Depois de receber alta e voltar para casa, Melissa começou a organizar tudo para sua partida. Os objetos que ela guardava em caixas de papelão eram pedaços de memórias acumuladas ao longo de muitos anos.

Entre eles, estavam as 101 cartas de amor que Melissa havia escrito para Rodrigo na época em que o perseguia. Ele, por sua vez, tinha respondido apenas três, mas Melissa as considerava seus maiores tesouros.

Havia também o crucifixo que Rodrigo tinha lhe dado de presente. Ela havia comentado que gostava do que ele usava, e, mesmo sem querer lhe dar o dele, ele mandou fazer um idêntico para ela.

O crucifixo era menor, mas, por ser uma réplica exata do dele, Melissa havia ficado radiante. No entanto, agora ela sabia que o crucifixo de Rodrigo tinha sido feito originalmente para Agatha. Melissa não queria mais algo que fosse apenas uma sombra daquilo que era de Agatha.

— Vai jogar fora o crucifixo que eu te dei?

Ao ouvir a voz de Rodrigo, Melissa levantou a cabeça, confusa. Ela não sabia quando ele havia chegado, mas lá estava ele, parado na porta, observando as coisas que ela estava jogando fora, com as sobrancelhas franzidas.

— Não quero mais — Respondeu Melissa, com tranquilidade.

— Por quê? — Rodrigo perguntou, um traço de surpresa aparecendo em seu olhar. Ele deu alguns passos na direção dela. — Por que esse drama de repente?

Melissa soltou uma risada seca. Ele nem sabia o motivo da sua raiva. Claro que não sabia. Rodrigo só tinha olhos para Agatha. Para ele, Melissa não passava de uma ferramenta conveniente para esconder o relacionamento que ele tinha com Agatha.

— Melissa, você já não é mais uma criança. Não faça birra à toa. — Rodrigo sentou-se ao lado dela. — Não jogue essas coisas fora. Foram presentes que eu te dei. Você devia cuidar bem deles. Se não gosta mais, podemos comprar algo novo. Podemos ir agora mesmo escolher outro modelo.

Ele sempre foi assim. Quando parecia que Melissa estava prestes a desistir, ele lançava um pouco de atenção para segurá-la, como se temesse que sua ferramenta escapasse.

No passado, isso sempre funcionava. Melissa acabava cedendo. E, mesmo dessa vez, ela sentiu sua determinação vacilar por um instante.

Mas então, o secretário de Rodrigo entrou abruptamente no quarto, interrompendo tudo:

— Sr. Rodrigo, temos um problema! A Sra. Agatha está em apuros!

Melissa franziu o cenho enquanto observava a reação de Rodrigo.

Pelo celular do secretário, Rodrigo viu as fotos que haviam sido vazadas na internet. Agatha estava em uma festa particular, com a roupa desarrumada, sentada no colo de um modelo enquanto se inclinava de maneira íntima para outros. As imagens eram provocativas e escandalosas.

Rodrigo ficou furioso e chocado ao mesmo tempo, mas, antes que pudesse fazer algo, o celular dele tocou. Era Agatha, chorando desesperadamente.

— Rodrigo, por favor, não acredite nessas fotos que estão circulando! Eles me drogaram! Foi uma armadilha dos meus inimigos para me destruir! Eu sou inocente!

Foram poucas palavras, mas suficientes para Rodrigo acreditar nela.

— Se ela foi drogada, não teve culpa. — Concluiu Rodrigo. Ele decidiu que precisava proteger Agatha, controlar os danos e limpar a reputação dela.

No entanto, as fotos já estavam por toda a internet, e apagá-las completamente era impossível. Rodrigo ficou em silêncio por alguns segundos, pensando, antes de se virar para Melissa:

— Vou organizar uma coletiva de imprensa agora. Você vai assumir a responsabilidade por essas fotos no lugar da Agatha. Vou dizer que a mulher nas imagens é você. Assim, podemos proteger a reputação dela.

Melissa ficou completamente paralisada. Ela não conseguia acreditar no que havia acabado de ouvir.

— A reputação da Agatha importa, mas a minha não? — Melissa perguntou, incrédula.

Rodrigo franziu a testa, impaciente:

— Meu pai acabou de falecer e ela ainda está no período de luto. Se essas fotos continuarem circulando, isso será ruim não apenas para ela, mas para toda a família Camargo. Você, por outro lado, não tem esse tipo de responsabilidade. Basta uma explicação simples e tudo será resolvido.

Melissa o encarou, incrédula, e respondeu com firmeza:

— Mas eu sou filha da família Barbosa! Fazer isso vai envergonhar meus pais!

Rodrigo suspirou, irritado e rebateu:

— Me ajude desta vez, Melissa. Eu vou compensar você. Confie em mim. Eu prometo que, no futuro, vou cuidar bem de você e faremos as coisas darem certo.

Depois de dizer isso, Rodrigo fez um sinal discreto para o secretário.

O secretário chamou dois seguranças, que agarraram Melissa pelos ombros e começaram a arrastá-la para fora. Não importava o quanto ela resistisse, eles estavam determinados a levá-la para a coletiva de imprensa.