão realmente. Tanto que pouco antes de sair da reunião, ainda que sabendo que Hendrick nunca comentaria com ninguém o que conversaram, Spencer lembrou-o pela segunda vez que tudo o que foi conversado ali, deveria ser mantido no mais absoluto segredo.

E assim, enquanto Hendrick torcia para que nenhum maldito espião de Napoleão atrapalhasse sua missão vital, esperava que seu sexto sentido revelasse-lhe qual a estratégia que os Rousseaus usariam para enfrentá-lo diretamente também. Mais que nunca, precisava dessa visão e implorava para Deus que aquela resposta viesse depressa, antes que fosse tarde demais...

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