Nina sabia que, para ir ao território neutro da organização sem fronteiras, ela precisaria levar consigo o resultado de sua pesquisa independente. No entanto, todos os dados e amostras estavam no laboratório, e o acesso àquele local exigia as digitais e as senhas dela e de Enzo. Somente juntos poderiam abrir a porta.
Pouco tempo depois, Isaac finalmente chegou. O rosto do menino estava inchado de tanto chorar, e ele acabou adormecendo, exausto.
Nina beijou a testa do filho e perguntou:
— Isaac, você quer ir embora comigo?
O menino piscou os olhos, suas longas pestanas tremendo enquanto olhava para a mãe. Ele começou a chorar novamente.
— Mamãe, eu quase fui jogado no mar.
Aos cinco anos, Isaac já entendia tudo o que acontecia ao seu redor. Ele sabia que havia sido levado pelo Edgar, o assistente pessoal de Enzo, e isso fez os olhos de Nina se encherem de lágrimas.
— Isaac, vamos embora. A partir de agora, você não terá mais um papai. Você está disposto a isso?
Isaac envolveu o pescoço de Nina com seus bracinhos e assentiu com firmeza:
— Mamãe, onde você estiver, eu também estarei.
Com Isaac ao seu lado, Nina foi até o Grupo Reis Novo. Suas digitais e senha lhe permitiram acessar os andares superiores e chegar ao centro de pesquisa. No entanto, ela não conseguiu abrir a última porta.
Através do vidro, Nina observou o interior do laboratório. Lá estavam os computadores e as amostras de diversos experimentos, incluindo os dados de um projeto que ela havia desenvolvido sozinha. Era a única coisa que ela precisava levar.
— Mamãe, o que vamos fazer? Sem o papai, você não consegue abrir essa porta.
Enquanto Isaac falava, a mente de Nina foi inundada por lembranças. Ela se recordou do dia em que o laboratório foi construído e Enzo registrou as digitais e senhas de ambos.
Naquela ocasião, Enzo a abraçou e sussurrou em seu ouvido:
— Nina, não me diga sua parte da senha, e eu também não vou dizer a minha. Esse lugar guarda os maiores tesouros do grupo. Só nós dois juntos poderemos abrir esta porta e acessar tudo isso. Assim, sempre teremos algo que nos une. Nunca nos separaremos.
Na época, essas palavras soaram como uma prova de amor. Mas agora, Nina percebia que, quando o amor acabava, aquilo se tornava a melhor forma de criar barreiras entre eles.
"Enzo, você pensou que este dia chegaria?"
Murmurou ela, com uma mistura de dor e amargura.
No final, Nina não conseguiu abrir a porta do laboratório.
Ela então levou Isaac até o apartamento no segundo andar. Durante anos, ela, Isaac e Enzo viveram ali, no prédio da empresa. Foi somente após a chegada de Estella que decidiram comprar uma casa e tentar viver como uma família "normal".
Cada item naquele apartamento tinha sido escolhido por Nina e Isaac, em uma época em que Estella ainda não fazia parte de suas vidas.
Nina começou a organizar todas as suas coisas. Ela separou os presentes que Enzo havia comprado para ela, os que ela havia comprado para ele e até mesmo os objetos de casal que ela havia adquirido em segredo, cheia de esperança. Enquanto isso, Isaac também organizava seus próprios pertences.
— Este papai comprou, então não vou levar. Este foi a mamãe quem comprou, vou levar. Esta é nossa foto de família... Não quero mais.
O pequeno separava seus itens com rapidez e precisão, enchendo três sacolas.
Nina, contendo suas lágrimas, observava o filho categorizar os objetos sem hesitar.
"Enzo, você faz ideia de como Isaac é inteligente? Ele não fala nada, mas entendeu perfeitamente que você o abandonou."
Isaac correu até Nina e a abraçou com força. Ele usou suas pequenas mãos para enxugar as lágrimas da mãe e disse, com a voz firme:
— Mamãe, você sempre quis ir para aquele laboratório, não é? Você disse que o oceano cobre três quartos do nosso planeta e que precisamos protegê-lo. Você sempre quis ser uma guerreira do oceano. Você é a melhor de todas. Eu te apoio. Eu vou com você.
Nina olhou para uma pintura pendurada na parede. Era um quadro a óleo que Enzo havia pintado quando Isaac tinha dois anos. A imagem mostrava os três juntos, sorrindo.
Ela caminhou até a pintura, abriu uma lata de tinta que estava ao lado e pegou um pincel. Com movimentos precisos, ela começou a cobrir a sua própria imagem no quadro.
Isaac rapidamente pegou um pincel pequeno e, imitando a mãe, começou a apagar sua própria figura.
— Mamãe, quando eu aprender a pintar, vou fazer quadros só para você. Eu sou muito bom, vou pintar algo muito melhor do que esse aqui!
Nina sorriu levemente e acariciou o rosto do filho.
Quando terminaram de organizar tudo, Nina fez uma ligação. Ela pediu que todo o lixo fosse recolhido, incluindo a cama onde ela e Enzo dormiram, o sofá, os utensílios de cozinha e qualquer outro item que trouxesse lembranças do passado.
Ela também jogou fora as fotos que decoravam as paredes e cobriu com tinta as marcas que Isaac havia deixado com seus rabiscos. Tudo foi descartado.
Quando o apartamento de 200 metros quadrados ficou completamente vazio, restando apenas as paredes brancas e brilhantes, Nina olhou ao redor. Nem mesmo os remédios para o estômago que ela sempre deixava prontos para Enzo estavam mais lá.
O trabalho de esvaziar o espaço levou um dia e uma noite inteira. Isaac adormeceu no chão, exausto.
Nina entrou na mansão com Isaac nos braços. Ao abrir a porta, foi recebida por uma sala tomada pelo cheiro forte de cigarro. A fumaça pairava no ar, e o cinzeiro, cheio de bitucas, denunciava o estado de inquietação de Enzo.
O rosto dele, sempre frio e impassível, agora exibia uma expressão de exaustão. Seus olhos vermelhos, cheios de vasos rompidos, pareciam acusá-la de algo antes mesmo de qualquer palavra ser dita.
Enzo, com a voz grave e carregada de frieza, quebrou o silêncio:
— Estella foi para a escola e foi vítima de bullying. Está machucada, largada na cama do dormitório, sem dinheiro nem para comprar remédio!
Enzo estava esperando por Nina. Sua postura, tensa e acusadora, era como a de um juiz prestes a condenar. O olhar frio e cortante dele a atravessava, como se ela fosse sua maior inimiga.
Nina olhou para Isaac, que dormia profundamente em seus braços. Tentando manter a calma, respondeu:
— Enzo, se você precisa falar alguma coisa, não faça isso na frente do nosso filho.
Nina deu um passo em direção à escada, determinada a evitar aquele confronto. Mas, antes que pudesse subir, Estella apareceu no topo da escada.
Estella usava uma camisola branca, com os longos cabelos cacheados caindo como uma cascata até a cintura. Seu rosto inocente estava marcado pela preocupação, e suas mãos nervosas apertavam a barra do vestido com força.
— Tia Nina, eu... eu prometo que não vou mais incomodar o tio Enzo. Por favor, não me mande embora para outro país.
Estella estava parada a alguns metros de distância, mas a escolha das palavras dela foi calculada. Ao chamá-la de "tia", a garota fazia questão de reforçar uma imagem envelhecida de Nina, como se fosse uma mulher ultrapassada e insignificante.
Os olhos cheios de lágrimas de Estella transmitiam uma falsa vulnerabilidade, enquanto ela olhava para Nina como se fosse uma vítima indefesa.
Enzo levantou-se do sofá de imediato e foi até as escadas. Ele levantou os cabelos de Estella com os dedos, revelando as marcas de dedos estampadas em sua pele delicada, resultado de um tapa cruel.
Estella, soluçando, se jogou nos braços de Enzo.
— Tia Nina, as pessoas que me maltrataram são todas do nosso próprio país. Eles disseram que receberam dinheiro de alguém para fazer isso comigo. Foi só quando você me mandou para uma escola de música de elite que eu tive certeza de que não foi você quem mandou me maltratar.
Os olhos de Enzo, antes apenas frios, agora estavam gelados como um iceberg. Ele encarou Nina, que ainda estava na base da escada.
— Nina, você pode não gostar da Estella, mas eu já deixei claro: até que ela complete 25 anos e termine o mestrado, eu vou cuidar dela até o tio dela voltar. Foi isso que prometi ao tio dela. Mas minha paciência tem limite. Eu abri mão de muita coisa, e, mesmo assim, você continua atacando a Estella.
A voz de Enzo ecoava pela sala de estar. Seu tom acusador fez Isaac se mexer nos braços de Nina. O menino abriu os olhos, confuso, mas Nina o abraçou com força e falou baixinho:
— Isaac, feche os olhos. Não ouça nada disso.
Nina respirou fundo, tentando controlar o turbilhão de emoções que a consumia. Finalmente, respondeu:
— Enzo, a Academia de Música MBK é uma das três melhores do mundo. Se houve bullying, você pode denunciar à polícia ou investigar pessoalmente. Mas não jogue isso em cima de mim.
Estella continuava chorando sem parar. Ela se ajoelhou no chão, com lágrimas escorrendo pelo rosto:
— Tia Nina, eu errei, eu sei que errei. Por favor, me desculpe. Eu só quero estudar na Cidade Kuanza, posso até ficar no alojamento. Prometo que só volto para casa um dia por mês. Não, nem isso, posso voltar só por algumas horas. Só não me mande para outro lugar. Eles vão acabar comigo lá!
As lágrimas de Estella pareciam hipnotizar Enzo. Ele a pegou nos braços, ignorando completamente Nina, e lançou um olhar cheio de fúria para ela:
— Depois conversamos no escritório. Primeiro, vou cuidar da Estella.
Nina, sem forças para continuar discutindo, subiu as escadas com Isaac, que sussurrou ao seu ouvido com a voz inocente:
— Mamãe, podemos ir embora logo do papai?
Ela acariciou as costas do filho, sentindo uma dor profunda no peito:
— Sim, meu amor. Assim que eu resolver tudo, nós vamos embora.
Nina continuou pelo corredor do segundo andar, indo em direção ao quarto de Isaac. Mas, ao passar pela porta entreaberta do quarto de Estella, algo chamou sua atenção.
Por uma pequena fresta, ela viu Enzo e Estella. Ele estava em cima dela, pressionando-a contra a cama. A mão dele estava enfiada por baixo da camisola branca dela.
O corpo de Nina congelou instantaneamente. Seus olhos, arregalados de dor e incredulidade, se fixaram na cena diante dela.
"Enzo, é assim que você cuida dela?" Pensou Nina, com a voz carregada de sofrimento ecoando apenas em sua mente.